domingo, 20 de fevereiro de 2022

Morte de menino que recebeu quatro anestesias em hospital de Manicoré completa um ano

 

Segundo a prefeitura de Manicoré, não houve erro médico. Polícia Civil e Ministério Público levaram o caso para a Justiça, mas o processo está sob sigilo.


Saimon, de 6 anos 

Um ano após a morte do menino Saimon Gabriel Freitas Neri da Costa, aos 6 anos, familiares ainda seguem clamando por justiça. O garotou morreu em fevereiro após receber quatro anestesias para enfaixar um braço fraturado, no Hospital Dr. Hamilton Cidade, em Manicorédistante 331 quilômetros de Manaus.

Na época, a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), a Polícia Civil e o Ministério Público do Estado (MPE-AM) abriram procedimentos para investigar o caso. Até o momento, ninguém foi indiciado.

  • A Secretaria de Saúde de Manicoré informou que abriu um processo administrativo para investigar o caso, e não constatou erro médico. Por conta disso, decidiu não indiciar o médico Samir Amade, responsável pelo procedimento.
  • A Polícia Civil afirmou que concluiu o inquérito e o remeteu à Justiça;
  • O MPE disse que acompanha o caso na Justiça, mas destacou que o processo está sob sigilo.

Em entrevista ao g1, o pai da criança, Jailson Costa afirmou que além da tristeza, a família ainda diz ser obrigada a conviver com a dor da impunidade.

"Nós sentimos muito a falta do nosso filho, só Deus para ajudar a gente. Porque ninguém faz nada, ninguém foi penalizado", afirmou o pai da criança.

O médico Samir Mamede, responsável pelo atendimento de Saimon, chegou a ser afastado de suas funções após a morte do garoto, mas voltou atender nos postos de saúde do município, depois de uma apuração interna ter concluído que ele não havia cometido erro médico. O g1 entrou em contato com Samir, e aguarda posicionamento.

Segundo o Portal da Transparência, o médico continua sendo contratado da prefeitura, e ganha R$27 mil por mês.

Jailson conta ninguém da família procura atendimento nos hospitais. "Espero que um dia a Justiça seja feita. Ninguém aqui de casa nunca mais foi em um hospital depois que isso aconteceu, mesmo quando ficamos doentes", contou.

Entenda o caso


O caso teve início no dia 18 de fevereiro de 2021, quando Saimon fraturou o braço, após sofrer um acidente de moto, e foi levado ao Hospital Dr. Hamilton Cidade.

De acordo com Jailson, na ocasião, os médicos lhe comunicaram que a criança passaria por procedimentos cirúrgicos apenas em Manaus, já que o município não contava com o aparato necessário para realizar a intervenção.

"No sábado (dia 20 de fevereiro de 2021), eles avisaram que íamos para Manaus, e pediram que a gente o levasse ao hospital, porque o meu filho precisaria tomar uma anestesia. Os médicos falaram que isso era necessário para que ele não sentisse dor, caso o avião balançasse, durante a viagem", relembrou o pai.

A mãe do menino, Sandy Freitas, acompanhou Saimon e, na época, contou os detalhes sobre os últimos momentos do filho, em entrevista ao g1.

"Eu tinha ido pegar água para o meu marido, quando vi que eles levavam o meu filho na maca. E aí ele gritou por mim: 'Mamãe, mamãe!'. Eu pedi para ele se acalmar que era o procedimento para ajeitar o bracinho dele e que logo ele estaria de volta. Pedi para o médico deixar eu entrar na sala de procedimentos para acalmar meu filho e ele permitiu", contou.

Em seguida, segundo a mãe, o médico aplicou três anestesias locais antes de enfaixar o menino. No entanto, ao ver que a criança continuava acordada e sentindo dor, teria aplicado uma quarta anestesia, geral. A mãe, que continuava na sala de procedimentos, disse que começou a prestar atenção nos sinais vitais da criança.

"Vi o pezinho dele ficar branco, branco. Depois toquei no coração dele, senti ficando fraco e quando eu falei para o médico, ele verificou que a boca dele estava ficando roxa e aí começou a fazer uma massagem para tentar reanimá-lo", relatou.

Investigações


Em nota, a Semsa informou que abriu o processo administrativo Disciplinar nº 01/2021, para apurar o caso, mas não foram encontrados elementos que comprovassem o erro médico. Além disso, a secretária afirmou que o falecimento da criança se deu em virtude reação anafilática decorrente da medicação Midazolam, que, de acordo com a pasta, pode ocorrer em qualquer pessoa.

A Semsa também disse que o processo foi conduzido de forma transparente e coerente, apesar do "clamor popular e da atenção midiática". E que por não haver provas suficientes ou nem mesmo indícios de que houve erro médico por parte do servidor denunciado, não havia motivos para indiciar o médico Samir Amadde.

Por meio da assessoria de imprensa, a Polícia Civil informou que um inquérito policial foi instaurado para apurar o caso, e que o procedimento foi concluído e remetido à Justiça, dentro do prazo legal.

MPE informou que instaurou notícia de fato sobre o assunto pra verificar se a delegacia tinha iniciado a investigação, e requereu ao Hospital Dr. Hamilton Cidade que toda a documentação para a delegacia de polícia fosse apresentada em Juízo, após a perícia técnica da Polícia Civil de Manaus relatar falhas nos dados disponibilizados pela unidade de saúde.

Por fim, o MPAM informou que o processo segue em segredo de Justiça





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