sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Pacientes no chão e superlotação revelam quadro estarrecedor dentro do HGE

Pessoas agonizam em busca de atendimento e são jogadas pelo Estado para outras unidades em Alagoas

Pacientes agonizam por atendimento no Hospital Geral do Estado

As imagens reproduzidas nesta matéria jornalística denunciam e revelam o dia a dia do sofrimento de pacientes que agonizam em busca de atendimento nos corredores e macas do Hospital Geral do Estado (HGE). As fotos, que não têm espaço nas redes sociais do governo Renan Filho e na Alagoas criada e fantasiada pelo marqueteiro pessoal do governador, escancaram o abismo entre o sofrimento dos pacientes e uma dura realidade que não tem espaço nas propagandas milionárias do governo. 

As imagens, ignoradas nas redes sociais oficiais, revelam a situação terrível com a qual a população mais carente se deparada dentro do HGE, com pacientes recebendo medicação no chão e outros aguardando à porta de consultórios por uma consulta que não tem, sequer, hora para acontecer. Acompanhantes de pacientes também ficam no chão enquanto aguardam por um atendimento. Os pacientes reconhecem a dedicação dos funcionários (médicos e enfermeiras) que tentam minimizar o sofrimento frente ao tamanho cenário de terror. Apesar da dedicação, os servidores não conseguem fazer mais por falta de condições de trabalho. 

Os profissionais que trabalham no HGE encaram com muita dedicação a missão diária de salvar vidas. Muitos deles até adoecem por não conseguir fazer mais. Há alguns dias, por exemplo, houve registro que o sistema de refrigeração quebrou, mais uma vez, na área verde da enfermaria e nas alas D e C. Especialistas da Saúde alertam que este tipo de situação aumenta e muito o risco de infecção e coloca em risco a vida dos pacientes que estão à espera de procedimentos ou de transferências. Salas para cirurgias, que deveriam estar em pleno funcionando, apresentam problemas e estão fechadas, deixando pacientes à espera de intervenções. 

Centro cirúrgico com problema no Hospital Geral do Estado, segundo médicos

Os trabalhadores se queixam que o drama é grave e que, portanto, é preciso fazer algo para salvar a vida da população. As denúncias que chegaram à Gazeta revelam, ainda, que pacientes que precisam de procedimentos ortopédicos estão vagando de unidade para unidade em busca de procedimentos cirúrgicos, que não estão sendo realizados pelo Estado. Em dezembro de 2019, uma operação desbaratou um esquema criminoso que atuava dentro do HGE com a convivência de servidores de alto escalão da Secretaria de Saúde justamente nessa área, expôs a polícia. O rombo aos cofres públicos pode chegar a R$ 30 milhões. Parentes do vice-governador, Luciano Barbosa, foram presos na operação Florence Dama da Lâmpada. 

O drama da saúde pública de Alagoas é real e não tem espaço na mídia publicitária do governo de Alagoas. Abaixo, a reportagem reproduz na íntegra o desabafo que chegou de uma filha que está com o pai internado há dias no HGE. 

"Minha gente, pelo amor de Deus, alguém faça alguma coisa para mudar essa situação. Estou com meu pai enfartado, precisando urgente de um cateterismo e angioplastia, deitado numa maca, numa sala de urgência que mais parece um depósito de gente, falta até água para beber, os médicos e enfermeiros trabalhando feito doidos, fazendo o impossível para ajudar os pacientes. Isso é uma falta de respeito com a condição humana! O que se faz com o dinheiro público? Esses políticos não têm um pingo de consciência? Como eles conseguem dormir e viver a vida deles sabendo do caos que está na saúde pública? Como esse povo consegue ser indiferente e não fazer absolutamente nada para mudar isso? Não têm uma gota de dignidade e compaixão com o ser humano! Ainda têm a cara de pau de investir milhões em propagandas mentirosas e ridículas mostrando uma realidade que nem de longe pertence a do estado de Alagoas. Ministério público, Defensoria Pública, cadê vocês pelo amor de Deus? [sic]", reagiu a filha de um paciente em denúncia enviada à Gazetaweb.

