quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Por que os pacientes assumiram o comando da consulta médica

Com a facilidade de acesso a informações, eles fazem perguntas, exigem dados, querem tomar as decisões de saúde e não apenas acatar as que vêm do médico. E isso não significa desafiá-lo
 
Consulta médica: o primeiro passo é estar bem informado (Foto: Thinkstock/Getty Images)
 
A médica inglesa Kathleen Thompson viveu uma situação dramática quando foi diagnosticada com câncer de mama – e não foi o diagnóstico. Kathleen teria de passar por uma aplicação de radiação no tumor para reduzi-lo de tamanho e, depois, partir para a cirurgia. De posse de seus exames e com o diploma de medicina na bagagem, ela percebeu que o médico que a atendeu marcou o local errado para aplicar a radiação. E é aqui que a situação piora: ele não deu ouvidos a Kathleen quando ela o alertou. A aflição da médica-paciente só terminou às vésperas do procedimento, quando Kathleen resolveu insistir no assunto. “O que eu passei me fez pensar em como deve ser difícil para uma pessoa que não possui conhecimentos médicos ter de encarar um tratamento para qualquer doença sem sequer entender direito o que está acontecendo”, diz Kathleen. Ela resolveu escrever um livro, Dos dois lados do estetoscópio (From both ends of the stethoscope no título original, sem edição no Brasil), para orientar outras mulheres a assumir os rumos do próprio tratamento. “Às vezes, é preciso questionar condutas que não estão corretas”, afirma Kathleen.
 
Pacientes como Kathleen, que perguntam, buscam informações fora do consultório e escolhem junto com o médico os melhores caminhos a seguir, são cada vez mais comuns nas clínicas médicas. E eles nem precisam ter uma formação em saúde ou biologia para assumir o papel de copiloto no tratamento. São pessoas que descobriram que aquilo que a medicina começou a chamar recentemente, com pompas, de processo de decisão compartilhada não se trata de desafiar o médico com informações retiradas do Dr. Google (quem nunca?!), mas sim de estreitar relações com o profissional. E perguntar. E perguntar mais um pouco. É dessa maneira que o médico pode levar em conta os valores do paciente para ajudá-lo a escolher a melhor maneira  de acompanhar e tratar uma condição de saúde. Sem margem para imposições e para dúvidas. “A confiança cega no médico é um paternalismo arcaico que não cabe mais nos dias de hoje”, afirma a bioeticista espanhola María del Carmen Garcia, que estuda o assunto.
 
Decidir junto com o médico sobre como tratar uma doença é uma mudança radical na estrutura da relação entre profissional e paciente. Por décadas, cabia ao médico diagnosticar e indicar as condutas mais adequadas para cada caso. Ao paciente, cumpri-las. No meio do caminho, restavam pacientes confusos ou insatisfeitos com as decisões tomadas. A decisão compartilhada é mais do que apenas conversar e tirar dúvidas com o médico: é um processo para o paciente deixar claro para o profissional que o atende – e, às vezes, até para si – o que é mais importante para ele. Nesse processo, as decisões técnicas do médico levam também em consideração os valores do paciente, que podem ser diferentes dos seus. “É uma escolha que tem como princípio a aceitação de valores entre médico e paciente”, afirma o médico Reinaldo Ayer de Oliveira, da Universidade de São Paulo e coordenador do Centro de Bioética do Cremesp.
 
Decisões sobre tratamentos invasivos são um clássico. Para um paciente que descobre um tumor cerebral com características benignas, pode ser melhor acompanhar a evolução do tumor por anos, antes de partir para uma cirurgia que ele considera assustadora. Para o médico, pode ser melhor operar imediatamente para que o paciente não tenha de se preocupar por anos com o tumor. Ou o contrário: o médico pode achar prudente esperar, mas para o paciente a ideia de conviver com um tumor pode ser um tormento psicológico insuportável. Ciente dessas diferenças de valores, o médico serve como guia do paciente no processo de decisão – tem o conhecimento técnico para isso (ele dirá se é seguro manter o tumor, quais são os riscos de uma cirurgia) –, mas não imporá uma decisão com base em seus valores.
 
Como essa mudança na relação médico-paciente interfere nos desdobramentos dos tratamentos e na saúde geral dos pacientes é algo que a ciência está começando a medir. Algumas pesquisas sugerem que ainda faltam instrumentos concretos para medir o que é, de fato, um processo de decisão compartilhada. Já existem escalas que servem como parâmetros, mas elas nem sempre são usadas, o que torna a avaliação subjetiva. Mas as primeiras conclusões sugerem resultados promissores. Um levantamento feito por duas pesquisadoras americanas, que avaliaram 39 estudos sobre decisões médicas compartilhadas, encontrou em 54% das pesquisas melhorias em aspectos afetivo-cognitivos, como redução de preocupações com a doença, de ansiedade após a consulta e de conflitos e dúvidas para tomar decisões. Outros 37% apresentaram mudanças no comportamento dos pacientes, como aderência ao regime de medicamentos. Alguns estudos analisaram indicadores de saúde, como avaliação de bem-estar e pressão arterial. Em 25%, as conclusões parecem ser positivas. Mas, como foram poucos os estudos e as medidas muitas vezes foram relatadas pelos pacientes, os pesquisadores consideraram que ainda faltam dados para confirmar esse tipo de resultado.
 
A decisão médica compartilhada segue o caminho inevitável aberto pelo avanço da ciência – cada vez mais se entendem as vantagens e os riscos de diferentes técnicas e de medicamentos – e pela facilidade de acesso às informações, proporcionada pela internet. É natural que os pacientes recorram a outras fontes de informação na ânsia de entender melhor sua condição, o que se traduz (ou deveria) em mais conversas com o médico. Para os profissionais de saúde, a nova realidade não é nenhuma surpresa. A maioria não entende mais essa postura como uma afronta ou como um sinal de desconfiança. Mas isso também não significa que esteja, de fato, levando em consideração os anseios e valores dos pacientes. Se esse for o caso, a recomendação do médico americano Glyn Elwyn, que lidera uma equipe especializada em implantar processos de decisão compartilhada, é radical: procure outro médico. “Mais do que a habilidade, o que importa no médico são suas atitudes: ele precisa ser humilde, estar disposto a explicar, ouvir e a respeitar a visão do paciente”, afirma Elwyn.
 
