“Ela faleceu praticamente nos meus braços", relata Jéssica Santos. Atestado de óbito informa que criança de 8 meses foi vítima de pneumonia e choque séptico
Laura tinha 8 meses e morreu após sofrer choque séptico na UPA de Sarzedo. Família alega que houve negligência médica |
A mãe da menina Laura – uma bebê de apenas 8 meses que morreu vítima de pneumonia e choque séptico, no último dia 11, dentro da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Sarzedo, na região metropolitana de BH – luta para provar que sua única filha foi vítima de uma sequência de erros médicos dentro do único pronto-socorro da cidade.
A esteticista Jéssica Patrícia Silva Santos, de 31 anos, viu Laurinha morrer em seus braços mesmo após ter procurado atendimento por três vezes, entre os dias 7 e 11 de março. Apesar da evolução dos sintomas de infecção, que incluíram prostração, febre alta, falta de ar e diarreia, a mulher afirma que a criança foi mandada de volta para casa duas vezes sem ser submetida a qualquer exame de sangue ou de imagem. Segundo Jéssica, um raio-x só foi feito no dia 11, minutos antes de Laura entrar em choque séptico.
Mãe descreve sequência de negligências
Em entrevista ao jornal O TEMPO, Jéssica deu detalhes dos dias de desespero que viveu em busca do diagnóstico, que chegou tarde demais. “No dia 7, eu estive na UPA de Sarzedo e fui atendida por uma médica. Minha filha estava com febre e coçando o ouvido. Foi diagnosticada com infecção de garganta. Como ela estava com febre, aplicaram dipirona, passaram receita (de antibiótico) e fomos liberadas para casa”, recorda.
Jéssica explica que, embora tenha medicado a filha com o antibiótico prescrito, a febre não cedia. “Eu aguardei as 72 horas para retornar, devido à orientação de que era preciso esperar o antibiótico fazer efeito”, lembra a mãe da criança.
“No dia 10, retornei (à UPA) com a Laura de madrugada. Ela estava com muita febre, prostração, diarreia. Foi atendida por outra médica, que disse que eu precisava esperar o remédio fazer efeito. Ela foi diagnosticada com bronquiolite. Acrescentou na receita a bombinha de salbutamol”, relata Jéssica. Novamente, segundo a mãe, a menina foi liberada para casa sem que nenhum exame de sangue ou de imagem tenha sido feito.
Menos de 24 horas depois, no entanto, o quadro de Laura piorou muito, como conta a mãe da bebê. “Ela estava muito prostrada e com dificuldade para respirar. Na hora que eu entrei na sala de triagem, ela já foi encaminhada para a sala de emergência. Já começaram uma correria e a dar remédio. A saturação dela estava muito baixa e, nesse momento fizeram raio-x e exame de sangue. O raio-x chegou e o médico falou que era pneumonia e que tinha se alastrado por todo o pulmão direito”, conta a mãe.
“Ele já veio com a medicação, mas fiquei segurando ela para aguardar o tratamento. Ela estava no meu colo, deu um choque séptico no meu colo”, descreve.
Jéssica ainda se lembra com detalhes dos últimos instantes da menina. “Ela faleceu praticamente nos meus braços. Olhou no meu olho, com olhar de sofrimento e de dor, deu uma risadinha e virou os olhos. Naquele momento ela não voltou mais”, descreve.
Mãe exige respostas
A mãe de Laura quer respostas, mas diz que, até o momento, os médicos não conseguiram explicar por que não pediram exames necessários para diagnosticar corretamente a criança. “Já conversei com os diretores da UPA, com a Secretaria de Saúde e até com a vice-prefeita. Eles não dão explicação. A Laura era uma menina saudável. E uma dor que eu não consigo explicar. Eu quero respostas”, desabafa a mãe.
Polícia Civil investiga o caso
Na segunda-feira, Jéssica deve prestar depoimento à Polícia Civil, que abriu inquérito para apurar o caso. Segundo nota da corporação, “foi instaurado um procedimento pela Delegacia de Polícia Civil em Sarzedo, com realização de diligências, requisição e avaliação de laudos de atendimento para apurar a causa e circunstâncias da morte do bebê”.
O que diz a Prefeitura de Sarzedo
Por outro lado, a Prefeitura de Sarzedo informou, em nota, manifestar "o mais profundo pesar pelo falecimento da criança. A Secretaria Municipal de Saúde/Direção da Unidade, abriu sindicância interna e trabalha na apuração dos fatos. Afastou profissionais envolvidos e colabora no processo de investigação do inquérito instaurado pela Polícia Civil", declarou.
A administração municipal afirmou ainda que "presta toda assistência necessária à família da criança e aguarda a conclusão das investigações policiais para tomar as providências cabíveis".
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