quarta-feira, 13 de julho de 2022

Um estupro em hospital a cada duas semanas: eis a triste realidade do Rio

 Em sete anos, 177 abusos sexuais foram registrados em unidades de saúde - 80 na capital; São João de Meriti, onde anestesista foi preso, é 5ª do ranking 

Estupros: anestesista Giovanni Quintella é investigado pela polícia por pelo menos três crimes. TV Globo/Reprodução 

O caso do médico Giovanni Quintella Bezerra, preso em flagrante na noite do último domingo (10), durante um plantão em um hospital público de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, após ter sido filmado estuprando uma gestante anestesiada por ele, chocou a opinião pública. E choca ainda mais descobrir o que revelam dados do Instituto de Segurança Pública (ISP): entre 2015 e 2021, foram computados no estado do Rio 177 casos de estupro em “hospital, clínicas ou similares”. Na prática, é como se uma pessoa fosse abusada em uma unidade de saúde do Rio a cada duas semanas, nos últimos sete anos. Os dados foram obtidos pelo jornal O Globo, via Lei de Acesso à Informação. 

O próprio Giovanni é investigado por outros crimes similares. Só no dia do flagrante, a polícia apura o envolvimento dele em outros dois estupros.  Nesta segunda (11), outra mulher atendida pelo anestesista dia 6, sua mãe e o acompanhante de uma outra possível vítima foram ouvidos pelos agentes. As mulheres contam que tinham no rosto o que possivelmente eram resíduos do sêmem do médico. No caso do procedimento filmado pela equipe de enfermagem do hospital, que levou à prisão do médico, ele utilizou um material, como gaze, para limpar a boca da paciente, e descartou o material em uma lixeira do próprio centro cirúrgico. Este material foi recolhido pelos enfermeiros e entregue à polícia. “A mesma equipe de enfermagem, que fez um trabalho brilhante, digno de todos os elogios, também recolheu frascos de substâncias que foram ministradas à vítima, possivelmente para que o crime fosse cometido”, afirmou a delegada Bárbara Lomba, que investiga do caso. 

A cidade do Rio responde por 80 das 177 ocorrências de estupro (45,2% do total), seguida por Niterói (18 casos) e Duque de Caxias (12), cidade vizinha a São João de Meriti.  Com seis estupros em hospitais, sem considerar o episódio mais recente, o município onde Giovanni foi preso ocupa a quinta posição na lista, empatado com São Gonçalo, que tem mais do dobro de população.

Pouco mais da metade das ocorrências (90) compiladas pelo ISP de 2015 a 2021 dizem respeito a estupros de vulnerável, crime pelo qual o anestesista foi autuado em flagrante. 
A definição vale tanto para vítimas menores de 14 anos, independentemente de eventual anuência, quanto para alvos considerados incapazes de se defender — por problemas de saúde ou sob influência de substâncias como álcool, drogas ou sedativos, por exemplo. Do total, 37 ocorrências foram contra crianças de no máximo 13 anos, e outras dez contra adolescentes de 14 a 17 anos. Houve ainda cinco casos em que as vítimas eram idosos de 60 anos ou mais.  O levantamento também aponta que 86% dos abusados em ambientes hospitalares são mulheres, com 147 ocorrências. Em 24, as vítimas eram homens, enquanto em outras seis o campo “gênero” consta como “sem informação”. 







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