sábado, 31 de julho de 2021

Alma Preta: ‘Me vi desamparada e humilhada’, diz mãe negra e HIV+ vítima de preconceito em maternidade de São Paulo

 

A mãe Jéssica, junto de seu companheiro André e sua bebê Agnes

Uma mãe negra, que vive com HIV, acusa o Hospital Maternidade Estadual Leonor Mendes de Barros, da Zona Leste de São Paulo, de negligência. Jessica Carolina de Oliveira, 29,  recebeu o diagnóstico de HIV há 12 anos e está indetectável há seis. Segundo ela, os profissionais da maternidade não respeitaram seus pedidos de receber a medicação que impediria sua bebê de ser infectada e foi submetida à uma cesárea mesmo tendo condições de um parto natural.

Em virtude da denúncia, a deputada estadual Erica Malunguinho e a co-vereadora Carolina Iara, ambas dos PSOL, disponibilizaram apoio jurídico à mãe.

Tudo começou no dia 28 de março, às 9h, quando Jéssica chegou à maternidade com a bolsa rompida. A mãe conta que escolheu o hospital Leonor Mendes de Barros justamente pelos relatos de bom atendimento às mulheres HIV+ e seus bebês.

“Logo na triagem eu falei que eu sou soropositiva e que a minha medicação estava com meu companheiro. O antirretroviral AZT é essencial para que, mesmo em trabalho de parto, a bebê não seja exposta ao HIV. Eu precisava tomar esse remédio na veia desde que a bolsa rompeu, por um período de quatro horas, pelo menos. E na triagem mesmo foi ignorada a minha informação, tanto o que eu disse sobre o AZT quanto ao outro medicamento que interrompe a lactação”, relata Jéssica.

A mãe conta que aguardou por quatro horas por atendimento na recepção após a triagem, enquanto perdia líquido. O exame de toque, comumente feito em mulheres prestes a dar à luz, também não foi realizado até então, segundo ela.

Por volta das 13h, Jéssica foi atendida apenas com o exame de toque quando lhe disseram que teria um parto cesárea, fato que ela contestou, pois havia se preparado para ter a filha de forma natural. De acordo com ela, orientada a aguardar, o exame para verificar os batimentos cardíacos do bebê também não foi realizado.

“Naquele momento não tive muitas opções, consenti pois tive medo, mas sabia que não era o certo e que meu pedido estava sendo ignorado”, desabafa.

Fragilizada com o medo da filha ser exposta ao HIV, a mãe reafirmou o fato de que precisava das medicações indicadas, mas a informação mais uma vez não surtiu efeito na equipe médica. Segundo Jéssica, chamaram uma enfermeira para realizar o teste rápido da doença antes da ida ao centro obstétrico. “Mesmo eu informando sobre minha sorologia, a enfermeira fez a marcação errada no formulário, marcando como ‘não reagente’ para HIV’. Quando vi o papel, informei que estava errado”, completa.

No centro cirúrgico

“Me colocaram sentada numa cadeira de plástico no corredor e ninguém veio me dizer o que seria feito, qual seria o próximo passo, ou verificar se estava tudo bem com a bebê, pois minha bolsa tinha rompido. Sequer perguntaram meu nome”, conta.

Depois de mais de 40 minutos nesta situação, Jéssica foi levada para uma sala de pré-parto, enquanto seu companheiro, André, que é sorodiscordante, estava na recepção sem qualquer tipo de informação sobre seu estado de saúde ou da bebê. Segundo ela, o marido ficou até às 16h sem saber o que estava acontecendo.

Além disso, Jéssica percebeu que as enfermeiras, que raramente passavam em seu quarto, não sabiam como proceder com uma mãe HIV+ e não faziam ideia da função das medicações que previnem a contaminação do bebê. Ela relembra que teve que ensinar às profissionais sobre o assunto, fato que a deixou bastante assustada.

“Viver com HIV e aceitar nossa condição não é fácil, a gente pensa com cuidado e medo sobre cada detalhe de um momento que deveria ser sublime. Ali eu me vi completamente desamparada, humilhada por ignorarem em absoluto tudo o que estava pedindo”, conta.

Após muito tempo, seu companheiro foi liberado para subir ao andar que ela estava internada. Ela conta ainda que os médicos entravam no quarto, olhavam sua caderneta de gestante – que consta informações sobre sua saúde – mas não se aproximavam dela. “Apenas olhares desconfiados, silenciosos. Depois de tudo isso, finalmente trouxeram o AZT e fizeram exame de toque”, relata Jéssica.

Parto

Mesmo antes de aguardar de três a quatro horas para garantir o sucesso da medicação contra a contaminação de sua filha, Jéssica entrou em trabalho de parto. Ela relata que sentia muitas dores e, mesmo com seis centímetros de dilatação, não recebeu nenhum tipo de analgesia. “Comecei a chorar, pedia ajuda. Eu estava completamente apavorada por tamanho desamparo logo neste momento”, lamenta.