A seguir, um pequeno guia de como estreitar a relação de confiança com seu médico.
 


Médica se torna referência ao cuidar de crianças com câncer em Campinas

A médica Silvia Brandalise aumentou os índices de cura da leucemina infantil e o Centro Boldrini, em Campinas, é hoje referência para todo o Brasil.
 
Dra. Silvia Brandalise
 
Na segunda reportagem da série sobre médicos que dão exemplo de amor à profissão, você vai conhecer a história de uma pediatra que criou um hospital para tratar crianças com câncer. A médica Silvia Brandalise contribuiu também para aumentar os índices de cura da leucemina infantil e o Centro Boldrini, em Campinas, no interior de São Paulo, é hoje referência para todo o Brasil.
 
Não há quem fique indiferente ao ver os pequenos guerreiros numa batalha tão dura.
Mas a pediatra fechava os olhos. "Na enfermaria onde eu era chefe, 50 leitos, eu sabia a história de todas as crianças, eu visitava todas as crianças, mas as de câncer eu pulava. A gente se poupa do sofrimento", diz Silvia.
 
Não adiantou fugir do destino. Quando o André, sobrinho de uma amiga, teve leucemia aos 5 anos de idade, a doutora Silvia enxergou a verdadeira vocação. “Um dia entrei chorando, pedi para ela me tratar, que a gente confiava nelal”, conta André.
 
“Ele chorou e ele falava 'Tia pelo amor de Deus cuida de mim!' Mas eu falei eu não posso, eu não sei", relembra Silvia.
 
Começo difícil

 A pediatra mergulhou no universo da oncologia. Em 1978 pediu demissão do hospital onde trabalhava para alugar uma casa e criar uma clínica de tratamento do câncer infantil.
 
“Eu saio de uma chefia de enfermaria com secretária, máquina elétrica etc... E tenho que ir para um lugar onde eu tinha que varrer chão, eu tinha que limpar pia, tinha que pegar veia, não tinha cadeira, não tinha mesa, não tinha nada", conta
 
Como a procura era grande, a clínica foi para uma casa maior.  Mas faltava lugar para internar os pacientes. “E nessas coisas eu resolvi levar para minha casa, porque sempre cabe mais um. Aí as crianças ficavam eu tive um que ficou quase 4 meses na minha casa”, conta Silvia.
         
Investimento de US$ 1,5 milhão

 Era o embrião de algo muito maior. Na década de 1980, a doutora Silvia ganhou um terreno e um investimento de US$ 1,5 do Instituto Bosch para construir o hospital Boldrini de Campinas, hoje uma referência no país para o tratamento de câncer infantil e doenças do sangue.
 
Quando trabalhava num hospital de Campinas, a doutora Silvia se impressionou com um paciente internado com câncer. Deprimido, ele se queixava muito de ficar num quarto frio, sem janelas e sem espaço para  acompanhante. A mãe dele dormia no chão. Por isso quando projetou o hospital Boldrini, a médica queria um lugar arejado, colorido, com ambientes alegres, que ajudasse no tratamento. Ela conseguiu isso e deixou um legado ainda maior.
 
São 9.000 crianças atendidas por ano. Muitas pela própria presidente do hospital.
Hospital virou referência científica

 A medicação aplicada, os procedimentos de atendimento e o acompanhamento do paciente são descritos em relatórios que depois passam pela análise de um grupo de estudos científicos coordenado pela doutora Silvia Brandalise. Esse trabalho que começou lá, hoje envolve outros 24 hospitais do país.
 
Essa monitoria e padronização salvaram vidas. No caso da leucemia em crianças de 4 a 6 anos, apenas 5% dos pacientes sobreviviam na década de 1970. Na década de 1980, esse índice saltou para 50% e para 70% de sobrevida na década de 1990. Nos dias atuais, a chance de cura chega a 80%.
 
"Não são as curadas que me impulsionam o trabalho, são aquelas que eu não consigo curar", diz Silvia. A cada dia um novo desafio. Oito meses de investigação para descobrir a doença rara no sangue do Gustavo que tinha desmaios frequentes.

“Até chegar a conclusão final dele, ela só dizia desde o início que era raro e que ela ia investigar até o final. E ela conseguiu. Graças a Deus ela foi um anjinho na vida dele”, conta a mãe do menino, Tuany Martins.
 
“Eu tenho uma necessidade visceral de compreender o que eu estou fazendo, e para compreender eu sou obrigada a estudar. Sou obrigada a perguntar pra quem sabe mais do que eu em determinadas áreas da medicina”, diz Silvia.
 
A médica não tira férias há 30 anos. Vive para o trabalho e a família. Dois dos 4 filhos fizeram medicina. Também tem 8 netos. E um agregado, o André, o primeiro paciente de leucemia.
 

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Pequeno guia do paciente bem informado

Sete perguntas para fazer ao médico antes de se submeter a exames e iniciar tratamentos
 
 
 
Nem sempre os riscos de um exame ou a eficácia e possíveis efeitos colaterais de um tratamento ficam claros para o paciente. Desse jeito, tomar uma decisão sobre tratar ou não tratar um sintoma ou uma anormalidade detectada em um exame fica mais difícil. É nessa hora que ocorre o que alguns médicos chamam de excesso de diagnóstico: quando tratar faz mais mal do que bem. Saiba quais perguntas fazer ao médico nessa hora - e por que elas são importantes.
 
 
 

Colesterol: receitamos remédios a quem não precisa?

No Brasil, são medicados os pacientes com risco baixo de desenvolver doenças cardíacas. A ideia é prevenir. Até que ponto traz benefícios?
 
Saúde do coração – alguns críticos argumentam que as diretrizes brasileiras para colesterol são muito rígidas
 (Foto: FreeImages)
 
 
A questão
As doenças cardiovasculares são a causa número um de mortes no mundo inteiro. São males como infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC), que, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, mataram 17,7 milhões de pessoas em 2015 – 31% das mortes globais. No Brasil, foram 340 mil nesse mesmo ano. Muitas vezes, prevenir esses problemas envolve mudar os maus hábitos. Deixar de fumar, mudar de dieta e fazer exercícios físicos são alguns exemplos. Há casos em que os médicos recomendam o uso de medicamentos para prevenir ou controlar o colesterol alto.
 
