sábado, 21 de janeiro de 2023

Usuários reclamam de atendimento no plantão clínico do Hospital Candelária

 Morte de mulher após suposta negligência em atendimento gerou nova onda de críticas. direção do hospital foi cobrada pelo executivo


Usuários cobram melhorias no atendimento dos médicos clínicos que atuam no plantão 

O plantão 24 horas do Hospital Candelária voltou a ser alvo de reclamações da população nas redes sociais, após dois casos relatando negligência no atendimento do médico plantonista clínico virem à tona. Em um dos relatos, a paciente Marlene Teresinha dos Santos, 64 anos, buscou atendimento no plantão após sentir dores no peito, mas acabou sendo liberada sem receber o diagnóstico do médico plantonista. Instantes depois, a paciente acabou vindo a óbito após sofrer um infarto em sua residência.
A morte de Marlene revoltou os familiares em razão da suposta negligência no atendimento do médico plantonista. Conforme Gilson dos Santos, 40 anos, que é filho da vítima, por volta das 7h da manhã, a mãe estava tomando chimarrão quando sentiu dores no peito, nas costas e ânsia de vômito. “Meu pai a levou para o hospital e, ao chegar a equipe de enfermagem fez a triagem e o primeiro atendimento. Foi verificada a pressão e os batimentos cardíacos que estavam normais. Ela foi orientada a fazer um eletro onde apareceu uma alteração difusa. A enfermeira informou que o médico teria que avaliar o eletro, mas que ele não se encontrava no hospital naquele momento”, conta o familiar.


Ainda segundo o filho da vítima, o médico, identificado como Paulo Ricardo de Mello Ribeiro, estava de plantão desde a noite de sexta e supostamente estaria dormindo no horário que Marlene buscou o atendimento. A paciente e o marido foram informados pelo hospital que o médico retornaria ao plantão somente por volta do meio-dia. Conforme Gilson, a mãe recebeu uma injeção de buscopan para a dor e aguardou pelo atendimento do médico até por volta das 9h. “Como o médico ainda não havia aparecido, meu pai decidiu voltar para casa e retornar depois, pois não sabiam quando teria médico para atender”, frisa.


Ao chegar em casa, Marlene voltou a sentir fortes dores no peito e começou a ter vômito. Os familiares tentaram auxiliar com massagem e medicação para aliviar a dor. Marlene então decidiu deitar na cama. “Minutos depois meu pai achou que a mãe estava muito quieta e ao ver, notou que ela não estava respirando. Tentamos reanimar e levamos para o hospital. Aí apareceu o médico. Ele tentou reanimar, mas não tinha mais nada a fazer por que ela tinha entrado em óbito”, relata o filho.


Gilson dos Santos com a mãe, Marlene, 64 anos, que não resistiu a um infarto

“Que médicos são esses?”, questiona filho da vítima


A morte de Marlene revoltou os familiares pelo fato de o médico não ter prestado atendimento no primeiro momento em que procuraram a casa de saúde. “Se o médico tivesse feito o atendimento inicial quando ela procurou, a minha mãe poderia ter sido salva. Fomos informados pelo próprio hospital que o médico estava de plantão desde sexta e que estava no local. Infelizmente é ordem dos próprios médicos para que não sejam incomodados quando estão descansando. É um absurdo”, destaca o filho da vítima, salientando que a família está abalada. “Pedimos que se tomem providências. Que médicos são esses que estão trabalhando no plantão do hospital, que só olham a ficha que as enfermeiras passam para eles e nem analisam o paciente. Só perguntam o que a pessoa está sentindo, receitam um remédio para dor e mandam embora. Queremos que isso mude e que tenha gestão no hospital, que esteja presente quando acontece um caso destes. Não adianta a população se mobilizar se não tiver um gestor para resolver e melhorar o serviço de atendimento. Hoje foi minha mãe que perdeu a vida e amanhã pode ser outra família que vai estar chorando a perda de alguém se nada for feito”, disse.


Direção nega que tenha ocorrido negligência


Em entrevista concedida ao JC na tarde da última quarta (11), o diretor do Hospital Candelária, Aristides Feistler, negou que tenha ocorrido negligência nos atendimentos prestados na casa de saúde. Conforme o diretor, as pessoas não têm o direito de ofender os profissionais que estão trabalhando na casa de saúde. “A recepção é ofendida com palavras de baixo calão, na enfermagem, muitas vezes, as pessoas não querem aguardar alguns minutos para o atendimento e isso tem se tornado rotina. Já estamos pensando em ajuizar ações na justiça contra estas pessoas. Isso não pode ficar assim. A rede social é uma terra de ninguém onde as pessoas se sentem no direito de postar qualquer inverdade. Eu não tenho Facebook porque 90% são inutilidades que tem ali e essa é a minha posição”, frisou.


Feistler confirmou que participou de uma reunião com a secretária de saúde, Grazieli Priebe e com o prefeito em exercício, Cristiano Becker, na manhã de terça (10) no gabinete do prefeito, onde foi debatido os problemas ocorridos na casa de saúde. “Vamos trazer novos profissionais para trabalhar no município com o objetivo de melhorar e qualificar o atendimento no plantão”.