Quando sua dilatação atingiu os 10 cm, Jéssica foi encaminhada para a cesárea. Ela diz que os anestesistas foram rudes com ela o tempo todo. Seu companheiro foi impedido de entrar na sala até então, sendo convidado apenas no último minuto, segundo ela.

“Minha bebê já estava nascendo pelo canal vaginal, parto normal, mas ainda assim prosseguiram com a cesárea. As médicas não estavam conseguindo tirá-la pelo corte, então o médico chefe do plantão, de forma muito irritada, entrou na sala, mandou paramentá-lo e foi dando bronca em toda a equipe”, relembra. “Ele se debruçou no meu peito para tirar a bebê e, neste momento falou palavrão, brigou com as médicas, completamente constrangedor”, completa.

Quase 12h após a bolsa ter rompido, às 19h23, sua filha Agnes nasceu. Jéssica conta que não deixaram que ela visse a própria filha, encaminhada à UTI logo após o parto.

“Ficamos 20 minutos naquela sala, ignorados pelas médicas que me costuravam, e eu perguntando constantemente sobre ela [Agnes]. Fui informada que esse era o procedimento, mas eu sei que não era, não é! A decisão da equipe foi por puro preconceito, ignorância e despreparo”, diz a mãe indignada.

Jéssica ainda conta a situação a fez reviver um sentimento de não aceitação do diagnóstico que já havia superado. “Depois de anos sem conseguir aceitar meu diagnóstico, justamente por situações vexatórias, de exposição e preconceito, consegui lidar bem com tudo isso, entender que o HIV não me define, que é apenas um vírus e não um rótulo. Constantemente durante a internação eu explicava para enfermeiras e residentes o que deveria ser óbvio para eles”, conta.


Providências

Pela Constituição Brasileira, as pessoas que vivem com HIV têm obrigações e direitos garantidos; entre eles, estão a dignidade humana e o acesso à saúde pública. Em 2014, foi publicada a Lei nº 12.984, de 2 de junho de 2014, que define o crime de discriminação aos portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV).

Jéssica denunciou os profissionais da maternidade à ouvidoria do Hospital Leonor Mendes de Barros um mês após o ocorrido e pretende seguir em frente com o processo jurídico por toda a situação que passou durante os dias em que ficou internada.

“Depois de anos estando bem em relação a isso, odiei ter HIV, especialmente por uma criança que não merecia nada disso ter recebido respingos desse preconceito. Chorei de cansaço, de tristeza, de ódio, de dor, meu corpo estava cortado, nunca quis uma cesárea, queria ter minha recuperação rápida para viver cada segundo da melhor forma possível com minha pequena”, desabafa.

Ela conta ainda que sua filha está muito assustada e estressada por tudo que passou na maternidade. Hoje em dia, Jéssica e André mantêm uma rotina restrita para não piorar o estado da bebê.

“Em relação à saúde, estamos aguardando para fazer um ultrassom da cabeça, pedido por prevenção pela pediatra dela devido a todo trauma, e seguimos cuidando e tentando reparar em todos nós, eu, minha bebê, esposo e família extensa, todo dano causado por este momento”, acrescenta.

Os exames de Agnes deram como não reagente para o vírus do HIV. Porém, segundo a mãe da menina, só daqui a um ano será possível saber se ela não foi infectada. “O pior é pensar que ela pode ter contraído por negligência médica”, finaliza.

A Deputada Erica Malunguinho foi acionada pela Co-Vereadora Carolina Iara sobre o caso, diante da competência estadual, e irá enviar um ofício à Secretaria Estadual de Saúde e ao Hospital Maternidade Estadual Leonor Mendes de Barros para apuração do caso.

“O movimento de mulheres negras vem há décadas denunciando como as mulheres negras são as principais vítimas de violência obstétrica e não podemos esquecer que o Estado Brasileiro já foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos no Caso Allyne Pimentel vs Brasil, que também envolveu racismo e violência obstétrica”, afirma a nota oficial da parlamentar.

Posicionamento

A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com o Hospital Maternidade Estadual Leonor Mendes de Barros para repercutir as informações, bem como com a Secretaria Estadual de Saúde (SES) do Estado de São Paulo.

Por meio de nota, a SES afirma que “não procedem as informações pontuadas pela reportagem” e que o Hospital Leonor Mendes de Barros “é referência para gestações de alto risco, incluindo gestantes e parturientes portadoras do vírus HIV e segue todos os protocolos de humanização e de atendimento pré-parto, parto e pós-parto estabelecidos pelo SUS”.

Segundo a Secretaria, o hospital acolheu Jéssica no dia 28 de março e seguiu todos os protocolos, com registro de informação sorológica e novos testes de sífilis e HIV e administração dos medicamentos indicados pelo Ministério da Saúde no prazo previsto. Após o parto, a recém-nascida também teria sido submetida ao exame de hemograma completo e exame para carga viral para HIV, além de receber os medicamentos adequados para seu caso.

