Maria Clara teria, conforme denúncia da família, teria sido impedida de ser transferida para outro hospital onde poderia ser salva
Maria Clara teria, conforme denúncia da família, teria sido impedida de ser transferida para outro hospital onde poderia ser salva.
A morte de uma criança de três anos na noite da sexta-feira (18), na área vermelha do Hospital Clodolfo Rodrigues de Melo, em Santana do Ipanema, é motivo de muita revolta da família, que acusa médicos do hospital de terem provocado a morte da menor. A denúncia foi feita durante entrevista exclusiva da família da vítima ao programa "Liberdade de Expressão", da Rádio Milênio (90,7 FM).
Filha única do casal de agricultores Edmilson dos Santos Viana, conhecido como "Novinho", 25, e Maria Aparecida, 23, ambos moradores do Sítio Bom Sucesso, zona rural de Olivença, a pequena Maria Clara foi levada pelos pais no início da tarde do último domingo (13) para o hospital, após reclamar de dores no abdômen e apresentar sintomas de febre.
“No domingo de madrugada a gente acordou com ela chorando, dizendo que tava com dor de barriga. Demos um chá e ela dormiu um pouco, mas acordou de novo chorando e com ânsia de vomito. Foi a manhã toda assim e depois do almoço minha mulher notou que ela tava com febre, e, por volta das 3 horas da tarde, levamos ela para o hospital de Santana. Lá, na pediatria, deram dois soros na minha filha com dipirona, ai, por volta de umas 9 horas da noite, mandaram vim embora, com o receituário pediátrico... Um antigases e um Paracetamol (medicamento indicado para o tratamento de febre e que também colabora com auxílio temporário das dores leves e moderadas), que eu comprei na segunda (14) de manhã”, explicou o pai da menina.
Porém, na tarde do mesmo dia, Maria Clara voltou a sentir as mesmas dores, sendo levada de volta pelos pais para o hospital, onde foram realizados alguns exames e a menina ficou internada.
“Colocaram minha filha numa sala de observação, fizeram exames de sangue e urina e disseram que ela estava com infecção no sangue, daí deram um antibiótico e levaram ela para a pediatria infantil, que fica distante da sala dos médicos, lá do outro lado. No outro dia, quando eu fui visitar a menina, ela estava pior, tava inchada e com umas manchas vermelhas nas mãos. Toda vez que eu ia lá, minha filha pedia para coçar as mãos, os pés, a barriga e as costas. As manchas haviam se espalhado pelo corpo, e na quarta-feira (16), quando a gente chegou no hospital, vimos que a menina estava piorando e pedimos para a enfermeira transferir ela daquele local. Mas, a enfermeira saiu e quando voltou não disse nada. Aí minha esposa, desesperada, pegou nossa filha, a colocou nos braços e subiu as escadas até a UPA. E foi aí, depois de muitos apelos, que transferiram ela para a área vermelha”, desabafou, chorando, o pai da pequena Maria Clara.
“Eu cheguei no hospital na quinta-feira e esperei o pediatra sair da área vermelha e, quando perguntei qual era o caso da Maria Clara, o médico não sabia de nada. A menina estava bastante inchada e os médicos só davam dipirona e antibiótico, e cada vez mais a criança padecia. Eu perguntei ao doutor se era necessário algum exame mais avançado e ele disse que no hospital não tinha exame nenhum avançado. O que o médico falou para a gente é que havia pedido uma tomografia, mas nenhum de nós viu o resultado. A última vez que falei com Maria Clara ela colocou a mãozinha na barriga, sinalizando que estava doendo e me pediu para assistir o desenho dela favorito e disse que estava com sede. Mas eu sabia que ela não podia tomar água porque estava tomando soro. Foi nessa hora, para minha surpresa, que ela colocou para fora uma secreção verde. Eu chamei na mesma hora a técnica de enfermagem e disse que aquilo não era normal e a menina chorando dizendo que a dor estava no peito. A técnica disse que a menina estava febril e não chamou o médico, dizendo que ele estava no banheiro. Instantes após a menina começou a colocar mais secreção, dessa vez preta. Ai eu entrei em desespero e comecei a gritar por socorro, e como não aparecia ninguém, coloquei a Maria Clara nos braços e sai correndo pelo hospital até encontrar um médico e a menina ter uma parada cardíaca”, narrou a prima da vítima, Lidiane.
“Após isso, entubaram a menina, alegando que ela estava com pneumonia aguda. A gente, com medo do pior, insistiu para transferir ela para outro hospital. Isso depois de muito tempo que que disseram que Maria Clara precisava de uma UTI Pediatra, que não tem no hospital de Santana. Somente depois da gente insistir bastante, foi que nos avisaram que tinham conseguido uma UTI no Hospital da Mulher, em Maceió, só que a médica em Maceió exigiu o diagnóstico completo da menina e quando eles tiraram as fotos do diagnóstico e mandaram para a médica, ela falou que naquele estado, se a menina fosse de ambulância, não ria resistir. Eles já tinham pedido uma ambulância do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e depois disso mandaram a ambulância retornar. Aí eles disseram que tentaram o HGE (Hospital Geral do Estado), mas disseram que lá não tinha vaga. Eu implorei para que chamassem um helicóptero, mas o médico baixou a cabeça e não fez nada. Inclusive, naquela manhã, um enfermeiro do Samu esteve no hospital e foi olhar a Maria Clara e viu que ela estava em condições de ir de ambulância até um certo trecho e acionar o helicóptero para levá-la para o HGE em Maceió em 40 minutos. Mas, o médico disse que não tinha vaga. Já na sexta-feira (18), nós ligamos para um hospital particular em Arapiraca e conseguimos uma vaga para a UTI Pediatra e quando fomos solicitar do médico o diagnóstico, para que a menina, que estava entubada, fosse transferida, eles negaram. Não levaram em conta que entre quinta e sexta de madrugada minha prima teve quatro paradas cardíacas, num total de seis ao todo”, falou Lidiane.
“No final, percebendo que a menina podia morrer, o médico se arrependeu e disse que ia transferir. Eu vou sair do plantão 8 horas, mas vou fazer de tudo para a menina ser transferida. Eu senti que ele estava arrependido, mas já era tarde. E quando outra médica assumiu o plantão e viu a menina entubada, começou a chorar dizendo que era um caso gravíssimo e que iria tentar salvar a vida de Maria Clara. Depois de alguns minutos, ela me perguntou se a menina tinha se engasgado porque o pulmão dela estava comprometido e que seria necessária uma cirurgia de emergência, pois corria risco de óbito. E realmente fizeram a cirurgia no horário da tarde, pois havia risco de apendicite. Se a menina se saísse bem, iria transferir ela para Maceió no helicóptero. Porém, à noite, por volta das 21 horas, avisaram pra gente que ela havia morrido”, finalizou Lidiane.
Revoltados, os familiares dizem que Maria Clara “só queria viver e lutou até o fim pela vida, que quem era para salvá-la fez, tudo para tirá-la”. A família levou o caso para a Polícia Civil (PC/AL), onde, após relatar todo o drama, confeccionou um Boletim de Ocorrência (BO).
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