Eles são indicados naquelas ocasiões em que simples mudanças comportamentais não bastam para baixar os níveis de colesterol no organismo. Em níveis normais, o colesterol é uma substância essencial. Quando fora de controle, o chamado colesterol ruim – ou LDL – obstrui vasos sanguíneos e pode trazer prejuízos para a saúde. Nesses casos, o mais comum é os médicos receitarem uma substância chamada estatina. “São remédios que fazem com que o fígado capte o colesterol do sangue”, diz André Faludi, presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Cardiol). “Isso faz os níveis de LDL no sangue cair.” Mas existe, hoje, a suspeita de que somos liberais demais no uso desses remédios no Brasil. E de que, por aqui, são medicadas pessoas para as quais as estatinas, e outros compostos semelhantes, trarão pouco – ou nenhum – benefício.
 
A polêmica gira em torno da Diretriz Brasileira de Displemias e Prevenção da Aterosclerose. Trata-se de um documento, feito pela Cardiol, que estabelece orientações sobre os níveis de colesterol considerados seguros para diferentes perfis de paciente. Segundo as diretrizes de 2013, pacientes com risco alto, por exemplo, são aqueles que sofreram, no passado, um infarto ou derrame. Ou que enfrentam problemas como diabetes e doença renal crônica. Eles requerem cuidado, e a Cardiol recomenda manter seu colesterol ruim abaixo de 70 miligramas por decilitro de sangue. Para pacientes considerados de risco intermediário, a meta de colesterol ruim é de 100 miligramas por decilitro ou menos. E, para os pacientes de baixo risco, a meta é individualizada. 
 
Na primeira quinzena de agosto, a Cardiol publicou uma atualização do documento. As novas recomendações incluem um novo perfil de paciente – os de risco “muito alto”. São aquelas pessoas que já sofreram eventos cardiovasculares e que, pelo documento anterior, entravam no grupo de risco alto. O novo grupo inclui, também, pessoas que possuem algum entupimento importante e já passaram por cateterismo – um tipo de procedimento usado para avaliar a obstrução das artérias. Para eles, passa a valer meta ainda mais restritiva: o objetivo é manter o LDL abaixo de 50 miligramas por decilitro.
 
Alguns críticos argumentam que essas recomendações são rígidas demais – e acabam transformando pessoas saudáveis em pacientes: “Elas forçam um pouco a barra”, diz Paulo Andrade Lotufo, cardiologista e professor do Departamento de Medicina da USP. “Pelos critérios da Sociedade de Cardiologia, quase todo mundo precisa tomar remédio.” Nós exageramos na medicação?
 
O que a ciência diz
 
Alguns estudos sugerem que sim. As diretrizes brasileiras são muito mais rígidas que as americanas, por exemplo. Uma pesquisa publicada pela Cardiol sugere que, se seguirmos à risca a nossa diretriz, o Brasil gastará muito mais com a prevenção de doenças cardiovasculares que os Estados Unidos. Segundo o estudo, 85% das mulheres e 60% dos homens que foram considerados elegíveis para tomar estatinas, pela diretriz brasileira de 2013, não seriam candidatos a tomar o medicamento pela diretriz americana.
 
Nos Estados Unidos, os médicos trabalham com a ideia de que deve tomar remédio somente aquele paciente que, seguramente, pode se beneficiar dele: “Os americanos não trabalham com metas de colesterol”, diz Fernando Cesena, cardiologista do Hospital Albert Einstein e um dos pesquisadores que comandaram o estudo. “A diretriz americana estabelece um grupo de pacientes que merecem tratamento medicamentoso.” Pelos critérios americanos, tomam remédio somente aqueles pacientes que, na diretriz brasileira, estariam nos grupos de risco alto e muito alto – aqueles que já sofreram um infarto, por exemplo.  É muito menos gente.
 
A diretriz brasileira não deixa claro, mas é comum que, por aqui, sejam medicados também aqueles pacientes em risco intermediário e, em alguns casos, os de baixo risco. Essa decisão é baseada numa avaliação que o médico faz das chances de o paciente desenvolver alguma doenças cardiovascular no futuro. Essas pessoas ainda não estão doentes: “Mas o ideal é tratar antes de o problema aparecer”, diz Faludi, da Cardiol. “Pense em alguém que, na juventude, tem colesterol alto. Ainda que a pessoa não tenha sofrido nenhum derrame ou infarto, ao ministrar o medicamento, eu reduzo as chances futuras de ela sofrer com esses problemas.”

Esse tipo de prevenção com medicamento é uma postura questionada pela ciência. Uma análise publicada pelo revista científica britânica BMJ chegou à conclusão de que, para pacientes de baixo risco, não há evidências de que as estatinas tragam benefícios no balanço com os efeitos colaterais para esses casos. Segundo o estudo, os pacientes que tomam as estatinas têm 10% a mais de chances de desenvolver diabetes.
 
O que fazer?
As diretrizes brasileiras são mais rígidas, mas não são uma lei: “Elas não são uma bíblia”, diz Cesena. “Uma verdade absoluta que precisa ser seguida à risca.” Antes de receitar um medicamento, que tem impactos econômicos e possíveis efeitos colaterais, o ideal é que o médico considere as circunstâncias em que vive o paciente. E que compartilhe com ele essa decisão. Sobretudo se o objetivo for usar o medicamento como estratégia de prevenção, no caso daquele paciente de risco intermediário e baixo.

Mudanças no estilo de vida também são importantes, como a combinação da prática de exercícios físicos diários com uma dieta balanceada. Ingerir alimentos como cereais, frutas, legumes, vegetais e peixes ricos em ômega 3 pode auxiliar. Mas só isso pode não ser o suficiente em todos os casos. O médico é a melhor pessoa para ajudar a decidir a estratégia. “É importante colocar para o paciente quais são as opções, e quais os benefícios esperados. Benefícios de curto e longo prazo”, afirma Cesena.
 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Comissões analisam projeto que cria programa de residências médica e multiprofissional em Brusque

A fim de sanar inconsistências, Executivo deverá apresentar substitutivo global ao texto encaminhado à Câmara
 
 
 
O Projeto de Lei Ordinária 28/2017, que dispõe sobre o funcionamento de um programa de residências médica e multiprofissional nas unidades básicas de saúde e hospitais públicos de Brusque, esteve em pauta na tarde desta quinta-feira, 17, em reunião da Comissão de Constituição, Legislação e Redação, e da Comissão de Finanças, Orçamento e Fiscalização Financeira.
 