“Todo o processo de parto foi rigorosamente acompanhado pela equipe médica, inclusive com a opção por cesárea para evitar complicações, considerando também que o procedimento não configura maior risco para filhos de mães com HIV. O acompanhante da paciente também estava presente no momento do parto, e a família foi orientada sobre as restrições de circulação na unidade como medida preventiva contra COVID-19”, finaliza a nota.

Até o momento, o Hospital Maternidade Estadual Leonor Mendes de Barros não se posicionou.


Agência AIDS




Homem perde parte do nariz após preenchimento labial: 'Muita dor"

 

Thiago Delgado, de 35 anos, fez preenchimento labial e perdeu parte do nariz

A Polícia Civil do Rio de Janeiro aguarda o resultado do laudo pericial realizado no rosto de Thiago Delgado, de 35 anos, para confirmar se houve negligência durante um procedimento estético. O paciente realizou um preenchimento labial com uso de ácido hialurônico no lábio superior, porém acabou perdendo parte do nariz.

O caso aconteceu no dia 11 de junho, em Angra dos Reis, Costa Verde do Rio. O responsável pelo procedimento foi o dentista Ronaldo Kora. Thiago, que é servidor público, precisa ficar no Rio de Janeiro para poder realizar os procedimentos para a reconstrução nasal. Ele conta com a ajuda de amigos para arcar com os custos. Thiago chegou a vender parte da casa para poder pagar a cirurgia reparatória.

"Eu cheguei a pedir a Deus para que tirasse a minha vida de tanta dor que eu senti. Meu rosto não voltará mais ao que era", disse Thiago Delgado.

Thiago com a ajuda de amigos para arcar com os custos da reconstrução nasal

Ele conta que no início do procedimento estético, notou que o dentista apresentou nervosismo e ao perguntar se estava tudo bem, Ronaldo Kora não respondeu. "De imediato, ele começou a massagear muito, e essa massagem que ele fazia doía muito", lembrou o paciente.

Thiago diz que, em seguida, o dentista o receitou um medicamento e o liberou. No dia seguinte, por sentir uma dor muito forte, entrou em contato com o profissional. "Ele fez uma videochamada com um outro homem, que chamava de mestre. Ele não sabia o que fazer, estava ouvindo o que esse cara falava. Do nada, apareceu um outro dentista que nunca tinha visto e só aí me falaram que tinha dado alguma complicação", relata, dizendo ter procurado uma dermatologista para compreender a dimensão do problema e ter chegado a tomar morfina para a dor.

"Eu tomo café da manhã, procuro um lugar mais afastado, na parede, para ninguém ficar me olhando, para ninguém ficar com cara de assustado. Só Deus sabe o que estou passando. Toda manhã, tenho uma crise de choro", disse emocionado.

Especialista alertou que área estava com aspecto 'mumificado'

Ao encontrar a dermatologista, a médica especialista comunicou que a área já estava com aspecto "mumificado" devido à falta do suprimento sanguíneo. "Graças a Deus, eu consegui recuperar parte do meu lábio que seria necrosado", explicou Thiago.

Em um primeiro momento, o dentista alegou que iria pagar os custos necessários, tanto médicos, como de hospedagem e transporte, porém, Thiago conta que desde então não tem mais apoio financeiro.

"Eu preciso ficar no Rio ainda duas semanas, antes de entrar para a primeira cirurgia, preciso de ajuda. Esses tratamentos são muito caros e hospedagem, alimentação, tudo foge da minha realidade".

No momento, Thiago Delgado faz acompanhamento com um cirurgião plástico de confiança. Segundo o médico, talvez sejam necessários quatro procedimentos reparatórios.

"A cirurgia vai tirar uma cartilagem atrás da minha orelha para colocar na asa do meu nariz e, da minha bochecha, ele também vai tirar, para poder tampar o retalho. Ele disse que quanto mais próximo tirar da onde foi necrosado, menor chance de rejeição", explicou Thiago.

Advogado irá para a Justiça

Uilian Loose, especialista em direito médico, faz o acompanhamento do caso de Thiago Delgado. O UOL conversou com o advogado. "Inicialmente o dentista iniciou o pagamento do tratamento. Ele diz que Thiago ficou em hotel de luxo, isso não procede. Inclusive ele fez a reserva [do hotel] e não foi pago. Ele pagou a primeira semana de tratamento, Thiago encontrou com um cirurgião plástico indicado pelo dentista, mas ficou com muito medo; a abordagem do médico foi muito agressiva".

Loose acrescenta: "Thiago então escolheu uma equipe que ele sentiu confiança. Na segunda semana, como ele não aderiu à sugestão do dentista, ele passou a não arcar com nenhum custo". Segundo o advogado, no momento a prioridade é a saúde do paciente.

"Hoje tivemos resposta do laudo de corpo de delito. Esse documento é de grande relevância para o processo judicial. O processo já deve ser protocolado amanhã, mas estamos trabalhando para sair ainda hoje. Vamos pedir que esse dentista pague de forma liminar a cirurgia e o laudo pericial do IML nos dá condição para isso. O laudo foi bastante favorável a Thiago".

