O médico Edson Ritta Honorato é alvo de denúncias de negligência médica e já foi preso suspeito de favorecimento à prostituição
MANAUS, AM – “Ele foi muito omisso, ele foi muito negligente, ele foi desumano”. A afirmação é do servidor público Darlan Taveira Peres, 38, contra o médico Edson Ritta Honorato, 65. O cirurgião foi o responsável pela colocação de um balão intragástrico na esposa de Darlan, a jornalista e bacharel em Direito, Melina Seixas Tavares, 38, que morreu no dia 5 de fevereiro após complicações médicas em Manaus.
Segundo Darlan, depois da cirúrgia que aconteceu na Clínica Endongastro de Manaus, na zona Centro-Sul da cidade, o médico omitiu informações sobre o real estado de Melina – que sofreu quatro paradas cardiorrespiratórias – e a clínica não apresentou condições para atender pacientes em caso de complicações.
Darlan e Melina Seixas
Ele relembra a cena que viu ao entrar na sala de cirurgia: “Ela estava no chão, sem nada, sem nenhum tipo de equipamento do lado, sem uma máscara de oxigênio, nada! Ela tava simplesmente deitada no chão, toda cianótica, ou seja, ela estava toda roxa, o rosto todo roxo, uma parte do braço roxo, uns hematomas no braço direito dela.”
O médico acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para socorrer Melina, mas isso, após ter informado à família que a cirurgia tinha ocorrido bem. Darlan só soube do estado da esposa porque conseguiu entrar na sala com a equipe do Samu.
“Não me comunicou nada, não falou nada, ele omitiu realmente a informação de que ela estaria passando mal ou teria passado mal durante ou depois do procedimento. […] Poderíamos ajudar de alguma forma e ele nos tirou esse direito de conseguir ajudar a Meliana. Ele precisa responder pelos atos dele”, desabafou o marido de Melina.
Conforme Darlan, a equipe do Samu enfrentou diversas dificuldades para transportar Melina, já que a clínica fica no quinto andar de um prédio e os elevadores não comportam macas. Ela foi levada ao Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, mas não não resitiu e morreu. Ela deixou uma filha de 15 anos.
O pai da jornalista, o defensor público aposentado e ex-prefeito de Barreirinha por três vezes, Gilvan Seixas, divulgou nesse domingo (10), uma carta pública em suas redes socias revelando um outro caso de suposta negligência médica envolvendo Edson Honorato. À reportagem, ele cobrou respostas do Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas (CRM-AM ).
“A nossa estranheza está em cima do CRM, porque não vejo como advogado nenhuma necessidade de não representarmos um fato público e notório que o conselho, de ofício, poderia tomar a providência no sentido de apurar, mesmo que com o contraditório, mesmo que ouvindo o médico, pudesse estabelecer um procedimento para apurar essa responsabilidade”, afirmou.
Nova denúncia
Alan Leite Braga, 65, morreu no dia 6 de abril, uma semana após realizar o mesmo procedimento com Edson Honorato. O idoso morava no Careiro Castanho e, assim como Melina, pagou R$ 7,5 mil para o médico. Segundo a filha de Alan, que preferiu não ter seu nome divulgado, o pai teve uma série de complicações após a cirúrgia e não recebeu as orientações adequadas.
“Ele ficou passando mal na recepção da clínica. Vomitou um líquido azul e depois um pouco de sangue, mas o médico disse que era normal”, disse. Ele ficou com a pressão bem alta, e ele não tinha problema de pressão”, completou.
Clínica onde os pacientes realizaram as intervenções
Dias depois, o paciente teria voltado à clínica para pedir a remoção do balão intragástrico, pois não suportava mais as complicações, porém, segundo a filha, o médico se recusou. O idoso teve uma piora no quadro e foi para o HPS 28 de Agosto, no hospital, foi constatado que ele estava com insuficiência renal e teve o estômago rompido.
Para a filha do paciente, o médico “não conheceu o paciente que tinha”, tendo em vista que não solicitou os exames necessários antes da intervenção. Assim como a família de Melina, a filha de Alan apresentou denúncia contra Edson Honorato no 22° Distrito Integrado de Polícia (DIP).
Favorecimento à prostituição
O médico Edson Ritta Honorato foi preso em flagrante no dia 5 de abril, suspeito de favorecimento à prostituição praticado contra uma adolescente de 16 anos e exploração de trabalho infantil. A prisão ocorreu em um condomínio na Zona Leste de Manaus. Ele nega o crime, mas a polícia afirma ter indícios de que a prática era recorrente em sua casa.
Segundo a titular da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), Joyce Coelho, Honorato já estava sendo investigado há dois meses, quando chegaram ao conhecimento da polícia diversas denúncias informando que ele levava várias garotas para o local.
Apesar do flagrante, ele teve a prisão relaxada pela Justiça dois dias depois, sob alegação de “ausência de indícios suficientes do estado de flagrância do custodiado e a ausência de formalidades essenciais do auto de prisão em flagrante”. A juíza Themis Catunda de Souza Lourenço afirmou na decisão que a autoridade policial “nem sequer anexou aos autos do processo os termos de depoimentos dos policiais responsáveis pela prisão em flagrante”.
O Portal AM1 procurou a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), mas o órgão informou está em ponto facultativo; a reportagem aguarda respostas. Já o CRM-AM informou que, seguindo resolução do Conselho Federal, não pode dar informações sobre sindicância porque o processo é sigiloso.
Apesar das denúncias, o médico ainda não teve o registro profissional suspenso e segue em liberdade, o que gera mais revolta na família de Melina Seixas: “São crimes gravíssimos contra a dignidade humana e isso, portanto, potencializa a nossa revolta em função de ser uma pessoa completamente irresponsável, de um temperamento discutível, se é um sociopata, se é um psicopata e que veste uma bata de médico para prestar serviço incessantemente, colocando em risco os seus pacientes”, disse Gilvan Seixas.
Outro lado
A reportagem foi até a Clínica de Honorato na quinta-feira (14), mas a unidade estava fechada. O Portal AM1 também solicitou respostas por e-mail, mas até o momento da publicação da matéria, não houve resposta; espaço segue aberto para esclarecimentos.
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