domingo, 29 de dezembro de 2019

Paciente morre na UPA de Ourinhos após tomar injeção de Benzetacil

Mãe chegou a denunciar e vai processar médico que prestou atendimento e o acusa de negligência


Na terça-feira, 24, véspera de Natal, Silas Antônio Mantovani Gonçalves, 53 anos, foi até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) em Ourinhos para ser atendido por uma inflamação no joelho. A consulta resultou em uma aplicação da injeção Benzetacil que pode ter levado o paciente a óbito instantaneamente.

O QUE DIZ A FAMÍLIA – Conversamos com familiares que informaram que Silas já era uma pessoa debilitada, de baixa imunidade e com artrose severa, tanto que os dedos das mãos já eram todos atrofiados.

Posteriormente, surgiu uma inflamação no joelho que estava incomodando o paciente desde o sábado, 21, mas ele resistia em procurar um médico.

Da esquerda para direita: Silvana Mantovani (irmã), Jessica Mantovani
(sobrinha) e Antonia Mantovani (mãe).

Silas acabou indo até o UPA de tanta insistência da família. Agora, até a mãe se sente culpada pela morte do filho.

A família acabou registrando um Boletim de Ocorrência.

PROCEDIMENTO NA UPA – Antônia Mantovani, mãe de Silas, diz que no momento da consulta, o médico plantonista Dr. Sérgio Gandra, que foi citado no Boletim de Ocorrência, perguntou a eles se o paciente era alérgico a algum remédio e Antônia disse que não sabiam. “O médico não se importou com a minha fala, fez a receita e levou ele para a sala de aplicação, avisou que seria a Benzetacil e, em questão de minutos, ele cambaleou pedindo socorro. Não sei se ele faleceu ali na cadeira ou na sala de emergência, onde levaram ele”, conta a mãe.

Jéssica Mantovani é sobrinha de Silas: “Fomos à UPA na esperança de sair melhor de lá e hoje minha vó se culpa por ter levado ele até o local. Mas o responsável é esse sistema de saúde que nós temos que trata todos da mesma forma, sem olhar para a necessidade de cada um. É uma falta de humanização”, esbraveja a sobrinha.

ÓBITO E LIBERAÇÃO DO CORPO – Para liberar o corpo, Silvana Mantovani, irmã do falecido, foi assinar os papeis. Neste momento um enfermeiro perguntou se gostaria de conversar com o médico e ela aceitou. “Cheguei no médico e perguntei para ele se não havia outro tratamento a ser feito e ele me disse assim: queria que a senhora entendesse que as pessoas morrem aqui na UPA, não morrem em uma igreja ou em uma festa, morrem na UPA. E foi uma fatalidade o que aconteceu. Mas enxergando por outro ângulo um médico tem várias possibilidades de ajudar um paciente. E ele poderia ter dado um tratamento alternativo ao ver como era a situação de saúde do meu irmão”, reclama Silvana.

PROCESSO – Indignados, familiares garantem que iniciarão um processo contra a UPA em busca de justiça, para que isto não ocorra com outras pessoas. E ninguém mais sinta o que eles estão sentindo com a perda de uma pessoa considerada amável, que ajudava a todos sem pensar, ajudou a criar os sobrinhos, trabalhador e outras qualidades.

PALAVRA DE UM PROFISSIONAL – A reportagem ouviu um médico de Ourinhos que, com sua experiência profissional, explicou sobre o teste da Benzetacil.

“Antigamente, a Benzetacil podia ser feita em qualquer lugar. Hoje, somente em Postos de Saúde ou UPAs, como foi o caso, pois estes locais têm condições de reverter uma situação dessas. Já vi casos de pacientes ter tomado Benzetacil diversas vezes e apresentar alergia depois, vi pessoas apresentar alergia no teste e vi pacientes falecer no momento de realizar o teste, pois o choque anafilático foi tão forte que ele não resistiu. Tive casos de pacientes que tomaram Benzetacil, tiveram reação e conseguimos reverter, portanto, é relativo, vai de organismo para organismo, do nível de sensibilidade de cada um. Tem pacientes que não tinham alergia e passaram a ter pelo fato de o organismo ter passado por um processo de envelhecimento, ou por uso constante de outras medicações”, esclarece o médico.
O profissional garante que todas as UPAs estão perfeitamente preparadas para socorrer nesses casos, mas tem certos momentos, que nem o melhor médico, nem os melhores recursos conseguem reverter.
ENFERMAGEM DA UPA – Conversamos com Maria Cecília Jorge Farinha, enfermeira da UPA em Ourinhos, que tentou localizar Dr. Sérgio Gandra, sem sucesso. Segundo ela, o teste da Benzetacil foi abolido e não se faz há muitos anos. “Se a pessoa é realmente alérgica ao medicamento não tem o que fazer, porque a ação da droga é muita rápida. Tanto que nem fazem mais testes cutâneos, pois quem não pode com o remédio vai a óbito durante o teste com uma gota mínima aplicada sobre a pele. E isto acontece de 5.000 a 10.000 vezes nas pessoas, é risco em potencial do medicamento. Não tem culpado, se você for picado por uma abelha e for sensível ao veneno dela, morre antes de chegar ao Pronto Socorro”, disse a profissional.
OUTRO LADO – Nossa equipe tentou de todas as formas localizar o Dr. Sérgio Gandra, médico que atendeu Silas na UPA e está sendo citado no Boletim de Ocorrência registrado pela família. Porém, não tivemos sucesso.

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