O advogado finaliza dizendo que dois processos foram abertos. "Agora é só protocolar a ação na esfera cívil, possivelmente vai ter um desenrolar criminal, mas isso é o delegado que vai apurar. E também tem um processo no CRO [Conselho Regional de Odontologia] para apurar a conduta já que ele envolveu outros profissionais, teve teleatendimento por videochamada sem autorização do Thiago; isso foi muito impactante".

"Estamos aguardando o laudo pericial já que isso vai ajudar a entender se houve negligência médica. Já estamos ouvindo as partes envolvidas", disse o delegado Vilson de Almeida Silva, em entrevista ao UOL.

A reportagem buscou contato telefônico, por meio do site e das redes sociais, profissionais e pessoais, ligadas ao odontólogo Ronaldo Kora. Num dos números, uma secretária chegou a atender, mas disse que o profissional estava indisponível devido a problemas pessoais e não forneceu outros meios de contato com ele ou sua defesa.

O dentista chegou a responder a uma das diversas mensagens indicando um número de telefone para contato, porém, em seguida, não atendeu às ligações e deixou de responder às mensagens. Pouco tempo depois, os perfis disponíveis foram desativados das redes. O espaço segue aberto para atualização, caso profissional ou defesa desejem se manisfestar.




sexta-feira, 30 de julho de 2021

Polícia vai investigar suposta negligência médica após morte de entregador

 

Luandenysson era casado e pai de um menino de apenas um ano

A Polícia Civil (PC) vai instaurar inquérito para investigar a morte do entregador de lanches Luandenysson Santos Leite, de 24 anos, que morreu após se envolver em um acidente de trânsito e, supostamente, ter o estado de saúde negligenciado durante atendimento no Hospital Regional da Mata (HRM), em União dos Palmares. A confirmação de que o caso será investigado foi dada à TV Pajuçara pelo delegado Edberg Sobral. Segundo ele, o inquérito pode ser instaurado ainda hoje (28), ou amanhã, quinta-feira (29).

Internamente o caso já está sendo investigado no HRM, que afastou o médico responsável pelo atendimento e alta do entregador horas depois de ter sofrido o acidente. O entregador se envolveu em um acidente de trânsito no último dia 22, em União dos Palmares, e morreu no último domingo (25) no Hospital Geral do Estado, em Maceió, onde já chegou com traumatismo craniano grave.

Familiares acusam hospital de União dos Palmares de negliogência no primeiro atendimento ao jovem.

O primeiro atendimento médico após o acidente - que está sendo questionado pela família - aconteceu na quarta-feira (22), no  HRM, em União, que o liberou horas depois. Luandenysson passou mal na manhã seguinte e foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros. Ele voltou ao HRM, que o encaminhou em estado grave ao HGE. 

Denúncia de familiares

Familiares do jovem acusam o HRM de negligência médica por ter liberado o rapaz horas depois do acidente sem realizar exames específicos para o caso.

"Meu irmão ficou desacordado depois do acidente e, para se ter ideia da gravidade, saiu do hospital com ombros e clavícula quebrados sem que fosse notado. Não imobilizaram nada, só receitaram uso do medicamento nimesulida (anti-inflamatório)", contou Luan Victor dos Santos Leite, irmão de Luandenysson, em entrevista ao TNH1, nessa terça-feira (27).

 Luandenysson era casado e deixa esposa e filho, um bebê de apenas um ano.





Mantida Condenação de Médico que Negligenciou Preenchimento de Prontuário de Gestante

 


Ao manter a condenação de um obstetra pelos danos causados a um recém-nascido, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reafirmou o entendimento de que a responsabilidade civil do médico em caso de erro, seja por ação ou omissão, depende da verificação da culpa – ou seja, é subjetiva.

A questão teve origem em ação indenizatória que resultou na condenação do médico e da clínica, após uma gestante ter sofrido problemas no parto que resultaram em sequelas neurológicas graves e irreversíveis no recém-nascido.

As instâncias ordinárias concluíram que houve falha no atendimento médico, caracterizada por negligência e imperícia, pois o obstetra não fez as anotações das intercorrências e dos procedimentos adotados na folha de evolução do parto, que serve para registrar as condições da mãe e do feto – as quais precisam ser monitoradas com rigor – e é uma exigência do Código de Ética Médica.

O processo informa que a gestante entrou em trabalho de parto pela manhã e chegou à clínica por volta das 7h30, quando foi preenchida sua admissão, último registro das condições da genitora e do feto até o momento do parto, que aconteceu às 13h.

 

Responsabilização do Médico Depende de Culpa

No recurso ao STJ, o médico alegou que não ficou demonstrada sua culpa e que a condenação configurou hipótese de responsabilização objetiva, violando o disposto no artigo 14, parágrafo 4º, do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Asseverou ainda a ausência do nexo de causalidade exigido pelo artigo 951 do Código Civil (CC), pois sua conduta de não fazer o registro dos fatos no prontuário não teve nenhuma relação com os danos ao recém-nascido.

