Durante internação no mês de novembro de 2019, Bruna foi descrita como “chorosa” e recebeu indicação de que precisava de acompanhamento psiquiátrico |
Estância Velha – Da realização do maior sonho a um fim precoce. Assim foram os últimos meses de vida da cabeleireira estanciense Bruna Marcela Bonifácio, que inaugurou seu tão esperado salão de beleza em outubro de 2019, mas um câncer acabou levando a jovem à morte em fevereiro, aos 29 anos. De acordo com a família, a triste história poderia ter sido evitada, caso ela tivesse recebido tratamento médico adequado. Familiares denunciaram um caso de negligência do sistema de saúde de Estância Velha, que tratava como problema psiquiátrico as dores sentidas por Bruna, enquanto um tumor se espalhava dentro de seu corpo.
Documentos obtidos com exclusividade pelo Diário comprovam os encaminhamentos a um médico psiquiatra, além de medicação com morfina para aliviar o sofrimento da cabeleireira. O quadro tratado no hospital de Estância Velha revelava que ela era descrita como “chorosa”, e relatos dos familiares dão conta de que a equipe médica afirmava que Bruna não tinha câncer, mesmo com mais de seis meses de sangramento e sem a devida investigação.
Início dos sintomas
De acordo com as irmãs Michele e Daiane Bonifácio, além da mãe Celeste dos Santos Lopes, há mais de dois anos a estanciense sentia dores nas costas, próxima a linha da cintura. Consultas médicas indicaram que o fato dela ser cabeleireira era a possível causa do desconforto. Sendo assim, desde então, ela passou a tomar frequentemente medicamentos para conviver com isso.
Com o passar dos anos, as dores aumentaram e ela começou a ter sangramentos vaginais frequentes. Durante os seus últimos meses de vida, as visitas ao Hospital Getúlio Vargas se tornaram ainda mais recorrentes. Em julho de 2019, Bruna fez um exame de ultrassonografia que não diagnosticava nenhuma gravidada no quadro, sugerindo apenas a possível presença de um pólipo – uma pequena saliência no útero, que pode resultar em sangramentos fora do período menstrual.
Aproximadamente dois meses depois, uma segunda ultrassonografia foi realizada, em que se constatou que o ovário esquerdo apresentava volume além do habitual, com presença de um cisto com aspecto funcional – que também não representaria gravidade. Os meses passavam e a saúde de Bruna piorava, com o agravamento das dores e continuação dos sangramentos. Em novembro, durante uma internação no Hospital Getúlio Vargas, ela foi adjetivada como “chorosa” e passou a receber orientações para consultas psiquiátricas.
Evolução do quadro
Após internações em que recebia fortes medicações, seguidas de breves altas médicas, o quadro de Bruna se agravou e ela precisou ser internada logo nos primeiros dias de janeiro. Uma cirurgia para retirada do útero foi marcada para o dia 24 do mesmo mês, ainda sem a constatação do câncer. Em 27 de janeiro sua saúde piorou e, finalmente, uma ressonância magnética foi feita. O mais indesejado diagnóstico foi confirmado: seu estado de saúde era gravíssimo, com um câncer que tomava conta de boa parte do colo uterino, já tendo se espalhado para as trompas, o canal vaginal e a vagina, não adiantando mais a realização da cirurgia.
Iniciou-se uma espera para a transferência ao Hospital Regina, em Novo Hamburgo, que veio apenas na sexta-feira, 31 de janeiro, mas para a realização de um exame. Na casa de saúde hamburguense, Bruna voltou a passar mal e teve de ser internada com urgência para tratamento da doença, mas já era tarde demais. Outros órgãos foram comprometidos após meses de injeções de morfina em seu organismo e ela acabou falecendo, aos 29 anos, no dia 11 de fevereiro – 15 dias após ter sido diagnosticada com o tumor.
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