Paciente estava internada com Covid-19. Hospital afirma que o fato de ela ter escorregado na maca não interferiu no quadro clínico. Caso é investigado pela polícia.
Filho relata que mãe morreu dias após cair de maca e denuncia negligência de hospital
A família da professora aposentada Maria Marques Cardoso Leite, de 54 anos, denuncia que ela morreu após episódios de negligência do hospital em que esteve internada para se tratar da Covid-19, em Goiânia. Filho da paciente, o engenheiro Whemerson Josiel Cardoso Leite, de 29 anos, disse que a mãe estava se recuperando da doença quando sofreu uma queda – que só foi informada à família dias depois – e começou a piorar.
Por e-mail, a unidade de saúde explicou que "dentro do que foi investigado, inclusive com exames, dentro do Hospital do Rim, o episódio de ela ter escorregado na maca não gerou interferência no quadro clínico da paciente".
Sobre não ter informado a família imediatamente, a unidade de saúde alegou que, "como não se tratava de nada que pudesse comprometer o andamento e o resultado do tratamento, o Hospital do Rim optou por não deslocar a família até a unidade para falar do ocorrido em momento anterior, limitando-se a informá-la quando e se houvesse qualquer alteração importante no caso".
Whemerson perdeu a mãe no último dia 9 de dezembro. Ele afirma que a causa da morte ainda não ficou clara e procura entender o que de fato aconteceu com ela.
Segundo o filho, a queda aconteceu durante uma tomografia realizada no dia 28 de novembro. Porém, o acidente só foi informado à família no dia 4 de dezembro, quando os parentes foram chamados para serem atualizados sobre o estado de saúde dela.
“A impressão que me deram é que estavam com esperança de sair aquele roxo superficial para mandá-la para casa para ela falecer em casa. Não dá para saber ainda se ela morreu em decorrência dessa queda, mas, com certeza, o hospital foi negligente", desabafou.
Goiânia e família suspeita de negligência
De acordo com o hospital, "a paciente escorregou, tendo sido amparada pelo médico anestesista", quando uma das rodas da maca foi danificada, durante ajuste do nível da mesma. A unidade de saúde detalhou que Maria bateu o rosto no tomógrafo, mas que "foi feita uma nova tomografia para verificar se havia acontecido algum dano em razão da queda, o que foi descartado pelo exame".
A situação foi registrada na Polícia Civil, que investiga o caso. O G1 tentou contato, nesta quarta-feira (16), com o delegado responsável pela investigação e aguarda retorno.
Denúncia
Whemerson contou que a mãe foi internada no Hospital do Rim com Covid-19 em 24 de outubro. A escolha da unidade de saúde foi feita, de acordo com o filho, porque a paciente recebeu um rim por transplante no início deste ano.
“Como ela estava tomando imunossupressores, a doença evoluiu muito rápido nela. No dia 1º [de novembro], ela já estava na UTI”, recordou.
O Hospital do Rim detalhou que a paciente chegou "com 50% dos pulmões comprometidos, índice que aumentou para 80% em nove dias".
O filho relatou que, de acordo com o médico, formou-se um coágulo de sangue durante o procedimento de traqueostomia – realizado no dia 16 de novembro, o que acabou causando uma parada cardíaca por falta de oxigenação, mas que logo ela foi reanimada.
“Ela teve um AVC [acidente vascular cerebral] no outro dia que, segundo o médico, pode ter sido causado por esse procedimento de reanimação. Ela foi para outro hospital para passar por avaliação neurológica, os médicos avaliaram que não era caso cirúrgico e que ela não ficaria com sequelas”, contou Whemerson.
Na volta para o Hospital do Rim, no dia 25 de novembro, o filho, que acompanhava a paciente na ambulância, disse que chegaram por uma entrada estranha, onde havia vários objetos entulhados, que a sonda de urina dela acabou presa em um desses itens e foi arrancada.
“Na hora, os maqueiros e médico disseram que ela não tinha se machucado”, comentou.
Sobre esse local, o Hospital do Rim informou que o local é um galpão coberto, "não sendo utilizado regularmente para atender ao público em geral, mas que, com a demanda motivada pela pandemia da Covid-19, passou a ser usado também como para entrada e saída de pacientes de ambulâncias para não haver cruzamento de fluxo".
neurológica nela, segundo o filho
Whemerson contou que a mãe parecia estar melhorando conforme os boletins médicos e conversas diárias que ele tinha com os médicos - já que as visitas presenciais estavam suspensas.
“No boletim sempre aparecia que ela estava sedada, com sonolência, teve PCR negativo para Covid-19. Até que no dia 28 apareceu que ela estava em coma. Eu questionei o médico, e ele disse que era uma questão de terminologia, que o quadro dela não havia mudado”, contou.
O filho disse que, no dia 4 de dezembro, a família foi chamada ao hospital para conversar com os médicos sobre a situação de Maria.
“Fiquei até assustado, porque achei que ela estava melhorando. Nossa igreja toda em oração. A gente tinha muita esperança”, contou.
O engenheiro disse que ficou surpreso ao ouvir dos médicos que precisava arrumar um homecare, porque o quadro dela já era irreversível.
“Na hora, eu fiquei muito abalado e pedi para ver minha mãe. Quando a vi, ela estava com um galo na cabeça, a lateral do rosto toda roxa e com hematomas no quadril e nas pernas também. Fiquei em choque. Foi quando me falaram que ela tinha sofrido uma queda no dia 28, bem no dia que eu vi pelo boletim que ela começou a piorar”, afirmou.
Sobre os hematomas, a unidade de saúde afirmou que são comuns porque a paciente "fazia uso constante de anticoagulantes, que têm como um dos efeitos colaterais a grande suscetibilidade a hematomas, os chamados 'roxos' na superfície da pele".
Whemerson contou que pediu transferência para outro hospital e que ela foi levada no dia seguinte.
O Hospital do Rim disse que, quando a paciente saiu da unidade, "o quadro era grave, em coma e instável, tendo inclusive sendo contraindicado pela equipe médica a multiprofissional a transferência".
O filho contou que, no novo hospital, exames mostraram que todos os órgãos dela estavam bem, mas que ela teve uma hemorragia cerebral, a qual, provavelmente, foi causada por um trauma.
“Os exames mostraram que ela estava com edema maligno. No dia 8, já me chamaram para dizer que ela teve morte cerebral. Eles iam começar os protocolos de morte cerebral, em que fazem uns exames, mas no dia 9 ela teve uma parada cardíaca”, disse.
O filho disse que o corpo da mãe foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) e examinado. A família aguarda o resultado do laudo para saber exatamente a causa da morte.
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