Segundo o relator, ministro Villas Bôas Cueva, a jurisprudência do tribunal considera que a responsabilidade do médico é subjetiva e fica configurada se demonstrada a culpa, nos termos do CDC, pois sua atividade é obrigação de meio: o profissional de saúde não tem condições de assegurar o melhor resultado, isto é, a cura.

Porém, ao contrário do que alegou o recorrente, o ministro afirmou que a responsabilidade subjetiva foi constatada pelas instâncias ordinárias, diante de sua conduta omissiva – constatação que foi fundamental na condenação pelos graves prejuízos ocasionados à criança.

 

Dever Jurídico de Evitar o Dano

Quanto à alegação de ausência de nexo de causalidade, o relator salientou que a teoria da equivalência dos antecedentes – refletida no argumento do médico de que a falta de anotação adequada no prontuário da paciente não teria relação causal naturalística com o resultado danoso sofrido pelo bebê – não é a mais apropriada para a interpretação dos casos de responsabilização civil.

"O nexo de causalidade, como pressuposto da responsabilidade civil, é mais bem aferido, no plano jurídico-normativo, segundo a teoria da causalidade adequada, em que a ocorrência de determinado fato torna provável a ocorrência do resultado", explicou.

Além disso, Villas Bôas Cueva disse que deve ser considerada a obrigação jurídica do profissional de evitar o dano. "Nos casos de condutas omissivas, a causalidade deve ser aferida normativamente, a partir do dever jurídico do agente de evitar o resultado danoso (ou produzir resultado diverso), seja ele de natureza legal, contratual ou porque o próprio agente tenha criado ou agravado o risco da ocorrência do resultado", afirmou o magistrado.

Para o relator, o cuidado e o acompanhamento adequados à gestante – deveres legais do médico – poderiam ter conduzido a resultado diverso, ou, ainda que o dano tivesse de acontecer de qualquer maneira, pelo menos demonstrariam que todas as providências possíveis na medicina foram tomadas – fatos que, registrados no prontuário, teriam auxiliado o profissional em sua defesa.


Direito Real


quinta-feira, 29 de julho de 2021

Prontuário médico atesta que ex-candidata faleceu após ingerir produto utilizado para testagem sanguínea

 


Um prontuário médico recebido com exclusividade pelo Olhar Direto nesta quarta-feira (21) aponta que a ex-candidata a vereadora por Vila Rica (1.264 km de Cuiabá), Eva Correia de Souza, ingeriu um produto anticoagulante antes de falecer. O produto teria sido dado para a vítima no lugar de uma solução de glicose diluída em água, durante a realização de um exame no laboratório Citocenter. O caso aconteceu no último sábado (17) e segue sendo investigado pela Polícia Judiciária Civil. 

Segundo o prontuário, a vítima não apresentava qualquer tipo de alergia capaz de desencadear em uma forte intoxicação. O documento atesta ainda que o produto ingerido pela vítima se trata de um anticoagulante chamado Glistab, utilizado na testagem sanguínea para preservação da glicose. A suspeita do filho de Eva, Gleidson Luiz, é que a mãe tenha morrido após erro do laboratório ao dar a substância errada para a paciente. 

De acordo com a ficha técnica do produto, a ingestão é expressamente proibida pelo alto potencial nocivo do produto para o corpo. No texto, desenvolvido pelo laboratório Labtest, uma das empresas fabricantes da substância, caso a ingestão ocorra e a pessoa ainda esteja consciente, é indicado a indução do vômito e a busca por atendimento médico. 

Ainda de acordo com o prontuário, Eva deu entrada no hospital com um quadro de ansiedade e vomitando um líquido azulado. A cor do líquido expelido pela vítima é a mesma da substância indicada no prontuário, que é vendida diretamente para os laboratórios que trabalham com exames que envolvem a testagem da glicose. 

No prontuário é relatado ainda que a vítima chegou a ingerir metade do produto e por isso apresentou uma forte reação. Além do vômito e da crise de ansiedade, Eva também teve uma crise convulsiva e chegou a ser encaminhada para a sala de emergência. Foram feitas diversas ações para resguardar a vida da ex-candidata, mas após uma parada cardíaca acabou falecendo.

“Queremos justiça”

Segundo o filho da vítima, o laboratório Citocenter não esclareceu os fatos desde o último sábado (17), quando o óbito foi confirmado. Para Gleidson, sua mãe foi vítima de uma ação irresponsável protagonizada pelo estabelecimento. “A palavra que eu tenho para resumir isso é irresponsabilidade. O que a gente busca hoje é justiça. Estamos sentindo muita angústia, não queremos que outras pessoas sintam o que estamos sentindo hoje, nunca passei por nada parecido e é uma dor muito grande”, disse em entrevista ao Olhar Direto. 

O rapaz contou ainda que a mãe havia se recuperado de um quadro de Covid-19 há pouco mais de dois meses e estava feliz com a construção da casa nova. “Minha mãe estava em um momento de felicidade, ela ligava para a gente e falava como ela tava. Ela fala ‘Gleidson eu estou bem, tô muito feliz que vou construir a minha casa, do jeito que eu queria, do jeito que eu sempre sonhei’”, revelou. 