OAB, MPE E DEFENSORIA RECONHECEM DRAMA NO HGE

Diante das recorrentes denúncias que atestam o quadro de terror e de descaso no HGE, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL), Ministério Público (MPE) e a Defensoria Pública (DPE) pressionam o governo do estado por uma solução rápida para o drama que os pacientes estão enfrentando. Sobre a quebra recorrente do sistema de refrigeração, o MPE abriu um procedimento para investigar as denúncias. O órgão informou que algumas requisições já foram feitas à Secretaria de Saúde e que espera retorno. Nessa semana que passou, o 26ª Promotoria de Justiça realizou uma reunião com o secretário estadual de Saúde e o diretor do HGE, do CREMAL e do Sindicato dos Médicos, além de fazer uma fiscalização "in loco" no hospital. 

O MPE também tem procedimento aberto com a finalidade de acompanhar e fiscalizar o HGE com relação a cirurgias ortopédicas. À Secretaria Estadual de Saúde já foram requisitadas informações a respeito do fato, bem como respostas sobre o tratamento que está sendo ofertado aos pacientes. Nessa sexta-feira (7), a Defensoria Pública realizou uma fiscalização no HGE e constatou que as áreas de cardiologia e cirurgias ortopédicas, em alguns procedimentos, estão suspensas ou sendo executados em leitos de retaguarda fora da Instituição, quando antes eram realizadas na unidade de saúde. O defensor público cobrou, mais uma vez, celeridade nas transferências de pacientes com câncer, que se encontram internados em leitos do HGE. 

"Estamos muito preocupados e iremos acompanhar de perto as áreas de cardiologia, por exemplo no tocante ao quantitativo de stents, insuficiente para os casos que não sejam infarto agudo do miocárdio e também as cirurgias ortopédicas chamadas de "segundo tempo", em que controlam os danos imediatos, como fraturas expostas, mas depois têm de encaminhar para os leitos de retaguarda em outros locais, como Coruripe, Santa Casa, Veredas e isso gera alguma demora", destacou Fabrício Souto.

CRISE NA SAÚDE É MARCA DO GOVERNO RENAN FILHO

Não é de hoje que a população alagoana vive um quadro de descaso na saúde pública do estado. Como exemplo desse sintoma crônico que afeta os alagoanos, destaca-se a reprovação das contas da Secretaria de Saúde do governo Renan Filho que, desde 2015, nunca conseguiram ser aprovadas no Conselho Estadual de Saúde. Os integrantes do colegiado avaliam como crítica a qualidade dos serviços prestados à sociedade na média e alta complexidade - como é o caso do Hospital Geral do Estado (HGE), da Maternidade Escola Santa Mônica e na Ortopedia. 

"Em Ortopedia, por exemplo, Alagoas foi campeã em amputação. A gente tem uma saúde em crise. Como a gente vai aprovar um relatório desse? O plano de Oncologia está um caos. Uma mulher não consegue fazer um exame de mama, que é uma coisa simples, porque é uma burocracia enorme. Esse plano vem se arrastando há anos. Você tem uma rede completamente debilitada e ineficaz. Os municípios do interior estão sem receber recursos suficientes para a manutenção da atenção básica, e os serviços de média e alta complexidade estão capengas", lamenta Francisco Mata, integrante titular do conselho estadual de Saúde. 

HGE CONFIRMA PROBLEMAS

Sobre as fotos que retratam a denúncia do HGE, a unidade reconheceu os problemas no sistema de refrigeração, como também as salas cirúrgicas que estão fechadas, atrasando a realização de cirurgias no hospital. "Todos os aparelhos de ar-condicionado nas enfermarias das alas C e D da Área Verde estão em pleno funcionamento". Sobre pacientes e acompanhantes no chão, respondeu que "eles são acomodados em cadeiras, macas e camas, conforme a necessidade do doente". 

Sobre os acompanhantes, "informou que novas poltronas reclináveis e novas cadeiras fixas com braços já foram distribuídas nos últimos 15 dias para os acompanhantes. Já sobre as salas cirúrgicas, o HGE disse que das 10 salas destinadas à cirurgia, três delas estão manutenção. Com relação a demora nos procedimentos ortopédicos, o  HGE disse que realiza todos os cuidados para estabilizar o doente. "E as cirurgias de segundo tempo, quando necessárias, são realizadas pelo hospital conveniado pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesau) para oferecer os cuidados complementares". 

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