De iniciativa do poder Executivo, o projeto foi encaminhado à Câmara no final de junho. De acordo com o texto, o programa de residência será destinado a estudantes, docentes e trabalhadores da área da Saúde. Para colocar a proposta em prática, o município deverá celebrar convênios com instituições de ensino superiores universitárias, públicas ou privadas, por meio da Secretaria Municipal Saúde.
Conforme encaminhamentos da reunião, o projeto de lei ainda passará por edições de ordem técnica antes de ser submetido à deliberação pelo Legislativo. Uma das inconsistências a serem sanadas diz respeito ao financiamento da execução do programa.
 
Previa-se, inicialmente, a utilização exclusiva de recursos oriundos do Programa de Melhorias do Acesso e da Qualidade (Pmaq), mas tal vinculação não é permitida. Diante desta e outras questões, um substitutivo global ao projeto original deverá ser apresentado pelo Executivo.
 
Participaram do encontro os vereadores Marcos Deichmann (PEN), Sebastião Lima, o Dr. Lima (PSDB), Deivis da Silva, o Deivis Jr. (PMDB), Ana Helena Boos (PP), Paulinho Sestrem (PRP) e Jean Pirola (PP); representantes do governo municipal, como o secretário de Saúde, Humberto Fornari, da Associação Brusquense de Medicina (ABM), Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sinseb), Centro Universitário de Brusque (Unifebe) e Comissão de Residência Médica (Coreme).
 

Médico lança livro gratuito que desmistifica o TDAH




O neuropediatra do Instituto NeuroSaber Dr. Clay Brites é o autor do e-book “Mitos e Verdades sobre o TDAH - Entendendo para incluir”. A obra esclarece dúvidas sobre o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). O livro pode ser baixado gratuitamente pelo link http://entendendoautismo.com.br/e-book-mitos-e-verdades-sobre-o-tdah/ .

Para o especialista, há muitas informações deturpadas e preconceituosas propagadas pelo senso comum sobre o assunto. Por exemplo, algumas pessoas falam que o transtorno é uma doença inventada. Porém, o TDAH é uma das condições médicas mais pesquisadas e posta à prova de evidências científicas. “Seus mecanismos neurobiológicos são conhecidos desde a década de 50”.

Segundo Brites, outro erro discutido no e-book é sobre o conceito equivocado das pessoas em afirmar que TDAH é igual a hiperatividade. E não é verdade. “De 30 a 40% das crianças com TDAH só apresentam déficit de atenção, mas não são impulsivas nem hiperativas”.

Mais um equívoco muito falado é que o transtorno se trata de um problema de cunho social e culpa dos pais e educadores. Pelo contrário, o especialista explica que o TDAH não é resultado de má educação, falta de limites, perda de oportunidades, abandono afetivo nem lares desajustados. “Existem pesquisas recentes que mostram que a incidência de TDAH é mais ou menos igual em todo o planeta independente da cultura e nível social”.

- Alguns podem não saber, mas crianças inteligentes e espertas, e ainda de boas famílias, quando portadoras de TDAH tem seu potencial intelectual e funcional no ambiente muito mais reduzido e prejudicado. E isso não é culpa dos pais nem de professores – ressalta.

Outro erro esclarecido no e-book é o fato das pessoas acreditarem que todos os profissionais da saúde sabem identificar o transtorno. Segundo o neuropediatra, a capacidade de diagnosticar requer conhecimento profundo sobre todos os aspectos do TDAH, como, por exemplo, saber analisar o quadro clínico, o perfil do portador, os aspectos neuropsicológicos e entender os protocolos internacionais para o diagnóstico e tratamento.

- Nossas faculdades de Medicina estão ainda em fase de implementação curricular acerca desse transtorno e muitas residências médicas ainda carecem de abordar o assunto sem muita teoria e muita pouca prática - alerta.

Por isso, Dr. Clay diz que é fundamental os pais e profissionais da educação pesquisarem bastante sobre o assunto para poder ajudar essas crianças. “Caso familiares e professores não se fiquem atentos ao problema, esse jovem pode ter grandes prejuízos e frustrações na aprendizagem escolar”.

Um dos idealizadores da Neuro Saber, Dr. Clay Brites é pesquisador e doutorando do Laboratório de Dificuldades e Distúrbios da Aprendizagem e Transtornos de Atenção (Disapre), da UNICAMP. Além disso, é professor de especialização em Neuropsicologia Aplicada à Neurologia Infantil na Unicamp e membro do Departamento de Neurologia da Sociedade Paranaense de Pediatria.

Ficha técnica:Título: “E-book Mitos e Verdades sobre o TDAH - Entendendo para incluir”
Autor: Dr. Clay Brites - Neuropediatra
Publicação: 2017
Formato: PDF
Preço: gratuito
 

domingo, 13 de agosto de 2017

Familiares acusam Pronto Socorro de São Gonçalo de negligência médica

Médicos desobedeceram ordem judicial
 
 
Parentes procuraram a Justiça para conseguir transferir Leonardo, mas ele já tinha morrido
          Foto: Sandro Nascimento
 
Familiares do motorista Leonardo Pinto dos Santos, de 42 anos, acusam médicos do Pronto Socorro de São Gonçalo (PSSG), no Zé Garoto, de negligencia médica e desobediência à ordem judicial. Leonardo morreu menos de 48 horas após dar entrada na unidade com diagnóstico de Acidente Vascular Cerebral (AVC).

De acordo com o administrador Claudio Barbosa, de 42 anos, cunhado da vítima, Leonardo que era morador do Galo Branco, foi levado ao hospital, na última sexta-feira (4), com diagnóstico inicial de AVC. No entanto, de acordo com familiares, uma tomografia para confirmar a suspeita só foi feita após insistência, na madrugada de sábado para domingo, quando conseguiram transferi-lo numa ambulância especial para o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê, já que o tomógrafo da unidade municipal estaria quebrado.

