quarta-feira, 20 de julho de 2022

Paciente de Franca, SP, acusa dermatologista de erro médico em cirurgia para retirar excesso de pele das pálpebras

 

Segundo mulher, olho esquerdo chegou a cair do globo ocular após procedimento realizado no consultório dele. Caso é investigado na Polícia Civil como lesão corporal grave e foi denunciado ao Cremesp.


Mulher de Franca (SP) passou por blefaroplastia, mas diz ter ficado com sequelas por causa de complicações 

Uma designer de sobrancelhas de 49 anos acusa um dermatologista de Franca (SP) de erro médico durante um procedimento de blefaroplastia, que é a cirurgia para retirar o excesso de pele das pálpebras.

Segundo a paciente, um dos olhos dela chegou a cair do globo ocular após a cirurgia. A mulher perdeu parte da visão.

Um boletim de ocorrência foi registrado como lesão corporal grave e, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), é investigado pela Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Franca.

No início de julho, a paciente também denunciou o caso ao Conselho Regional Medicina Estado São Paulo (Cremesp). A defesa dela entrou com um pedido de instauração de processo ético-profissional.

Procurado pelo g1, o Conselho informou que a denúncia foi protocolada e as investigações tramitam sob sigilo determinado por lei.

De acordo com Márcio de Freitas Cunha, advogado da vítima, não foram solicitados exames pré-operatórios e a mulher teve complicações graves durante e depois do procedimento.

Cirurgia no consultório


Nesta segunda-feira (18), o g1 teve acesso à denúncia feita ao Cremesp pela defesa da designer de sobrancelhas.

Insatisfeita com a aparência dos olhos, em fevereiro deste ano, a mulher escolheu fazer o procedimento com o médico Ricardo Bovo Junqueira por confiar nele, uma vez que era paciente dele e ele, cliente dela. O valor cobrado pela blefaroplastia foi de R$ 2,5 mil.

A mulher mostra uma troca de conversas por aplicativo de mensagens antes da cirurgia, quando o dermatologista afirma que o valor dispensava custos com anestesia e sala cirúrgica.

"Inclui a cirurgia, os curativos na clínica e um laser pós-operatório. Melhor que fazer em hospital porque não tem que pagar anestesia e nem sala cirúrgica", diz a mensagem.

A paciente diz que chegou a cotar a cirurgia com outros especialistas, mas resolveu fazer com Junqueira em consideração à amizade.

Em troca de mensagens, dermatologista e paciente falam sobre blefaroplastia

Dor "fora do normal"


A cirurgia foi marcada para a manhã do dia 10 de fevereiro. Antes disso, a paciente conta que não teve nenhuma orientação quanto a exames pré-operatórios.

O primeiro olho a passar pelo procedimento foi o direito, com uso de anestesia local. Quando o médico foi operar o olho esquerdo, no entanto, também com o mesmo tipo de anestésico, começaram as dores.

A paciente diz que a dor era "fora do normal" e que percebeu um barulho interno que pareceu o "estouro de um pneu de caminhão", além de uma pressão muito forte que começava no ouvido e seguia para a cabeça.

Segundo a designer, ela avisou o médico sobre o que estava sentindo, mas recebeu um reforço de anestesia dentro do ouvido, o que teria intensificado a dor.

A cirurgia, que teria uma hora e meia de duração aproximadamente, demorou quase duas horas a mais que o previsto. Ela seria liberada, inicialmente, por volta das 12h30, mas só conseguiu ir para casa por volta das 14h.

Paciente teve hematomas após ser submetida a cirurgia para retirar excesso de pele nas pálpebras em Franca, SP

Olho para fora do globo


Já em casa, a designer de sobrancelhas relata que continuou a sentir dor e que teve sangramento. A filha dela, de 29 anos, chegou a entrar em contato com a secretária do médico, mas foi informada de que a reação era normal.

Pouco depois, a filha percebeu o olho esquerdo da mãe cair.

"Minha filha percebeu que meu olho caiu pra baixo. Ela falou que eu comecei a gritar, que estava com dor e não estava enxergando. Meu olho foi pra baixo, lá pra bochecha".

Agoniada, a filha chamou a avó, de 68 anos, para cuidar da designer, enquanto insistia no contato com o consultório para saber o que fazer com a mãe.

Atendimento no fim da agenda


A família voltou à clínica por volta das 17h, mas o dermatologista só atendeu a designer por volta das 20h, pois, segundo a secretária, a agenda de pacientes estava cheia.

"[A secretária] falou que o consultório estava cheio de paciente pra ele atender e mandou as assistentes comigo na sala fazendo compressa e ele foi atender os pacientes até 19h30. Acabou o último paciente, 19h40 me colocou numa outra sala e começou a mexer em mim de novo, uma segunda cirurgia".

Ainda segundo a paciente, por volta das 21h, o médico avisou a família que um cirurgião plástico e uma oftalmologista iriam chegar para ajudá-lo.

Um dos médicos, segundo a paciente, chegou a dizer a Junqueira que não havia mais nada que pudesse ser feito no consultório. Só depois disso, o dermatologista teria avisado a família de que ela seria transferida para um hospital.

Cirurgia de correção no hospital


Levada ao Hospital São Joaquim, a mulher foi submetida a uma correção cirúrgica de fissura palpebral. Para o procedimento, recebeu anestesia geral. Segundo o prontuário médico, ela sofreu um hematoma pós-blefarosplastia.

Após a cirurgia de correção, em contato com o médico dermatologista, a filha da paciente recebeu a informação de que a mãe não havia sido operada, mas sim passado por exames.

A médica que passou a acompanhar a paciente detectou lesões no olho esquerdo e perda parcial da visão.

Laudos de exames feitos por oftalmologistas até o fim do primeiro semestre atestam sequelas em razão do procedimento inicial, como neuropatia óptica isquêmica, que é uma lesão do nervo óptico causada pela interrupção do fluxo sanguíneo.

Com a visão prejudicada, a paciente não consegue visualizar detalhes, não tem o mesmo senso periférico, tornou-se insegura, abalada psicologicamente e teve a autoestima ainda mais prejudicada por causa das deformidades causadas aos olhos.

Tentativa de negociação


Ainda em recuperação, a paciente afirma que tentou uma reparação amigável com o médico pelos danos causados, mas Junqueira não teria demonstrado interesse.

Ao negar o acordo, Junqueira alegou que o problema foi causado por deficiência de vitamina K no organismo da paciente e aconselhou que ela procurasse um hematologista.

Não houve erro profissional


Advogado de defesa de Roberto Bovo Junqueira, Marlo Russo disse ao g1 que o cliente ainda não foi procurado nem pelo Cremesp e nem pela Polícia Civil, mas negou que tenha havido erro médico durante o procedimento.

"Não houve, da parte dele, nenhum erro profissional. O que houve, nesse caso, foi uma intercorrência pós-cirúrgica por motivos que deverão ser investigados. Não foi um acidente cirúrgico, não houve um erro profissional, mas no pós-cirúgico ela teve algumas intercorrências", afirmou.







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