Ainda durante a conversa, Gleidson relatou que a mãe nunca teve nenhum tipo de reação alérgica e no momento em que foi oferecida a substância, Eva chegou a alertar a atendente que aquele não era “o medicamento corrreto”. “Minha mãe ainda contou para o meu pai que alertou para a mulher que ia dar o medicamento de que aquele não era o frasco do medicamento que ela deveria ingerir. Quando meu pai chegou desesperado atrás dela, ela disse para ele que deram o remédio errado”, relatou. 

Em um áudio enviado pela vítima para o marido, horas antes do quadro se agravar, Eva relata que haviam dado um medicamento errado para ela tomar e que estava se sentindo muito mal. “O laboratório me deu o remédio errado, estou passando mal. Eu quase morri aqui, vem aqui vocês, vem logo”, disse a vítima horas antes de falecer.




Todos os documentos que comprovam a ingestão da substância foram reunidos pela família e entregues para a Polícia Judiciária Civil, que segue investigando o caso.

Outro lado 

A reportagem procurou os representantes do Laboratório Citocenter e até o fechamento desta reportagem não obteve nenhum tipo de retorno. O espaço segue aberto para a empresa se manifestar. 









quarta-feira, 28 de julho de 2021

Médica é exonerada por suspeita de desvio de vacina contra covid-19

 

Imunizante atenderia migrantes e refugiados venezuelanos no Brasil, mas foi destinado a membros do Poder Judiciário de RR





Médica de RR é exonerada por suspeita de desvio de vacinas contra a covid-19

DIVULGAÇÃO / GOVERNO DO ESTADO DE SP - 02.04.2020

Uma profissional de saúde de Roraima foi exonerada do cargo por suspeita de envolvimento em desvio de vacinas da Operação Acolhida, que atende migrantes e refugiados venezuelanos no Brasil, para imunização de membros do Poder Judiciário. A suspeita aponta que a vacinação irregular ocorreu nos dias 12 e 13 de julho.

A servidora Mariângela Nasário Andrade foi exonerada do cargo de coordenadora do Centro Médico e de Qualidade de Vida do TJ-RR (Tribunal de Justiça de Roraima) pelo presidente da instituição, magistrado Cristovão José Suter, segundo publicação do Diário Oficial da Justiça de 14 de julho.

A médica é servidora da Sesau (Secretaria Estadual de Saúde), mas estava lotada no TJ- RR enquanto também fazia parte do projeto de acolhimento aos migrantes do Exército Brasileiro. A suspeita de desvio de vacinas foi levantada por meio de denúncia apontada pelo jornalista Sérgio Ramalho, do Intercept Brasil e foi corroborada pelo senador Telmário Mota (PROS-RR). O Tribunal de Justiça de Roraima confirmou que tomou conhecimento de "possíveis ações" irregulares nas suas dependências e que tomou medidas para "a sua imediata interrupção".

O TJ-RR afirma que verificou inicialmente que "tais ações teriam sido desenvolvidas por iniciativa própria da médica Mariângela Nasário Andrade (…) em desrespeito à legislação vigente e determinações e orientações deste Tribunal" e reforçou que "a servidora foi imediatamente exonerada do cargo que ocupava, conforme Portaria nº 841, publicada no DJE 69550, deixando de possuir qualquer vínculo com este Tribunal".

Em nota oficial, a AMARR (Associação dos Magistrados de Roraima) negou envolvimento na denúncia e reforçou que nos dias dos fatos (12 e 13 de julho), a vacinação na capital compreendia as pessoas entre 26 a 31 anos de idade, sem comorbidades, portanto, de faixa etária inferior ao juiz mais jovem da justiça estadual, que possui 32 anos.

A suspeita da irregularidade foi relatada a Corregedoria-Geral de Justiça. Sobre o assunto, o MPF de Roraima relatou que recebeu informações de suposta irregularidade de aplicação de vacinas no Tribunal de Justiça de Roraima e que foi instaurado procedimento para análise dos fatos relatados.

A Operação Acolhida informou ao Estadão que, antes de se manifestar, era necessário entrar em contato com a Casa Civil. A reportagem acionou a pasta e ainda aguarda retorno. A servidora também não respondeu ao contato feito pela reportagem.

Leia a íntegra da nota do governo do estado de Roraima

"A Secretaria de Saúde informa que a médica Mariângela Nasário Andrade está cedida para o Ministério Público do Estado de Roraima. No Diário da Justiça Eletrônico foi publicado o desligamento da servidora do cargo comissionado que ocupava na estrutura do MP.

Porém, ela ainda está cedida, e para que retorne as funções na Sesau, é necessário que o Ministério Público envie ofício informando a devolução da servidora para a Pasta de origem.

Reforça que cabe a Justiça averiguar se a profissional está realmente envolvida no esquema de desvio de vacinas e aplicar a devida penalidade. Somente após essa decisão a Sesau irá se manifestar em relação à situação administrativa da servidora."

