quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Médico denunciado por morte de bebê depois do parto é afastado do trabalho, no DF

 

Caso ocorreu em 2021, em hospital particular de Brasília. Família acusa Shakespeare Novaes Cavalcante de Melo de negligência; g1 tenta contato com defesa do obstetra.


Bebê Bernardo segurando dedo do pai, logo após parto

O médico Shakespeare Novaes Cavalcante de Melo foi afastado do trabalho em uma maternidade particular na região do Sudoeste, em Brasíliaapós ser denunciado por homicídio culposo pela JustiçaO obstetra se tornou réu após a morte de um bebê depois do parto, em 2021.

A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da Maternidade Brasília, nesta terça-feira (8). O g1 tenta contato com a defesa do médico.

Na segunda (7), Shakespeare Novaes disse que "lamenta profundamente o caso", e que "sempre pautou o trabalho com base na aplicação de técnicas e métodos amplamente conhecidos no meio científico". Ele disse que será comprovado que "não agiu com negligência, imprudência ou imperícia".

Segundo o Ministério Público, houve negligência na atuação do profissional. A investigação apontou que o recém-nascido sofreu traumatismo craniano depois que o médico inseriu uma ferramenta, conhecida como "vácuo extrator", para tentar retirá-lo do útero da mãe. A família afirma que o parto foi "assustador".

Procedimento na maternidade


Imagem ilustrativa de um vácuo extrator

Segundo a família, a mãe do bebê, Beatriz Mendonça, chegou ao hospital particular em trabalho de parto e a médica plantonista que a atendeu indicou que deveria ser feita uma cesariana. No entanto, os parentes afirmam, que o médico Shakespeare Novaes insistiu que "induziria um parto normal".

Durante o procedimento, ele usou o "vácuo extrator" para sugar o bebê, de dentro do útero, pela cabeça. De acordo com o pai da criança, Paulo Neto, o procedimento assustou a família.

"Depois de muitas tentativas e posições, enfim, um estampido muito forte. Um barulho muito forte, como se fosse um desentupidor de pia mesmo. Eu orava nessa hora, eu não conseguia reagir", conta o pai.

Como não conseguiu retirar o bebê, o médico acabou optando por uma cesariana de emergência. Bernardo nasceu e, em seguida, foi intubado e levado para a unidade de tratamento intensivo (UTI).

"Naquele momento, parece que meu mundo parou", afirma o pai do bebê.

Bernardo morreu 13 horas após o parto. De acordo com a família, o médico disse que a causa da morte foi parada cardíaca, mas Paulo desconfiou da versão e pediu a necropsia do corpo no Instituto Médico Legal (IML).

O laudo do IML apontou que o bebê morreu por asfixia por sofrimento fetal agudo, e por traumatismo cranioencefálico, causado pelo uso do vácuo extrator.

Laudo do IML sobre morte do bebê Bernardo

Investigação


Os pais de Bernardo registraram um boletim de ocorrência contra o obstetra Shakespeare Novaes Cavalcante de Melo, na 3ª Delegacia de Polícia, na região do Cruzeiropor erro médico.

"Havia uma contraindicação absoluta para o uso do vácuo extrator", que gerou um "tocotraumatismo", um tipo de lesão causada pelo trabalho de parto, "que foi determinante para o óbito de Bernardo", aponta um parecer da Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde.

Shakespeare Novaes Cavalcante de Melo também responde a um outro processo no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), em que os autores alegam que ele cometeu um erro médico durante o parto, que causou deficiências e problemas de saúde em um bebê. O caso está na 2ª Vara Cível de Samambaia.

Para Paulo Neto, a vida do filho serviu como uma lição. "Acho que essa é a maior lição que o Bernardo deixou pra gente. Porque nosso filho não vai voltar. A gente tem consciência disso todos os dias. Mas ele, a memória dele, vai ser lembrada pra que outros pais não passem pelo que a gente passou", diz.








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