sexta-feira, 9 de julho de 2021

Moradora de Búzios faz carta de repúdio contra Prefeitura por desaparecimento de prontuário médico

 

Pedro Henrique Neves tinha 25 anos de idade


Diana Neves está em busca do documento do seu filho desde fevereiro

Uma moradora de Búzios está numa verdadeira saga para conseguir o prontuário médico do filho, que morreu em fevereiro deste ano. Em busca de informações mais precisas sobre a causa da morte, Diana Neves procurou a direção do Hospital Municipal Rodolpho Perissé (HMRP) e a própria Secretaria de Saúde, mas sem sucesso. Na semana passada, ela fez uma carta de repúdio, publicada pela Folha de Búzios, em que cobra a liberação do documento.

Segundo Diana, com o prontuário em mãos, ficará um pouco mais claro saber as causas da morte de Pedro Henrique Neves, de 25 anos. Na carta ela relata que o rapaz deu entrada no hospital na madrugada do dia 19 de agosto de 2020, com muita falta de ar, mas lúcido e conversando. Ele passou a noite no corredor da unidade e, pela manhã, teve uma parada cardiorrespiratória e entrou em coma, permanecendo no CTI por seis meses, até que veio a óbito.

“Desde então eu, enlutada, ainda não consigo o que é meu e de qualquer cidadão por direito, o prontuário médico para informações importantes do que aconteceu”, disse Diana explicando ainda que foi aberta uma sindicância para apurar o caso pelo município e que, recentemente, um processo administrativo foi instaurado, porém o número disponibilizado para acompanhamento no site do governo não corresponde ao que a família tem, os impedindo de verificar o andamento do processo. No atestado de óbito do Pedro consta como morte por insuficiência respiratória aguda e encefalopatia anóxica.

Após a publicação do caso da Diana, muitas pessoas se manifestaram nos comentários relatando que “sumir prontuários” médicos tem sido algo corriqueiro no município. Os internautas questionam o longo prazo da Secretaria de Saúde para entrega dos documentos às famílias, destacaram casos de conhecidos que passaram e/ou estão passando pela mesma situação.

“O desrespeito e a falta de consideração com os familiares do ente querido é enorme!! Sei o que você está sentindo, é revoltante!!! Eu e minha família passamos por isso, ou até pior, o que não diminui sua dor, sua indignação e seu direito de ter em mãos toda documentação hospitalar do Pedro. Por erro do coveiro, ficamos uma semana sem saber em qual gaveta meu pai tinha sido sepultado . Então, fica aqui o meu apoio a você e toda família!!”, disse uma internauta. _
_“Um absurdo, meu marido ficou internado lá em janeiro e tbm não liberam o prontuário”, relatou uma moradora de Búzios.
_”Como se não bastasse a dor da perda ainda tem q conviver com… no mínimo…o descaso. A falta de responsabilidade…”, lamentou outro internauta.

Em busca de respostas

Outra moradora de Búzios que está em busca de informações sobre a causa da morte de um filho é Aida Honorato. Ela relatou à Prensa que José Bousquet, de 28 anos, deu entrada no HMRP, no dia oito de junho de 2021, com o quadro de dor abdominal e vômito. Após exame de sangue, que não apontou nenhuma alteração, ele ficou no soro por algumas horas e, em seguida, teve alta.

Segundo ele, por três vezes retornou à unidade, pois os sintomas não cessavam, e somente na terceira vez é que o internaram e realizaram uma Tomografia Computadorizada (TC). Enquanto aguardava o exame, veio a óbito. A família acredita que houve negligência. A certidão de óbito costa morte por septicemia.

“Meu filho perdeu sua vida por descaso dos profissionais do Hospital Municipal. Ele faleceu às 14h10 e, a esposa dele e eu, só fomos avisadas às 15h45. Quando perguntei ao médico de que meu filho tinha falecido, ele me disse simplesmente “não sei”. Tentei fazer a autópsia dele no dia, mas fui impedida na delegacia, pois alegaram que só seria possível mediante morte por envenenamento, acidente ou tiro”, desabafou Aída. O prontuário médico ainda não foi liberado. O município deu prazo para entrega do documento até esta quarta-feira (7). 


Para fazer a exumação do corpo e colher provas de que houve negligência médica, o legista cobrou R$ 4.000 e, por não ter condições de pagar, ela está realizando uma vaquinha online para conseguir o valor total do procedimento.  Até esta segunda-feira (5), Aida recebeu R$ 655 de doação. Quem desejar ajudar basta clicar aqui.

José Bousquet era instrutor de surf e professor de inglês, muito querido no balneário. Ele deixou esposa e um filho de 5 anos.

A reportagem da Prensa entrou me contato com a Prefeitura, mas, até o fechamento desta edição, não houve resposta.

Sobre prontuário médico

O prontuário médico é um documento que consta todo o histórico do paciente durante sua passagem pela unidade hospitalar. Nele deve conter os dados clínicos necessários para a boa condução do caso, sendo preenchido, em cada avaliação, em ordem cronológica com data, hora, assinatura e número de registro.

Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), apesar do termo ”prontuário médico”, este documento é de propriedade do paciente, que tem total direito de acesso e pode solicitar cópia. Ao médico e ao estabelecimento de saúde cabe a elaboração e a guarda.

De acordo com o CFM, até poucos anos atrás, o acesso ao prontuário era de exclusividade do médico. Entretanto, hoje esse conjunto de informações deve ser colhido de forma multidisciplinar, assim como deve ser a assistência em saúde. Assim, as informações são acrescentadas a cada atendimento e servirá para troca de informações entre os próprios médicos e entre os demais profissionais. O prontuário médico também serve como instrumento de defesa legal.

O Código de Ética Médica, no capítulo que trata sobre a relação do médico com seus pacientes e familiares, define no artigo 70 que é vedado ao profissional “negar ao paciente acesso a seu prontuário médico, ficha clínica ou similar, bem como deixar de dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionar riscos para o paciente ou para terceiros”.


Prensa de Babel



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