quarta-feira, 4 de abril de 2018

CEI da Saúde investiga falta de insumos em Cais onde trabalhava pediatra que morreu por suspeita de H1N1, em Goiânia

Segundo relator, médico denunciou que materiais como máscaras e luvas só chegaram à unidade após óbito do profissional. SMS diz que ainda não foi notificada, mas que aumentou envio de materiais para unidades de saúde.

Luiz Sérgio morreu por suspeita de contaminação por H1N1 (Foto: Reprodução/Facebook

A Comissão Especial de Inquérito (CEI) que apura irregularidades na saúde pública em Goiânia cobrou informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) sobre a suposta falta de insumos básicos no Cais do Setor Campinas. Em meio ao surgimento de casos de gripe H1N1 no estado, o relator, vereador Elias Vaz (PSB), disse que recebeu denúncia de um médico que a compra de materiais como máscaras, luvas e álcool em gel só foram adquiridos após a morte do pediatra Luiz Sérgio de Aquino Moura, de 57 anos - que trabalhava na unidade - sob suspeita de contaminação pela doença.

Em nota enviada ao G1, a SMS informou que ainda não foi notificada da decisão e que quando isso ocorrer, "enviará todas as informações dentro do prazo estabelecido pela lei orgânica do município".

O órgão destaca ainda que mantém regularmente o envio de insumos para as unidades de saúde e que neste período com mais notificações de doenças respiratórias, "aumentou o envio de objetos para as unidades" e reforçou com a empresa que cuida da reposição de álcool em gel e sabão que "mantenha os recipientes continuamente abastecidos".

O requerimento foi aprovado durante sessão na segunda-feira (2). Segundo Vaz, o intuito é saber se no período entre os dias 17 e 31 de março a unidade possuía itens necessários na prevenção da H1N1.
 
Na denúncia, conforme o parlamentar, o médico salienta que Luiz Sérgio, que morreu no último domingo (1º), e outros profissionais do Cais de Campinas não tinham acesso a tais materiais, mesmo tratando de pacientes com a doença.

"Ele [médico denunciante] reclamava que, no domingo, é que chegou material importantíssimo, luvas, máscaras, [álcool] gel, sabão, material para impedir que as pessoas que estão tratando dos doentes desse vírus pudessem ser contaminadas", pontua.

O vereador destaca que vai cobrar providências da SMS sobre o caso e que o mesmo pedido deve ser feito para outras unidades de saúde. Ele diz que houve negligência por parte do órgão.
"É um material básico, não é caro. Isso seria mais uma negligência. É lamentável que chegue a esse ponto, de perder a vida de pessoas por falta de insumos tão básicos e baratos, que mostra mais um problema de gestão dessa administração", critica.
 
Suspeita de H1N1

A família do pediatra, que estava internado no Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), acredita que ele possa ter sido contaminado por H1N1 por conta do contato com pacientes sem equipamento de proteção.

“A gente suspeita que foi por falta de máscara, luvas que ele pegou. Os médicos disseram que ele estava com suspeita de H1N1, mas nada confirmado. Os hospitais não ofereciam os equipamentos e ele ficou exposto”, disse o filho dele, Heitor Teixeira, 22 anos.

A SMS já havia informado que já estava sendo realizada “a investigação epidemiológica para saber as causas da morte".

Se for confirmada a morte dele por H1N1, será a terceira causada pela doença em Goiás neste ano. O estado está em situação de alerta com 32 casos confirmados.

CEI da Saúde

A CEI da Saúde foi instaurada na Câmara dos Vereadores em setembro do ano passado para apurar denúncias de irregularidades no serviço em Goiânia. A atuação foi dividida em duas frentes: uma relacionada a denúncias de superfaturamento em contratos e outra de como o atendimento é prestado ao cidadão.

Um dos primeiros itens a ser investigados foi se médicos contratados para atuar na Central de Regulação, responsável por liberar vagas de UTI na rede pública, não estariam trabalhando. Durante visita à unidade, havia diferença entre a quantidade de profissionais existentes e aqueles que deveriam estar atuando.

Outra situação contratual que motivou apuração foi o pagamento de mais de R$ 100 mil feito pela SMS para o mestrado de duas servidoras. O intuito é saber se o desembolso é legal e quais critérios foram utilizados.

Os veículos usados pela SMS também são alvos de investigação da CEI. A denúncia é que eram feitos pedidos para trocas de peças, mas o serviço não era realizado. Uma única ambulância gastou quase R$ 90 mil em manutenção no período de um ano e meio.

Mortes e UTI

Outra linha de atuação da CEI é a disponibilidade de vagas de UTI, em Goiás. Um levantamento apontou que 43% dos leitos ficaram vagos em 2017. A taxa é quatro vezes menor do que o recomendado pelo Ministério da Saúde, que apontaria no máximo 10% de desocupação.

Diante da situação, os vereadores pediram à polícia que investigue casos de pacientes que morreram por falta de UTI, mesmo com quase a metade dos leitos disponíveis.

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