A Polícia Civil investiga relato de duas famílias sobre suposta negligência que teria ocorrido em partos realizados no Hospital de Alvorada, na Região Metropolitana, no início de janeiro. Até o momento, dois boletins de ocorrência foram registrados. No último dia 15, um protesto contra a instituição reuniu 12 famílias.
Conforme a polícia, as mortes de dois recém-nascidos aconteceram no dia 9 de janeiro. Para avançar no inquérito, a delegada Samieh Bahjat Saleh, titular da 1ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana de Alvorada (DPPA), aguarda pelo retorno dos laudos de necropsia por parte do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
— É um caso muito delicado. Esperamos o retorno do IGP quanto aos laudos e, a partir daí, vamos definir os próximos passos —explicou.
Uma das mortes registradas é de Laura, que nasceu no dia 8, e foi a óbito no dia seguinte. O pai, Lucas da Fonseca Penteado, 22 anos, relata que a esposa começou a sentir dores e contrações no dia 7, um sábado. O casal decidiu ir ao hospital, onde exames foram realizados. Às 2h de domingo (8), os dois voltaram para casa, porque os médicos não teriam diagnosticado nenhuma complicação na gestação. Mas as dores retornaram poucas horas depois, e eles rumaram novamente ao hospital.
— Levaram ela (esposa) para a cesárea de emergência, porque o quadro se reverteu em poucas horas e ficou crítico. O bebê tinha feito cocô dentro da barriga dela e ingerido mecônio (matéria fecal estéril verde escura produzida pelos intestinos antes do nascimento). Foi para a UTI, mas não tinha o medicamento que ela precisava — afirma Lucas.
Laura nasceu no dia 8, às 12h42min, e veio a óbito no dia seguinte, às 17h20min. O pai da menina afirma que a esposa realizou todas as consultas durante o pré-natal. Lucas ainda está incrédulo com o que aconteceu.
— Estava tudo perfeito. A gente não acreditou porque era impossível isso.
No mesmo período, outra família lamentava o falecimento do filho. Vitória de Souza Gilli, 21 anos, deu à luz a Arthur no dia 1º de janeiro. Segundo o relato da mãe, o parto foi complicado, em uma cesárea de emergência, pois o menino apresentava baixos batimentos cardíacos.
— Não me deixaram chamar ninguém, a enfermeira disse para eu escolher entre o meu filho e um acompanhante. Na hora da cirurgia, a anestesia não havia feito efeito completo. Eu senti uma dor horrível no corte — relatou Vitória.
Quando Arthur nasceu, a mãe afirma que viu o menino por pouco tempo, já em estado grave, com uma coloração roxa e sem chorar. Ele foi encaminhado direto para Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Ainda de acordo com o relato de Vitória, o pequeno permaneceu internado por oito dias e, no dia 9, teve uma parada cardiorrespiratória, causando a morte.
Procurada por GZH, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que realizará reunião com a maternidade do Hospital de Alvorada e com o município nos próximos dias. Em nota, a pasta afirmou que o objetivo do encontro é avaliar a situação e definir estratégias para a qualificação da assistência e a redução dos óbitos evitáveis.
A secretaria afirmou que o Departamento de Atenção Primária e Políticas de Saúde (DAPPS) realiza o monitoramento e analisa os casos de óbitos de recém-nascidos registrados em Alvorada, que está entre as 10 cidades do RS com maiores taxas de mortalidade infantil.
O que diz o hospital
A reportagem entrou em contato com o Hospital de Alvorada, que se manifestou por meio de nota a respeito dos dois casos. Sobre a situação da menina Laura, a instituição disse que a paciente foi avaliada no sábado e liberada, pois não estava em trabalho de parto e o bebê estava estável. Exames foram realizados para avaliar o bem-estar fetal e não havia sofrimento fetal ou indicação de cesariana de urgência.
Ainda de acordo com o hospital, no domingo, quando a família voltou para a instituição, o bebê não estava bem e então foi indicada a cesárea. Na nota, o hospital afirma que o pior aconteceu em decorrência de sofrimento fetal diagnosticado naquele momento.
Quanto ao caso de Arthur, o hospital afirmou que a gestante recebeu o atendimento adequado da equipe de obstetrícia, com o uso de recursos diagnósticos e terapêuticos necessários. Ressalta ainda que foi constatado sofrimento fetal agudo, houve necessidade de parto cesáreo de urgência. E que o recém-nascido apresentou complicações pulmonares graves.
Por fim, a instituição afirma que não se evidenciou qualquer sinal de negligência nos atendimentos à gestante ou ao seu filho.
Confira as notas do hospital na íntegra
Sobre o caso da menina Laura:
O Hospital de Alvorada informa que a paciente foi avaliada no sábado e liberada, pois não estava em trabalho de parto e o bebê estava estável. Exames foram realizados para avaliar o bem estar fetal e não havia sofrimento fetal ou indicação de cesariana de urgência .A paciente, de acordo com as informações do pré-natal, era de baixo risco e não apresentava nenhuma comorbidade. No domingo, quando foi novamente ao hospital, o bebê não estava bem e então foi indicada para a cesárea. Infelizmente, o pior aconteceu em decorrência de sofrimento fetal diagnosticado naquele momento. Tanto a paciente e o bebê receberam assistência adequada no sábado quando procurou o hospital, porém o desfecho foi ruim, situação que pode ocorrer em decorrência da gravidade. O hospital e toda a equipe médica se solidariza com a dor dos familiares.
Sobre o caso do menino Arthur:
O Hospital de Alvorada informa que a gestante em questão recebeu atendimento adequado pela nossa equipe de obstetrícia. Atestamos que os recursos diagnósticos e terapêuticos necessários foram disponibilizados.
Em decorrência de sofrimento fetal agudo, houve necessidade de parto cesáreo de urgência. O recém-nascido apresentou complicações pulmonares graves.
A despeito de todos os recursos médicos empregados, em ambiente de terapia intensiva, infelizmente o bebê apresentou o pior desfecho. Não se evidenciou qualquer sinal de negligência nos atendimentos à gestante ou ao seu filho.
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