segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Indiciada por lesão corporal gravíssima médica suspeita de dar superdosagem a paciente que ficou em estado vegetativo no RS

 

Alexandre Moraes de Lara tinha 28 anos quando recebeu dose 10 vezes maior de medicamento para tratar problema cardíaco. Defesa de Erika Bastos Schluter diz que médica foi induzida ao erro.


Médica é suspeita de dar superdosagem a paciente que ficou em estado vegetativo no RS


A Polícia Civil indiciou, no dia 24 de janeiro, uma médica por lesão corporal gravíssima em suposto erro médico de superdosagem de medicamento que deixou o jovem Alexandre Moraes de Lara em estado vegetativo em um hospital de Porto Alegre. O caso foi remetido ao Ministério Público, que pediu investigações complementares antes de analisar o inquérito.

O indiciamento de Erika Bastos Schluter foi por ação culposa, quando há negligência, imprudência ou imperícia. A médica foi afastada do Hospital Humaniza logo após o caso. O advogado Flávio de Lia Pires não concorda com o resultado do inquérito e diz que a cliente foi induzida ao erro.

"Quando ela viu que foi alertada que seriam 20 comprimidos, ela foi ao sistema do hospital pra ver se realmente a dosagem que estava sendo fornecida era de 30 gramas, e lá ela constatou que era 30 gramas. Por isso foi feita aplicação dessa forma. A falha é totalmente do hospital ou do sistema, se for um sistema terceirizado, da farmácia do hospital", afirma.

A direção do Hospital Humaniza diz, em nota, que o caso ocorreu na administração anterior, que os profissionais envolvidos não trabalham mais na unidade e que presta suporte ao paciente. Leia a nota abaixo.

Alexandre tinha 28 anos quando deu entrada no hospital para tratar um problema cardíaco. No entanto, em vez de receber dois comprimidos de propafenona, o paciente recebeu 20 – 10 vezes mais. O remédio, indicado para controlar batimentos do coração, acabou provocando uma parada cardiorrespiratória. Um laudo assinado por um médico contratado pela família afirma que o estado vegetativo de Alexandre tem grande potencial de ser permanente.

A família de Alexandre entrou com um processo contra o Hospital Humaniza e segue aguardando uma indenização para cobrir despesas com o tratamento. O caso dele é considerado irreversível.

"O Alexandre tá vivo, mas, ao mesmo tempo, a gente vive um luto, porque é outra pessoa. Não é mais o Alexandre que a gente conhecia", lamenta a esposa, Gabrielle Gonçalves Bressiani.

Alexandre Moraes de Lara, de 28 anos, antes e depois de superdosagem em hospital de Porto Alegre

Investigação


A polícia investigou o caso e apontou, como responsável pelo erro, a médica plantonista que atendeu Alexandre.

"Todas as provas levaram a responsabilização dela porque ela era a médica responsável neste momento. Pela lei, como ela é uma profissional, uma técnica, ela teria teria obrigação de se informar sobre – eu sempre digo que nós não sabemos tudo, mas nós temos que ir atrás para saber daquilo que não entendemos – se ela tinha certeza ou não daquela posologia", diz a delegada Carla Kuhn.

Os comprimidos estavam cadastrados na farmácia do hospital na dosagem de 30 miligramas, e não 300, como é o correto. Durante a investigação, a delegada ouviu farmacêuticos, enfermeiros e técnicos que atenderam Alexandre, mas eles não foram responsabilizados.

"O enfermeiro, inclusive, que estava de plantão no momento dos fatos, quando buscou na farmácia esse remédio, ele conversou com ela e falou: 'olha, doutora, tem uma quantidade exagerada aqui'. Mas parece que houve uma tentativa de falar com o 'cardio', mas que não obteve êxito. Então, dentro disso, ela determinou que se aplicasse aquela medicação toda no paciente", relata a delegada.

Na conclusão do inquérito, a delegada também apontou falhas nos processos administrativos que envolvem o cadastro dos medicamentos na farmácia do hospital. Ela recomendou ao Ministério Público que solicite uma auditoria na instituição.

Entrada do Hospital Humaniza, em Porto Alegre

Relembre


O caso ocorreu em outubro de 2021. A esposa de Alexandre estava junto dele quando foi aplicada a superdosagem da medicação. Ela disse ter questionado o técnico de enfermagem, que confirmou a dosagem, indicada por uma médica. Pouco depois, o rapaz passou mal.

Segundo a família, o médico cardiologista deu a receita correta, e o primeiro erro aconteceu na farmácia do hospital.

"A farmácia, na hora de cadastrar o medicamento, cadastrou errado. Ao invés de cadastrar como 30 miligramas, que era o correto, cadastrou como 300 miligramas. Então, ao invés de tomar os dois comprimidos que ele deveria, ele tomou 20 comprimidos", disse Gabrielle.

Um prontuário assinado pelo diretor-executivo do hospital apontou o erro da equipe. Segundo o documento, "a medicação dispensada pela farmácia do hospital era divergente da dosagem registrada no sistema e da prescrição médica". O médico indicou 600 miligramas ao paciente, mas o hospital deu 6 mil miligramas.

A família ainda reclamou do atendimento de urgência oferecido pelo hospital. Segundo o tio, Luciano Pacheco Martins, a equipe demorou mais de cinco minutos para socorrer Alexandre.

"A médica não sabia orientar os enfermeiros ou técnicos do procedimento, se tinha que fazer intubação, se não tinha. O equipamento para respirar que eles foram utilizar estava faltando uma peça, então não deu para utilizar, ajudou a faltar oxigênio. O medicamento, que era adrenalina, que tinha que ser dado, não foi dado no tempo adequado", relatou.

Gabrielle recorda que o marido era ativo fisicamente e que gostava de surfar e ir à academia. Ela, que estava grávida na época do ocorrido, diz que Alexandre não entende quando vê a filha.

"Eu estava grávida de três meses quando aconteceu. Agora eu levo a Sara, filha dele, ali para vê-lo, mas ele não entende nada", contou, emocionada, em 2022.

Nota do Hospital Humaniza:


"O Hospital se solidariza e vem apoiando o Alexandre e a família. Informa que o evento ocorreu na administração anterior. Porém, esclarece que tomou ciência nesta data da conclusão do inquérito policial, que é um relatório que a delegacia envia ao Ministério Público para que requeira o arquivamento, novas diligências ou proponha uma ação penal. Por outro lado o Hospital informa que os profissionais relacionados ao caso não trabalham mais na unidade. O Hospital continua prestando todo suporte ao paciente."






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