terça-feira, 30 de novembro de 2021

Mãe de rapaz que morreu por suposto erro médico em Campos faz desabafo

ENTREVISTA/ CASO IURI – Fernanda Gomes revela ao Campos 24 Horas como tudo aconteceu, a dor e a luta para levantar provas



Passados quase oito anos da morte do jovem Fernando Iuri Chagas Rangel, 19 anos, o sentimento de Fernanda Chagas, de 45 anos, é de uma mãe que amarga a dor da perda trágica, mas embalada pela vitória na Justiça que pode servir de exemplo para que outros casos como o que vitimou seu filho não se sucedam. Iuri, 19 anos, servia no 8º Batalhão de Infantaria e morreu após uma cirurgia na clavícula em 2013. Na semana passada, o juiz da 1ª Vara Criminal de Campos acatou a denúncia do Ministério Público (MPRJ), e os médicos Paulo Cesar Mota Rocha (cirurgião), Luís Bernardo Vital Bogado (anestesista) e Hugo Manhães Areas irão a juri popular (Aqui). Também foi denunciado o médico Rocklane Viana Areas, mas em relação a este houve a suspensão condicional do processo.  Os oito anos da morte trágica do jovem se completam no próximo dia 26/12. Desde então, o período das festas no Natal nunca mais foi igual para Fernanda, que conversou com a reportagem do Campos 24 Horas em tom de desabafo. Ela conta como foi desde o início das investigações e agradece a policiais, delegado, promotor e juiz. "Tenho sonhado com o Iuri, e num destes sonhos ele me disse. "Mãe, acho que fizeram alguma coisa errada comigo". (leia a matéria completa abaixo)

Iuri fraturou a clavícula num acidente de moto, tendo recebido, inicialmente, atendimento no Hospital Ferreira Machado(HFM). Como ele tinha dois planos de saúde (um do Exército e outro da Unimed), foi transferido para um hospital da rede particular, onde foi submetido a uma cirurgia, durante a qual teve sérias complicações, resultando em óbito. 

UMA DOR EMBALADA PELA VITÓRIA – “O meu sentimento hoje é de dor, mas uma dor embalada pela vitória e por trazer à população uma forma de conter este tipo de prática de alguns médicos. E para que a ganância não se sobreponha às vidas. A medicina não pode ser como um comércio, ali há uma vida. De certa forma, isso acalenta meu coração” .

NÃO FOI IMPERÍCIA – “O caso não foi de imperícia, eles sabiam o que estavam fazendo. Não se preocuparam com o resultado, que foi a perda de uma vida. Talvez pela certeza da impunidade. Seria um óbito a mais”.

VALEU A PENA LUTAR - “Nunca pensei em desistir, jamais. Mas sabia que ia encontrar dificuldades nesta luta porque muitas pessoas diziam que aquilo não iria dar em nada. Muitos casos não deram em nada porque outras mães desistiram de lutar. Porque o juiz podia não aceitar ou desqualificar a denúncia do Ministério Público”. 

TEMPO DA JUSTIÇA - “Eu tive impulsos momentâneos de reagir e vingar a morte do meu filho. Mas na batalha de cada dia aprendi a aguardar os trâmites da Justiça de forma civilizada e avisei a eles (os médicos) que a vida do meu filho que eles tiraram não iria ficar em vão, por mais que eles tentassem escamotear a verdade, alegando que nada havia de errado”.

SEM PAZ PARA O LUTO – “Minha dor foi maior do a de qualquer outra mãe porque não tive paz para guardar meu luto.  Logo tive que ir à luta nessa batalha para comprovar que mataram meu filho”.

DOLO – “A história destes casos quase sempre termina com médicos sempre respondendo por culpa, nunca por dolo, em razão da falta de provas. O promotor de Justiça Fabiano Rangel Moreira que atuou no caso disse que este foi um caso raro (crime doloso). Conseguimos reunir provas de que eles sabiam o risco que estavam correndo. Eles sabem fazer o certo. Mas não fizeram por ganância atendendo vários pacientes ao mesmo tempo”.  

DECEPÇÃO COM O CFM – Minha decepção foi com o Conselho Federal de Medicina (CFM) que não tomou providência alguma com relação ao caso. Mas a Justiça, a Polícia, o Ministério Público e mídia cumpriram sua parte. Outros irão pensar duas vezes antes de práticas crimes como esses que vitimou meu filho. 

CERTEZA DA IMPUNIDADE - Além da ganância, eles são influentes e poderosos. Tinham a certeza da impunidade, por isso correram o risco. Para eles, a morte do Iuri seria um prontuário a mais que iria a óbito.

CONVERSA COM O FILHO - Tenho sonhado com o Iuri, e num destes sonhos ele me disse. "Mãe, acho que fizeram alguma coisa errada comigo".

ELOGIOS - Contei com o apoio de amigos que me apoiaram muito nesta batalha. Tenho que enaltecer o Ministério Público, através do promotor Fabiano Moreira, louvar o trabalho do delegado Geraldo Rangel, dos inspetores Thiago Lannes e Mariana. Porque o trabalho policial é, às vezes esquecido, mas quero destacar o apoio, o empenho e a dedicação deles.

JURI - Eles vão recorrer, vamos aguardar a decisão do júri popular, mas só com o prejuízo moral e financeiro que tiveram já estão pagando em parte pelo que fizeram.

“O risco de depressão respiratória do meu filho durante e cirurgia não foi amenizado ou contido por nenhuma outra prática médica, demonstrando não se importar com a vida alheia e unicamente interessado no proveito financeiro das suas três anestesias simultâneas e particulares”, diz a denúncia referindo-se a Luis Bernardo. 

Para conseguir provas de que realmente seu filho não teve o pronto atendimento devido, Fernanda Chagas contou com a ajuda, principalmente, de funcionários do hospital onde houve o procedimento cirúrgico, que relataram que existiam câmeras em diferentes ambientes do hospital, inclusive, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Fernanda explica que, a partir desta informação, começou outra luta, a de conseguir as imagens. Para isso, explica, precisou ir ao hospital inúmeras vezes. 

- Quando meu filho veio a óbito, a gente começou a receber muitas ligações e mensagens dizendo que foi um erro do hospital e da equipe médica, que estava ausente e em outra cirurgia. Todo o hospital informando que o que fizeram com meu filho foi uma barbaridade, uma barbeiragem. Daí, no dia 3 de janeiro a gente foi à delegacia, fez a queixa crime, foi aberto inquérito e começou a investigação. Eu fiz manifestações quase que diárias exigindo as imagens que iam provar a ausência do anestesista e a ausência do cirurgião que era o responsável e que terceirizou, mandou outro fazer a cirurgia, porque ele estava em outra sala, por ganância, quantidade de cirurgias, sem cumprir a responsabilidade que foi delegada para ele. Eu confiei a saúde do meu filho a ele. Eu acompanhei no MP, quando a gente recebeu a notícia da denúncia que o MP apurou e comprovou a culpa deles – explicou a mãe de Iuri. 







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