“Ficamos sabendo da internação no sábado e, de imediato, fui ao hospital. Quando cheguei, o primeiro questionamento que fiz foi a respeito da tomografia, já que só ela poderia mostrar se era AVC hemorrágico ou isquêmico. A médica disse que não havia feito porque a esposa dele não levou a identidade. Mesmo achando estranho, fui até à casa deles e, em menos de 15 minutos, retornei com o documento. Ela disse que necessitaria transferi-lo para o Heat, mas não havia ambulância. Fui até o hospital pedir ajuda e no caminho fomos informados que a Samu iria fazer a remoção até o Colubandê”, disse o cunhado.

Constatada a hemorragia, a unidade estadual não pode manter internado o paciente lá, que voltou para o PSSG. Familiares decidiram, então, procurar o plantão judiciário do Tribunal de Justiça, no Rio, para tentar a liberação de Leonardo da unidade municipal para algum outro hospital. O pedido da família foi deferido pelo juiz. Mas, para a transferência, a família precisava de um laudo dos médicos do PSSG sobre o caso, negado pelos profissionais, mesmo com ofício judicial em mãos.

“Pedi ao médico o laudo e ele disse que não daria. Fui ao plantão judiciário, que me garantiu que ele deveria cumprir a ordem. Voltei ao hospital e a resposta que recebi do médico era que ele poderia esperar 12 horas para responder”, disse Claudio.

De acordo com a irmã de Leonardo, a esteticista Luciana Oliveira, 38, desesperados, os familiares recorreram à Polícia Militar, que foi ao local e informou não se tratar de um caso de polícia. Mas, percebendo a aflição dos parentes, os policiais prometeram conversar com os médicos. Na volta, informaram sobre a morte do paciente, que morreu às 7h40 de domingo.

“Foi a PM que nos deu a notícia da morte. Meu irmão já estava morto e eles não nos falaram. O que fizeram foi de estrema crueldade. Pessoas habilitadas para salvar vidas estão matando. Se meu irmão tivesse recebido um atendimento adequado, poderia estar conosco”, disse. A família pretende entrar na Justiça contra o PSSG, acusando de negligência médica e desobediência de ordem judicial. Um registro policial foi feito na 72ª DP (Mutuá).

“Vamos entrar na Justiça contra esse hospital. Não pelo dinheiro, porque isso não vai trazer meu irmão de volta. É pelo descaso. Essas pessoas irresponsáveis precisam de punição. O que aconteceu com a minha família foi desumano e cruel”, afirmou.

A assessoria de imprensa da Prefeitura de São Gonçalo foi procurada, mas não deu retorno até o fechamento desta edição.
 
 

sábado, 12 de agosto de 2017

Ministério da Saúde propõe avanços na Política Nacional de Atenção Básica

O gestor poderá compor as equipes das Unidades Básicas de Saúde de acordo com a realidade e necessidade do município. A medida visa fortalecer as ações desempenhadas pela Estratégia Saúde da Família 
 
Reprodução
 
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, apresentou nesta quinta-feira (10) uma série de novas propostas que visam melhorias na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). A revisão da PNAB tem como objetivo reforçar a estratégia Saúde da Família como modelo prioritário para ampliação e resolutividade da Atenção Básica, respeitando as diferentes realidades de cada região. Para ouvir sugestões de gestores, usuários, profissionais de saúde, entre outros, o Ministério da Saúde abriu uma consulta pública, que encerra nesta quinta-feira. Até o momento, foram recebidas mais de 5,5 mil contribuições para a melhoria da Política.
 
A nova proposta deve ampliar a resolutividade na Atenção Básica, que, atualmente, soluciona cerca de 80% dos problemas de saúde da população, diminuindo a busca por atendimentos na rede de urgência e emergência. O gestor poderá compor a equipe das Unidades Básicas de Saúde (UBS) de acordo com a realidade e necessidade do município, ampliando o acesso a serviços básicos de saúde para toda a população brasileira. A consulta pública traz contribuições para esses modelos.
 
“A revisão da PNAB é mais uma ação que mostra o avanço de novas possibilidades em garantir o acesso de todos os brasileiros à saúde pública. Se conseguirmos 10% a mais de eficiência, já significa na prática, 12 milhões de consultas a mais na Atenção Básica. Também tem tudo a ver com este novo momento da informatização, onde as pessoas podem dialogar com os serviços de saúde, por meio dos novos instrumentos. E, evidentemente, a Política atual tem que se adaptar aos avanços que estão sendo implementados no sistema público de saúde”, destacou o ministro da Saúde, Ricardo Barros, durante coletiva.
 
O coordenador do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), Nilo Bretas, ressaltou que revisar a PNAB é o atual maior desafio da Atenção Básica, “Os municípios precisam reconhecer e trabalhar as propostas de novos modelos de equipes. Todo cidadão precisa ser tratado igualmente, com as mesmas condições. O novo modele deve se adequar as necessidades de cada região, unificando as áreas de atuação das equipes”.
 
Para o coordenador do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, Jurandi Frutuoso, “ os gestores irão estudar as condições de realizar adequadamente as novas propostas da PNAB. Os municípios terão autonomia para reorganizar a Atenção Básica local. Eles serão estimulados a colocar e prática o novo modelo, fortalecendo a atenção primária de cada região”. 
 
Entre as novidades, está a flexibilização de atuação das equipes da Saúde da Família (ESF), facilitando o trabalho e ações desempenhados pelos profissionais. Os agentes de saúde serão qualificados para realizar ações comuns nos domicílios que receberem a visita. A medida prevê a possibilidade do Agente Comunitário de Endemia (ACE) compor as equipes com Agentes Comunitários de Saúde (ACS), integrando as ações de Vigilância em Saúde com Atenção Básica. A mudança permite atendimento integral nas comunidades, dobrando a produtividade das equipes, ajustados às condições de saúde de cada região. A consulta pública poderá incorporar ou rever qualificações previstas para esses profissionais. Outra mudança, é que, além das equipes de Saúde na Família, os ACS passarão a apoiar outras equipes da Atenção Básica. Atualmente, existem 49 mil ACE e 260,7 mil ACS.
 
A partir de agora, também, todas as Unidades Básicas de Saúde, passarão a oferecer um conjunto de serviços essenciais para a saúde da população. Hoje, nem todas as unidades ofertam serviços como, pré-natal, acompanhamento de hipertensos e diabéticos, procedimentos cirúrgicos de pequena complexidade, aplicação de vacinas, entre outros. A partir da revisão proposta, estes serviços deverão ser ofertados aos cidadãos em todas as unidades do país.
 
