sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

“Nunca vou me recuperar”: mãe de natimorto acusa hospital de SP de negligência médica

 

Segundo Vitória, ela pediu para fazer uma cesárea antes, mas a equipe só a levou para a cirurgia duas horas depois. Então, seu bebê nasceu morto


Vitoria ficou duas horas com Noah, já sem vida, nos braços: "Parecia que tinham me dopado"

Era a primeira gestação de Vitória Capalbo, 20 anos. Ela mal podia esperar para pegar seu bebê nos braços. Segundo a mãe, foram nove meses de uma gravidez tranquila e sem intercorrências. “Fazia o pré-natal, os ultrassons e estava tudo bem com o bebê. Nunca tive nada”, contou, em entrevista à CRESCER. Quando ela completou 40 semanas, foi orientada pelo obstetra do posto de saúde a ir a cada dois dias à maternidade do Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa, na Mooca, zona leste de São Paulo, onde teria o bebê. As visitas seriam para checar se estava tudo bem e monitorar os batimentos cardíacos do pequeno.

“No dia 17 de novembro, comecei a sentir dor. Então, ia todos os dias ao hospital”, lembra. Vitória passava pelo exame de cardiotoco (para medir os batimentos cardíacos do bebê e as contrações) e era liberada, já que estava tudo bem. Pelo exame de toque, ela ainda estava com apenas um dedo de dilatação. Até que no sábado (19) ela foi internada, porque estava prestes a completar 41 semanas e a equipe médica decidiu fazer uma indução de parto.

“À meia noite, colocaram o comprimido para indução e a dor só aumentava. Eu passei a noite toda andando pelo hospital, para ver se aliviava, mas só aumentava”, conta. Às 6h, colocaram outro comprimido e, às 9h, fizeram outro exame de toque para conferir se a dilatação havia aumentado. “Eu estava só com três dedos. Então, a bolsa rompeu. Tomei um banho de 40 minutos para ver se amenizava a dor e, depois, fui para a sala de parto”, relata.


Vitória diz que, nesse momento, já estava muito cansada e sem forças. “As médicas e enfermeiras falavam comigo e minha cabeça doía. Eu fiz força até o fim. Só pensava em ter meu menino nos braços, sentir a respiração do meu filho, ouvir o chorinho dele”, recorda. Mas a dor era muita — e o desgaste também. De acordo com o relato dela, em nenhum momento falaram de anestesia.

“Eu já estava com dor desde quinta-feira, então, nessa hora, não aguentava mais e pedi para me levarem para uma cesárea, mas disseram que não podiam, porque o bebê já estava encaixado. Queriam que eu fizesse mais força”, explica.

Pouco tempo depois, a mãe passou por outro exame de toque e a equipe viu que o bebê tinha feito cocô, o que pode indicar sofrimento fetal. Fizeram o cardiotoco e constataram que os batimentos estavam baixos, em 70 BPM (o normal é entre 110 e 160 BPM). Ainda assim, a equipe tentou seguir com o parto normal. “Depois, viram que não dava, quando o batimento já estava muito baixo”, diz. Só então, Vitória foi encaminhada para o centro cirúrgico, para uma cesárea de emergência. “O que custava fazerem antes, na hora em que eu pedi? Pedi por volta do meio-dia. Foram fazer às 13h50. Às 14h03, meu filho já não tinha mais batimentos. Falaram que tentaram reanimá-lo por 18 minutos, mas meu filho já estava morto dentro da barriga. Eu nem ouvi o choro dele”, lamenta a mãe, desesperada.

Era a primeira gestação de Vitória 

Segundo a mãe, a médica responsável pelo parto disse a ela que o bebê tinha um problema de coração, mas não explicou nada direito. No atestado de óbito, a informação que consta é anoxia neonatal [quando falta oxigênio no cérebro, que pode ter várias causas, entre elas, cardiopatias congênitas]. “Isso, para mim, foi negligência médica”, acusa.

Anestesiada, só que pela dor


Depois de tanto sofrimento, Vitória recebeu a notícia de que seu bebê, tão esperado, estava morto. “No momento em que me disseram que ele faleceu, aí, sim, a sensação era de que tinham me dopado, porque eu fiquei sem reação. Perguntaram se eu queria vê-lo. Elas o colocaram nos meus braços, fiquei duas horas com ele no colo”, lembra, emocionada. Segundo Vitória, o rosto do bebê parecia machucado.

Ela fez uma tatuagem para eternizar o filho na pele

“Em nenhum momento, explicaram o que leva a esse quadro. Não me explicaram nada. Só me deixaram lá, abandonada. Na sala de cirurgia, fizeram dois raio-x para ver se não tinham esquecido nada dentro de mim”, relata. “Fiquei muito mal, só chorava. Nunca vou me recuperar. Não quero que ninguém mais sinta a dor que estou sentindo”, acrescenta.

Agora, Vitória diz que aguarda o prontuário, previsto para ficar pronto no próximo dia 27, para tomar as providências cabíveis.

O que diz o hospital


CRESCER entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, responsável pelo Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa, que enviou uma nota sobre o caso:

“A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) lamenta o ocorrido e esclarece que a paciente V.A.C. chegou em trabalho de parto no Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa, na Mooca, no dia 20 de novembro. Seguindo o protocolo, o parto foi induzido e, devido a não evolução, a paciente foi submetida a uma cesariana, porém, o bebê nasceu sem vida, sendo encaminhado para o Serviço de Verificação de Óbito (SVO). Como é padrão em situações de óbito, o caso está sendo analisado pela direção do hospital, que segue à disposição para o que couber.”








Nenhum comentário:

Postar um comentário