Record TV R7

Um levantamento exclusivo feito pelo núcleo de jornalismo investigativo da Record TV mostra o roubo de vacinas no Brasil. O primeiro crime aconteceu no dia 22 de janeiro no interior de São Paulo, apenas quatro dias depois do início da campanha de imunização. Ao todo, mais de 220 doses foram roubadas em todo o país.


Notícias R7


Jovem morre após cesárea e família denuncia erro médico; grávida estava com pressão alta

 

Caso ocorreu em Nova Alvorada do Sul e família suspeita de erro médico


Karina viu a filha por poucos segundos

A jovem Karina Veiga, 25 anos, conseguiu ver a filha, recém-nascida, por poucos segundos, antes de morrer por complicações no pós-parto. Como a gestação foi saudável, a família sugere que possa ter ocorrido erro médico no Hospital Municipal de Nova Alvorada do Sul. 

Segundo apurado pelo Folha da Cidade MS e confirmado pelo TopMídiaNews, a gestante passou mal na segunda-feira (12) e foi ao hospital local. Como não tinha dilatação suficiente, foi orientada a voltar para casa. 

Ainda conforme apurado, na noite de quarta-feira (14), Karina sentiu dores e procurou o hospital novamente. Depois disso, não voltou mais para casa. A informação da imprensa local é que a equipe médica de Nova Alvorada não teria conseguido estancar uma hemorragia e teve de transferir a paciente para a Santa Casa, em Campo Grande.  

No entanto, de acordo pessoas próximas à família e outras fontes que não podem ser identificadas, a equipe médica teria tido conhecimento e, inclusive, sido alertada, que a pressão da parturiente estava alta. Mesmo assim, uma profissional teria assumido o risco de seguir com a cesárea. 

Diante do quadro crítico, a paciente foi transferida para a Santa Casa. Segundo o hospital de Campo Grande, a jovem deu entrada dia 14/7, às 22h59, ‘’em pós-operatório de parto cesariano, seguido de intercorrências’’. 

Ainda segundo a Santa Casa, Karina foi admitida em parada cardiorrespiratória, sendo realizado protocolo de reversão do quadro, mas sem sucesso. O óbito foi constatado às 23h48 e teve como causa choque hipovolêmico (hemorragia). 

Ainda conforme apurado, a família, que é humilde, está sem condições emocionais de procurar respostas. 

‘’Só sei que nasceu uma linda princesa e uma mamãe de apenas 24 anos morreu por falta de atenção e cuidado. E o engraçado que ninguém falou nada, ficaram quietos... Não temos como provar nada, mas uma hora a verdade vem‘’, disse uma pessoa próxima da família. 

Sonho 

Karina estava ansiosa para a chegada da pequena. Ela teria tido uma gestação tranquila e a bebê estava ótima, segundo a apuração local. 

‘’Sempre aparentava estar muito saudável em todos os exames’’, dizem os próximos. 

A bebê, diz o Folha da Cidade MS, nasceu saudável, teve alta e está com a família. 


G5 News



terça-feira, 27 de julho de 2021

Hospital da Mata afasta médico e apura suposta negligência em morte de entregador em União

 

Luandenysson Santos Leite tinha 24 anos e trabalhava como entregador de lanches

Em União dos Palmares, na Zona da Mata alagoana, um suposto caso de negligência médica tem causado revolta na comunidade após a morte de um entregador de lanches vítima de acidente de trânsito.  A direção do Hospital Regional da Mata (HRM) abriu uma sindicância e afastou o médico responsável pelo atendimento, até a conclusão das investigações, que serão acompanhadas pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) e Conselho de Ética da unidade hospitalar. (Veja nota oficial no final da matéria).

Luandenysson Santos Leite, de 24 anos, se envolveu em um acidente de trânsito no último dia 22, em União dos Palmares, e morreu no último domingo (25) no Hospital Geral do Estado, em Maceió. Mas o primeiro atendimento médico após o acidente aconteceu na quarta-feira (22), no  HRM, em União, que o liberou horas depois.   

No dia seguinte, na quinta-feira (23), o jovem passou mal novamente, foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e voltou ao HRM, que o encaminhou em estado grave ao HGE. Familiares do jovem acusam o HRM de negligência médica por ter liberado o rapaz horas depois do acidente sem realizar exames específicos para o caso.

Família: temos certeza que houve negligência

TNH1 conversou com Luan Victor, irmão mais velho de Luandenysson, que se queixa do tratamento dado ao irmão no dia do  acidente, e que tem certeza de que houve negligência. 

"Nós temos certeza que houve negligência médica. Meu irmão ficou desacordado depois do acidente e, para se ter ideia da gravidade, saiu do hospital com ombros e clavícula quebrados sem que fosse notado. Não imobilizaram nada, só receitaram uso do medicamento nimesulida (anti-inflamatório)", contou Luan Victor dos Santos Leite, irmão de Luandenysson.

"Da forma que aconteceu com meu irmão poderia ter acontecido com qualquer outra pessoa. Se houvesse mais atenção temos certeza que ele estaria aqui, as chances dele sobreviver seriam maiores", lamentou o irmão.