A medida ainda deve ampliar o número de equipes que recebem assistência dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). Atualmente, os NASF apoiam somente as Equipes de Saúde da Família. Com a revisão, os NASF passarão a apoiar também outras equipes da Atenção Básica nas UBS. Cada unidade, também receberá a indicação de um gerente. Hoje, os profissionais de enfermagem têm, na maioria das vezes, se responsabilizados pelas ações de gerenciamento nas UBS. A nova medida possibilita que os enfermeiros possam se dedicar somente à assistência aos usuários, melhorando o atendimento à população. Caso a unidade tenha só um enfermeiro, a proposta sugere que gerente seja outro profissional. Hoje, existem 4.655 NASF atuando.
 
ESCOLHA DO USUÁRIO - Outra ação prevista na reforma é facilitar o atendimento ao cidadão em todas as unidades de saúde. Atualmente, o acompanhamento do usuário é vinculado ao endereço da sua residência. A mudança permitirá o tratamento do usuário em mais de uma unidade, podendo ser próximo da sua casa, do trabalho, ou outra UBS de sua escolha. Vale destacar que, com a implantação do Prontuário Eletrônico em todas as UBS, a população poderá ser atendida em qualquer unidade de saúde.
 
Todo o processo de revisão e aperfeiçoamento da PNAB está sendo debatido, desde 2015, com participação do Conselho Nacional de Saúde, Confederação Nacional dos Agentes Comunitários e Federação Nacional dos Agentes Comunitários. A proposta tem seguido cronograma de ações, agendas e articulações com gestores, trabalhadores, acadêmicos e controle social.
 
INVESTIMENTOS - Prioridade da atual gestão, a Atenção Básica tem recebido constantemente recursos do Governo federal. Em 2016, o orçamento destinado à Atenção Básica em todo o Brasil foi de R$ 17,3 bilhões e o valor a ser investido em 2017 é de R$ 19,1 bilhões, registrando um aumento real de 10,4%. Em julho deste ano, a pasta liberou R$ 2 bilhões para o custeio de 12.138 novos agentes comunitários de saúde, 3.103 novas equipes de Saúde da Família, 2.299 novas equipes Bucal, 882 novos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, 113 novas equipes de Saúde Prisional e 34 novos consultórios na rua.
 
A medida, que beneficia 1.787 municípios e representa cobertura de mais 22 milhões de pessoas na atenção básica, também prevê o credenciamento de 34 Unidades Odontológicas Móveis (UOMs) e a aquisição de 10 mil cadeiras para consultórios odontológicos, com raio-x, que funcionam nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).
 
Atualmente, existem 41.354 Equipes de Saúde da Família credenciadas em 5.442 municípios brasileiros, cobrindo 63,8% da população (123,8 milhões de pessoas) ao custo de R$ 270,8 milhões. Hoje, são 260.775 Agentes Comunitários de Saúde distribuídos em 5.468 municípios brasileiros, cobrindo 65,5% da população (127 milhões de pessoas), ao custo de R$ 264,4 milhões. Com os novos investimentos, 68% da população brasileira passam a contar com a cobertura das Equipes de Saúde da Família.  Ao todo, serão mais 6.431 novas equipes atuando na Atenção Básica para todos os estados do País, ao custo de R$ 640,5 milhões por ano para custeio dos serviços.
 

CRM de Mato Grosso puniu menos de 18% dos médicos denunciados em 2016

Dos 40 punidos, maior penalidade foi para profissional que teve suspenso o direito de exercer a profissão por 30 dias
 
Em 2016, menos de 18% dos médicos denunciados ao Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso
 sofreram algum tipo de punição. Reprodução
 
 
Quando os pais do pequeno Cauê (nome fictício) procuraram atendimento médico para o filho, em meados de dezembro de 2008, não imaginaram que passariam o Natal sem a companhia do menino, de apenas um ano e meio de idade.
 
Apesar de uma febre persistente e da dificuldade para respirar, o menino recebeu alta após ser medicado. Não durou muito. Passado o efeito do remédio, os sintomas voltaram. Cauê retornou ao hospital na madrugada do mesmo dia. Por volta das 7h30, faleceu nos braços da mãe.
 
De acordo com a sentença assinada pela juíza da 10ª Vara Cível de Cuiabá, Sinii Savana Bosse Saboia Ribeiro, “o quadro foi considerado grave para ensejar uma internação”, mas “pelos relatórios da enfermagem não houve visita médica à criança no período em que esteve internada”.
 
Quase dez anos depois, os pais de Cauê ganharam na Justiça o direito a uma indenização de R$ 80 mil – acrescida de juros de 1% ao mês desde a data do ocorrido – e a uma pensão – de valor equivalente a 1/3 de um salário mínimo – por um período de nove anos. O prazo começa a contar no dia em que o menino completaria 16 anos de idade.
 
Dados do CRM mostram que quase 70%
 das  sindicâncias abertas no ano passado
foram arquivadas
 
Dados do Conselho Regional de Medicina (CRM) de Mato Grosso, por sua vez, apontam que menos de 18% dos médicos denunciados ao conselho receberam algum tipo de punição em 2016. 
 
Ao longo do ano passado, 40 médicos receberam penalidades aplicadas pelo CRM, mas a maior parte dos denunciados foi absolvida ainda na fase de sindicância, ou seja, de investigação dos casos.
 
Das 223 sindicâncias instauradas no ano passado, 154 – quase 70% – foram arquivadas sem que resultassem na abertura de um processo ético ou administrativo contra o profissional denunciado.
 
Já entre os condenados, somente um teve suspenso o direito de exercer a profissão -- e por um período de 30 dias. Nenhum teve o registro cassado definitivamente.
 
Outros 39 receberam advertências e censuras, em sua maioria, confidenciais. Em outras palavras, somente eles próprios e os membros do CRM sabem quem eles são e que falhas cometeram.
 
Condutas irregulares

Negligenciar atendimento é uma das causas que podem levar médicos a serem condenados em processos éticos instaurados pelo CRM.
 
Natália (nome fictício) recebeu de volta, por decisão do Poder Judiciário, os mais de R$ 5 mil que pagou para reconstruir um tendão do pé esquerdo. Recebeu também uma indenização de R$ 15 mil, acrescidos de juros contados desde o dia de seu acidente: 30 de maio de 2015.
 
