sábado, 28 de janeiro de 2023

Alvo de denúncias por negligência médica, Hospital Materno Infantil enfrenta superlotação e registra mortes em Marabá, no PA

 

Ao menos cinco casos já chegaram ao Conselho Municipal de Saúde este ano.


Conselho de saúde investiga cinco denúncias de maus atendimento em Hospital de Marabá

O Conselho Municipal de Saúde em Marabá, no sudeste do Pará, já recebeu em janeiro deste ano ao menos cinco denúncias contra o Hospital Materno Infantil do município, apontando mau atendimento na unidade. As denúncia envolvem a situação de gestantes, puérperas e recém-nascidos na unidade.

Os casos são ac ompanhados também pelo Ministério Público do Pará (MPPA), pela 6ª Promotoria de Justiça. As promotorias criminais não descartam a possibilidade de crimes terem sido cometidos em atos de negligência médica.

Algumas medidas já foram tomadas, como investigar o Departamento Nacional de Auditoria do Serviço Único de Saúde (SUS), levantar informações sobre indicadores epidemiológicos relatos a óbitos e reunir com a Secretaria de Saúde de Marabá e dos municípios vizinhos, que são atendidos pela unidade.

A filha da lavradora Dalcirene Alves deu entrada no hospital no início do mês para dar à luz o segundo filho. Mas o nascimento da criança aconteceu somente cinco dias depois. A mãe, Andressa Alves, morreu após o parto.

"Fomos logo na UPA em Itupiranga, aí chegando lá o médico que atendeu ela falou que ia transferi-la para Marabá, porque não tinha condição dele fazer o parto dela. Foi na ambulância para Marabá, e ela já passando muito mal", relata.

Segundo Dalcirene, a criança já nasceu com aspecto roxa. "A minha filha chegou a me dizer: mamãe, meu menino estava para morrer".

Na certidão de óbito de Andressa, a causa da morte foi anormalidade uterina e obstrução no trabalho de parte. A família disse que vai entrar na Justiça. "Eu realmente como mãe acho que foi culpa do médico ter esperado muito", afirma.

A vendedora Jamila Carneiro viu o sonho de ser mãe se tornar um trauma, depois da morte do filho. O bebê nasceu no dia 5 de dezembro de 2022, foi transferido para o Hospital Regional e morreu dois dias após o nascimento. A declaração de óbito apontou choque cardiogênico, asfixia grave ao nascer e aspiração de mecônio.

"Me colocaram na sala de parto, o médico obstetra entrou, conversou comigo e a bolsa estourou. Ele mesmo estourou a minha bolsa".

Ela relata que o médico abriu com três dedos o colo do úteo dela, quando sentiu "uma dor insuportável". Depois disso, com a cabeça do bebê já para fora, ela teve que se levantar e andar até a sala de parto. "Falaram para eu andar com as pernas abertas".

"Só quero Justiça pelo meu filho, pelas outras mães também que já passaram pelo que eu passei, e no momento agora também está acontecendo outros casos. Isso não vai trazer nosso filho de volta, mas que haja Justiça e o hospital pague pelo o que está fazendo com a gente, que sofre muito".

O presidente do Conselho Municipal de Saúde, Diorgio Santos, afirma que entre as principais reclamações estão maus-tratos, superlotação, demora nos atendimentos. "Temos a postura de cobrar o executivo municipal, através da Secretaria Muncipal de Saúde, informações sobre os casos que chegam.

Santos informou que a maioria dos conselheiros deliberou pela solicitação de abertura de procedimento administrativo ou sindicância para apurar possíveis irregularidades.

O Hospital Materno Infantil realiza mais de 35 mil procedimentos por ano entre clínicos e cirúrgicos. A Secretaria de Saúde aponta uma alta demanda, também de outros municípios.

Monica Bochard, titular da secretaria, lamentou os fatos ocorridos. "Estivemos junto ao MP para nos ajudar. Em 2022 a gente teve mais de 2.500 partos normais e mais de 2.100 partos cesarianos, o que para um hospital como o nosso é um excedente".

"Por ser um hospital que atende toda a nossa região, então a nossa demanda é muito grande, principalmente em função dos nossos municípios nos mandarem pacientes sem regulação".


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