Diretor Aristides Feistler nega que tenha ocorrido negligência no atendimento médico

Sobre o caso da paciente que buscou atendimento e acabou vindo a falecer na manhã de domingo (8) após ser vítima de um infarto, Feistler afirma que o prontuário confirma que o médico realizou o atendimento. “No prontuário consta que o médico prescreveu que a paciente apresentava dor no joelho direito e dor nas costas e receitou um analgésico. Na triagem, a paciente foi atendida às 6h40 da manhã onde a pressão arterial, frequência cardíaca e saturação estavam normais. Ela ficou na sala de observação e foi pedido um eletrocardiograma. Foi feito o exame e o resultado apresentou normalidade, mas precisava ser repetido. A paciente estava se sentindo bem e preferiu não aguardar. Ela foi orientada a aguardar a reavaliação, mas optou em ir para casa. As 10h55 a paciente foi trazida por familiares com parada respiratória e cardíaca. Foi tentado manobras de ressuscitação, sem sucesso, com a paciente vindo a óbito. Foi uma fatalidade o que aconteceu, e em nenhum momento houve negligência médica ou por parte do hospital. No primeiro atendimento não apareceu sinais de ataque cardíaco e não temos como obrigar a pessoa ficar esperando se ela não estava internada”, explicou o diretor.


Familiar relata gritos de médico


Outro caso relatado nas redes sociais foi o envolvendo o agricultor Milton Soares, 73 anos, da localidade de Pinheiro, que estava passando mal e os familiares buscaram atendimento no plantão do hospital às 6h20 da manhã de segunda (9), mas o médico de plantão não estava no local.
Em entrevista ao JC, a serviços-gerais Marta Lara, 41 anos, que é nora de Soares, relata que fez a ficha do sogro na recepção e que a equipe de enfermagem efetuou o primeiro atendimento. “Esperamos por 15 minutos e nada do médico plantonista aparecer. Eu e meu namorado achamos melhor buscar um médico particular, pois o problema era sério”, relata Marta, contando que o sogro sofreu uma isquemia cerebral, e que precisou ficar internado no Hospital Candelária. Marta localizou o médico particular, que constuma atender o familiar, e no momento que estava conversando com o profissional no corredor do hospital, acabou sendo surpreendida pelo médico plantonista aos gritos com ela. “Eu estava conversando com o médico particular e o médico plantonista veio aos gritos dizendo que estava me esperando há três minutos. Pedi calma a ele e que não precisava gritar. Relatei que estávamos esperando por ele há 15 minutos e ele não estava. O médico entrou na sala das enfermeiras e me olhou dizendo que não iria mais nos atender. Eu agradeci e disse que não precisava, pois iríamos pagar particular pelo atendimento”, relatou ela.


Marta Lara relatou que médico plantonista não quis atender seu sogro que havia sofrido uma isquemia cerebral

CONTRAPONTO Questionado sobre o fato de o médico plantonista ter gritado com a familiar de um paciente, o diretor Aristides Feistler informou que já conversou com o profissional para se inteirar sobre o ocorrido. “Vamos fazer uma reunião de diretoria nesta semana e avaliar o caso. Quando o médico não é satisfatório, a gente pede a substituição”, adiantou o diretor do hospital.


Hospital é cobrado em reunião


As reclamações nas redes sociais sobre o atendimento do plantão clínico do hospital levou o prefeito em exercício, Cristiano Becker, a convocar uma reunião, realizada na manhã dessa terça (10), no gabinete do prefeito com a participação da secretária de Saúde, Grazieli Priebe e do diretor geral de Saúde, Júlio Steffanello, com o presidente do hospital e médico, Romi Avila Hugo e o diretor do Hospital Candelária, Aristides Feistler.

MAIS DE 4 MILHÕES/ANO  O prefeito em exercício Cristiano Becker informou que o município repassa anualmente para a casa de saúde recursos de aproximadamente R$ 4,5 milhões para auxiliar no custeio do plantão. “Mesmo que se trate de uma entidade privada, o município tem o direito e o dever de cobrar da direção a excelência na aplicação dos recursos e no atendimento à população”, frisou Becker. Os gestores do hospital relataram a dificuldade em encontrar médicos e que alguns profissionais chegam a cumprir plantão de até 36 horas nos finais de semana em razão da falta de profissionais, gerando uma sobrecarga de trabalho. “Para tentar solucionar o problema a secretaria da Saúde do município se propôs a auxiliar a administração hospitalar no sentido de buscar soluções para tornar o plantão mais efetivo, com grades diferenciadas de forma a não sobrecarregar o profissional plantonista”. O prefeito em exercício pediu que os problemas fossem resolvidos o mais breve possível.


Em reunião, prefeito em exercício, Cristiano Becker, cobrou melhorias no atendimento para a direção do hospital

Saiba mais


>> Os plantões funcionam diariamente com turno de 12 horas, o revezamento dos médicos é às 7h e 19h.
>> Aos finais de semana, alguns médicos plantonistas, principalmente aqueles que residem em outras cidades, têm feito mais de um plantão, que inicia sábado pela manhã e vai até o início da noite de domingo, chegando a cumprir 36 horas.
>> Médicos plantonistas têm espaço para descanso no hospital, com o profissional fazendo o intervalo em horários sem maior demanda.







Nenhum comentário:

Postar um comentário