Justiça condenou médica da rede pública
 por não ter avaliado que ferimento
de paciente era grave
 
Na rede pública, a médica que a atendeu afirmou que o corte, causado por um facão quando Natália ajudava o pai numa atividade, não era nada grave.
 
Uma falha que, de acordo com o juiz Francisco Rogério Barros, da Primeira Vara Especializada da Fazenda Pública de Rondonópolis, “veio estampada no prontuário, no qual não há qualquer registro de solicitação de exame”.
 
Já Fernando (nome fictício) foi indenizado em R$ 20 mil porque o médico que o atendeu após uma cirurgia no braço esquerdo não informou os cuidados necessários no pós-operatório, nem realizou exames que poderiam constatar que os fios colocados para restaurar a fratura causada num acidente de trânsito estavam soltos.
 
De acordo com o juiz Marcos Terêncio Agostinho Pires, da Quinta Vara Cível Tangará da Serra, o médico “sequer se deu ao trabalho de anotar adequadamente a idade do paciente, deixando de fazer qualquer menção ao seu estado de saúde, apesar de ter lhe receitado medicamento após duas visitas sucessivas, sem contudo, solicitar qualquer tipo de exame”.
 
Sigilo

Atualmente, 176 processos éticos estão em andamento no CRM de Mato Grosso. As acusações contidas neles também são sigilosas. Podem envolver desde a assinatura de um atestado falso, ausência em plantão sem haver outro médico para substituição até casos de imprudência, negligência e imperícia no atendimento a pacientes.
 
Quem precisa passar por um procedimento cirúrgico e quer conhecer os antecedentes de seu médico só saberá se ele cometeu algum erro caso seja um dos 13 profissionais que, em 2016, foram condenados a censuras públicas – quando a advertência é publicada num jornal de grande circulação.
 
No site do CRM, não há dados sobre isso. O conselho disponibiliza à sociedade apenas informações sobre o registro do profissional e suas especialidades.
 

Criança morre em pronto-socorro de Birigui e família ​alega negligência

O pequeno Enzo morreu depois de passar mal, em Birigui (Foto: álbum de família/reprodução)
 
Uma criança de sete meses, identificada como Enzo Samuel Amaro Rosa, morreu em um pronto-socorro de Birigui, nesta sexta-feira (11). A família alega negligência do médico plantonista que estava na unidade. As informações são do SBT Interior.
 
De acordo com boletim de ocorrência, a criança começou a passar mal, com febre e vômito, na quinta-feira (10) e foi levada pelos pais para o pronto-socorro.
 
Ela foi atendida por um médico, que aplicou uma injeção de Dramin no bebê e pediu que a criança ficasse em observação. Uma hora depois, o médico liberou Enzo e disse que os pais deveriam procurar um pediatra nesta sexta-feira pela manhã.
 
Mesmo após o atendimento, a criança continuou passando mal em casa e, com medo, ela foi levada novamente pelos pais até o pronto-socorro.
 
O médico pegou a criança e a levou até a sala de emergência. Duas horas depois, ele voltou e disse que a criança tinha morrido engasgada com o próprio vômito.
 
O registro informa que o médico disse que não tinha como atestar a causa da morte da criança e que os pais deveriam registrar boletim de ocorrência sobre o caso.
 
“Da primeira vez, o médico tratou com descaso. Ele nem colocou a mão no meu filho. De madrugada, quando corremos para o pronto-socorro, vimos que ele não estava bem. Ninguém falou nada sobre o que fizeram com ele lá dentro da sala de emergência. Só chamaram para dizer que ele tinha falecido. Ele estavam cuidando de um ser humano.
 
Talvez não tenham amor por uma criança, mas o pai e a mãe com certeza tem. Imagina você ficar mais de duas horas sem saber o que está acontecendo com o seu filho”, disse o pai da criança, José Aparecido Vieira Rosa, em entrevista ao SBT Interior.
 
“Estamos pedindo justiça porque não é fácil. A gente não tem recurso. Meu filho foi tratado como um animal porque o médico não colocou a mão nele”, afirmou.
 
O corpo do bebê foi levado para o IML (Instituto Médico Legal) e passaria por exame necroscópico, antes de ser liberado para o velório e enterro.
 

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Bebê que quebrou clavícula no parto completa um mês em estado grave




Uma bebê que sofreu uma fratura na clavícula durante o parto completou nesta quinta-feira (10) um mês internada em estado grave na Maternidade Cândido Mariano, em Campo Grande. Familiares da criança afirmam que ela foi vítima de erro médico.
 
Dezireé Vitória está em coma, ligada a aparelhos, segundo a tia da menina, Tanízia de Araujo do Nascimento, de 29 anos. A mãe de Dezireé é uma adolescente de 15 anos, cunhada de Tanízia.
 
"Ligaram pedindo para minha sogra [avó da bebê] ir conversar, falaram que ela está com a cabeça bem inchada e pode morrer a qualquer momento. Se sobreviver, vai ficar com sequelas muito graves", frisa Tanízia.
 
A tia de Dezireé ainda revela que a família está, além de triste com a situação, indignada. Eles pretendem entrar com um processo nesta sexta-feira (11) contra o hospital e a médica que fez o parto. "A gente quer que seja tomada providência, que sejam [maternidade] sejam mais claros", comenta.
 
Ainda segundo Tanízia, durante o pré-Natal a bebê não apresentou nada e a gestante ficou saudável. "Nem enjoo ela teve". A reportagem tentou contato durante à noite com o diretor-presidente da maternidade, Cezar Galhardo, mas obteve êxito a´te o fechamento do texto.
 

Programa Saúde da Família está sob ameaça de desmonte, dizem entidades


O médico Arnais Albriza em atendimento domiciliar à moradora Edleuza das Neves, no Recife
Léo Caldas/Folhapress

O assunto parece coisa menor às vésperas de a Câmara dos Deputados analisar uma denúncia da qual é alvo o presidente Michel Temer, mas, quando se fala de SUS, é o tema mais polêmico do momento.
 
Trata-se da revisão da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), que está aberta para consulta pública até o dia 6. Entre as alterações propostas está a possibilidade de outros modelos de atenção básica além da Estratégia Saúde da Família (ESF) e a unificação em um único profissional do agente comunitário de saúde e do agente de combate às endemias.
 