Morte provocou comoção na cidade

Em nota encaminhada ao TNH1, a Secretaria de Estado da Saúde diz que apura os fatos e promete tomar providências. 

NOTA HRM

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau/AL) informa que já tomou conhecimento da denúncia e que está apurando os fatos de uma suposta negligência médica no caso de Luandenysson Santos Leite, que sofreu um acidente de moto e precisou de atendimento no Hospital Regional da Mata, localizado em União dos Palmares, na última quinta-feira. 

Informa, ainda, que o médico já foi afastado das atividades, ressaltando que não é conivente com possíveis erros e reafirmamos que as devidas providências serão tomadas. A Sesau reafirma o compromisso em assegurar atendimento humanizado, ágil e eficiente a todos os usuários que procuram assistência na rede hospitalar estadual.

TNH1 questionou a direção do hospital sobre o estado de saúde do jovem no primeiro atendimento, mas o hospital disse que "as informações do prontuário do paciente são sigilosas e não podem ser divulgadas sem a autorização da família".


TNH1




Caso Lorena: ‘Estou muito triste pela falta de respostas da justiça’, diz mãe

 


  • Cinco meses após a morte da filha, mulher trans, Elizângela Muniz se vê desesperançosa sobre desfecho do caso de negligencia médica

  • Clínica de São Paulo, onde ocorreu o caso, aparenta estar funcionando normalmente e indiciados respondem processo em liberdade

  • Mãe da vítima revela desejo de criar uma organização para acolher mulheres trans e travestis

O pedido que não cessa no dia a dia de Elizângela Muniz é o de que a filha não seja esquecida e que o seu caso tenha um desfecho justo. Após cinco meses da morte de Lorena Muniz - vítima de negligência médica ao ser deixada em meio a um incêndio na clínica onde realizou cirurgia para inserção de prótese nos seios - a mãe se vê desesperançosa com a postura da justiça e pede por celeridade na punição dos responsáveis.

“Estou muito indignada com o andamento da justiça e muito triste pela falta de respostas sobre essa situação com minha filha. Acredito que o que prevalece nesse processo é o dinheiro. Se fosse uma vítima de uma família com condições financeiras, os culpados já estavam presos e a clínica não estaria funcionando” afirma Elizângela, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.

A mãe se refere a todo o processo de investigação feito pela Polícia Civil de São Paulo após o caso registrado em fevereiro. Ela aponta, especificamente, a falta de acompanhamento da clínica onde ocorreu o falecimento, identificada como “Clínica Saúde Aqui”, por parte da Vigilância Sanitária. Na última semana, o portal de notícias G1 publicou uma matéria em que mostrava duas mulheres com sinais de intervenções cirúrgicas saindo da clínica apontada sob a coordenação do mesmo agenciador da cirurgia de Lorena, Paulino de Souza.

Paulino é um dos nomes que respondem aos inquéritos policiais abertos. Os diretores da Clínica Saúde Aqui, os sócios da Clínica Paulino Plástica, localizada na Grande São Paulo, e membros da equipe médica foram os indiciados. Entre eles, quatro por homicídio doloso - quando uma pessoa mata outra intencionalmente - e as outras duas pela omissão de socorro, por não terem ajudado a retirar Lorena, sedada, durante incêndio.

Além de todos os acusados responderem ao processo em liberdade, a unidade de procedimentos estéticos, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, por meio de vigilância, funcionava e, se houver, de fato, dado continuidade às operações, funciona sem licença sanitária.

Publicações nas redes sociais da clínica seguem convidando para procedimentos semelhantes ao de Lorena Muniz com o pretexto de “realizar sonho”. Para Elizângela, a situação é difícil de acreditar". Segundo ela, a falta de celeridade de medidas mais efetivas por parte da justiça pode ser justificada pela origem pobre da vítima.

“Vivo acompanhando as publicações nas redes sociais e me assusta ver que tratam como se nada tivesse acontecido. Minha esperança é que a justiça tenha coração e que se ponha no meu lugar de mãe e no da nossa família. Gostaria de saber: e se fosse a família deles? Como seria? Infelizmente a mãe de Lorena, mulher negra, que mora em favela e que é pobre, não tem condições nenhuma de fazer mais do que pode”, desabafa Elizângela.

Organização para acolher pessoas trans e travestis

Como transformação do luto em luta, Elizângela conta que tem se dedicado aos estudos e a possibilidade de fundar uma organização que sirva de acolhimento a outras pessoas transexuais e travestis do Recife e região metropolitana. O plano é somado ao desejo de colocar cerâmica no salão de beleza em homenagem ao antigo trabalho da filha, que deverá ser aberto no próximo mês de outubro.

A mãe ainda conta que dividiu em 89 vezes parcelas de R$ 110 para se precaver a data em que Lorena será exumada. Para Elizângela, é importante que a filha seja lembrada da melhor forma e que as pessoas possam visitá-la em seu próprio jazigo.


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