sábado, 24 de julho de 2021

Testemunha relata denúncia de 2001 contra médico investigado por abuso sexual no RS: 'Mãe, ele está tentando me abusar', lembra

 

Caso teria ocorrido quando paciente tinha 17 anos. Cirurgião plástico Klaus Brodbeck chegou a ter o registro profissional cassado pelo Conselho Regional de Medicina, mas foi absolvido pelo Conselho Federal. Atualmente, polícia investiga mais de 100 casos contra médico.


Paciente de médico investigado por abuso sexual no RS relata ocorrência

cirurgião plástico Klaus Brodbeck, investigado por 117 casos de abuso sexual pela Polícia Civil, em Porto Alegre, foi alvo de um processo pelo mesmo motivo há quase 18 anos. A advogada Luize Guimarães, na época com 17 anos, diz ter sido assediada pelo médico durante uma consulta em 2001. Ele teve o registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina (Cremers) em 2004, mas, três anos depois, ele foi absolvido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

"Eu liguei para minha mãe, que estava na sala de espera, e eu falei: 'mãe, ele está tentando me abusar'", recorda.

Procurada pela RBS TV, a defesa de Brodbeck não se manifestou. O CFM diz que está apurando o assunto.

Brodbeck está preso preventivamente desde 16 de junho. Em depoimentos prestados à polícia, o médico negou as denúncias.

A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Alegre também investiga a namorada do cirurgião, que teria ameaçado pacientes que denunciaram casos envolvendo o profissional.

Klaus Brodbeck foi preso preventivamente em Gramado

Relato


Luize diz ter procurado os serviços do médico em 2001, quando desejava implantar próteses de silicone nos seios e fazer uma cirurgia de lipoaspiração. A adolescente foi à clínica de Brodbeck acompanhada da mãe, que aguardou o atendimento na sala de espera.

"Ele botou o dedo na minha boca. Ele pediu para ver os meus seios. Ele não tocou medicamente, não foram toques, ele acariciou. Ele botou quatro apoios, me botou de quatro. Eu estava muito nervosa. Eu me lembro das minhas mãos suando, eu me lembro de eu tremendo. Eu sabia que aquilo não era certo", relembra.

A paciente relata que, ainda nervosa, pediu para ir ao banheiro. Foi no local que ela pediu socorro para a mãe, por telefone.

"Eu me tranquei no banheiro. Eu me lembro que eu fiquei entre o vaso e o box", diz Luize.

Luize Guimarães tinha 17 anos quando foi atendida pelo médico investigado por abuso sexual

Ao ouvir o relato da filha, a mãe subiu para socorrê-la, conta Luize. Elas conseguiram fugir da clínica por uma porta lateral do estabelecimento.

"Eu me lembro dos gritos da minha mãe. A minha mãe começou a bater na porta", afirma.

Luize e a mãe fizeram uma queixa do ocorrido no Cremers. Em dezembro de 2004, o conselho cassou o registro profissional do médico no estado. Entretanto, Brodbeck foi absolvido pelo Conselho Federal de Medicina, em Brasília, três anos depois, e pôde seguir atuando.

Médico teve o registro cassado em 2004, mas foi absolvido anos mais tarde

A advogada e dona de casa prestou depoimento à polícia na quinta-feira (22). Ela contratou um advogado para analisar a absolvição do médico, também no processo judicial que foi movido.

"Nós vamos olhar com lupa cada movimento do processo para tentar identificar, não só as possíveis razões das absolvições, mas também, no plano projetivo, tentar mostrar para o Judiciário que o que aconteceu no passado não pode se repetir agora", explica Jader Marques, advogado de Luize.

A titular da Deam, delegada Jeiselaure de Souza, reforça a importância da denúncia de casos como esse.

"É muito importante que essas vítimas todas que estão nos procurando, muitas de casos prescritos e muito antigos, venham prestar o seu relato para que sirvam de peças informativas neste inquérito", orienta.

Conheça a testemunha responsável pelo processo de cassação de cirurgião plástico no RS

Entenda


O médico Klaus Wietzke Brodbeck é um cirurgião plástico, com registro profissional ativo desde 1990, que atende em Porto Alegre. Mais de 100 mulheres denunciaram ocorrências de abuso sexual à polícia, que investiga o caso.

As mulheres são de diversas regiões do Rio Grande do Sul e de outros estados do Brasil, como Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

O homem também é suspeito de manter relações sexuais com uma paciente sedada, após cirurgia. A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher apura os crimes de estupro de vulnerável, assédio sexual e importunação sexual. Uma investigação por erro médico também é realizada paralelamente.

Quando a investigação iniciou, 12 casos eram de conhecimento da polícia. O número se multiplicou após a divulgação do inquérito. No dia 13 de julho, policiais foram a dois endereços ligados ao médico e o convocaram para depor.

Brodbeck negou as denúncias em depoimentos. Seu advogado, Gustavo Nagelstein, afirma que uma das denunciantes teria cometido uma extorsão contra Klaus, há alguns anos.

A 2ª Vara Criminal de Porto Alegre expediu mandado de prisão preventiva contra o médico, que foi localizado no dia 16 de julho em Gramado, na Serra. Ele foi encaminhado à Penitenciária Estadual de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, no sábado (17).

A corregedoria do Cremers apura das denúncias. O médico segue com registro profissional ativo.

A namorada do médico, que teria ameaçado mulheres que denunciaram Brodbeck, é investigada pelos crimes de difamação, calúnia, coação no curso do processo, injúria simples, injúria em face de funcionário público e ameaça.




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