Embora a minuta do texto de revisão afirme que o programa Saúde da Família seguirá como estratégia prioritária para a expansão e consolidação da atenção básica, nota assinada por três entidades da saúde (Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Centro Brasileiro de Estudos de Saúde e Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) diz que a proposta revoga a prioridade do modelo assistencial da ESF no âmbito do SUS.
 
"O texto, na prática, rompe com sua centralidade na organização do SUS, instituindo financiamento específico para quaisquer outros modelos na atenção básica que não contemplam a composição de equipes multiprofissionais com a presença de agentes comunitários de saúde", diz trecho da nota. Já o texto que está em consulta pública afirma que o programa seguirá como estratégia prioritária para expansão e consolidação da atenção básica no país.
 
Nunca é demais lembrar que o programa Saúde da Família é reconhecido mundialmente como sendo a chave para o sucesso da expansão da atenção básica nos últimos anos no Brasil e dos seus efeitos positivos no acesso a serviços de saúde.
 
Diversos estudos associam o ESF à redução das taxas de mortalidades infantil, cardiológica e cerebrovascular e à queda das internações por condições sensíveis à atenção primária (diabetes e hipertensão, por exemplo). "A proposta de reformulação da PNAB ameaça esses sucessos. Além de abolir na prática a prioridade da ESF, em um contexto de retração do financiamento e sem perspectivas de recursos adicionais, é muito plausível estimar que o financiamento dessas novas configurações de atenção básica será desviado da Estratégia Saúde da Família", afirma a nota das entidades.
 
Para os especialistas, o sucesso do programa também só foi possível porque existem regras claras a serem cumpridas e prioridade financeira para o ESF nos municípios. Sem isso, dizem, os interesses do mercado da saúde vão prevalecer contra os interesses da saúde pública.
 
Outra polêmica diz respeito à extinção dos cargos de agente comunitários da saúde (peça fundamental do ESF) e de agente de endemias (responsável pelo controle casa a casa do mosquito Aedes aegypti, por exemplo), que seriam unificados na criação de um novo profissional (que ficaria responsável pelas ações da atenção básica e da vigilância sanitária).
 
Para os trabalhadores da área, a medida visa apenas cortar os custos com a criação de um outro profissional barato, que faça tudo ao mesmo tempo e sem os direitos que já foram conquistados pelas categorias atuais, como o piso nacional e formação continuada, entre outros.
 
Em reunião na Comissão Intergestores Tripartite, ocorrida na última quinta (27), Mauro Junqueira, presidente do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde), disse que as mudanças propostas valorizam o agente de saúde. "Ele tem de estar preparado para responder às necessidades da população, da orientação do cartão de vacinas; conferência de pressão; aplicação de injeção. Esse profissional vai ser um agente de saúde. Queremos que seja empoderado em seu trabalho. Queremos valorizar a profissão e o agente", afirmou.
 
Em tese, parece perfeito, mas, na prática, essa tarefa não será nada simples. Hoje, os agentes têm formação e atribuições diferentes. O de saúde não está preparado, por exemplo, para lidar com inseticidas, larvicidas e raticidas. Tampouco o de endemias está preparado para orientar uma pessoa sobre o tratamento da tuberculose e outras doenças. Sim, podem ser capacitados. Mas isso leva tempo e empenho dos gestores.
 
No discurso de encerramento da reunião na última quinta, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse que a revisão da PNAB, juntamente com outras iniciativas, "mudará completamente a saúde do Brasil". Mais uma razão para que estejamos muito atentos a essas propostas e que haja de fato participação popular no debate.
 

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Médico é processado por acumular cargos em seis municípios

Caso foi denunciado por delegado de cidade onde médico era perito criminal; ausência dele ao trabalho atrapalhou investigação de latrocínio.
 
MP/PI em São Raimundo Nonato
Créditos: ASCOM da PMSRN
 
O Ministério Público de São Raimundo Nonato ajuizou ação civil pública contra um médico que teria acumulado ilicitamente onze cargos públicos no período de 10 anos. O médico, acusado de improbidade administrativa, teria cargos efetivos, que acumulou com outros de caráter temporário. Segundo o MP, ele teve cargos nas cidades de São Raimundo Nonato, São Loureço, Bonfim do Piauí, Coronel José Dias, Dom Inocêncio e Canto do Buriti.
 
O caso foi denunciado por um delegado de polícia de São Raimundo Nonato. Um dos cargos exercidos pelo médico era o de perito da Polícia Civil. Só que, segundo o delegado, a constante ausência dele provocou prejuízos à investigações criminais. Por exemplo, em um caso de latrocínio, ocorrido em abril de 2017, em que a vítima foi enterrada sem que fosse lavrado o auto de exame cadavérico. A negligência obrigou o promotor criminal a requisitar a exumação do cadáver.
 
Só em 2017, o médico tinha vínculos com a Secretaria Estadual de Saúde, Secretaria de Segurança Pública e com a Prefeitura de Lagoa do Barro, e trabalhava como servidor temporário no INSS.
 
“O requerido acumula mais de dois cargos públicos de médico, ferindo completamente os preceitos constitucionais. Ademais, seus rendimentos ultrapassam o teto constitucional e sua carga horária demonstra-se totalmente incompatível. Ainda que fosse possível cumular mais de dois cargos públicos de médico, é humanamente impossível uma pessoa desempenhar diversas funções e estar em diversos locais ao mesmo tempo”, ressalta a Promotora de Justiça Gabriela Santana, autora da ação.
 
Segundo ela, diversos horários dos trabalhos que o médico exercia se chocavam, tornando impossível que ele desempenhasse as funções. “Não houve denúncia de nenhum paciente, mas isso ficou evidente porque o médico chegou a cumular muitos cargos em certos períodos”, disse a promotora Gabriela Santana.

A promotora pediu o bloqueio de R$ 745.107,00 das contas do médico, para garantir o ressarcimento aos cofres públicos. Se a ação for julgada procedente, o servidor deve ser condenado às sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa: perda de bens obtidos ilicitamente, ressarcimento dos danos, perda da função pública, suspensão de direitos políticos, multa e proibição de contratar com o Poder Público.
 

Bebê morre no parto e mãe acusa Hospital de Carapicuíba de negligência


Edileuza conta que médicos não conseguiam retirar a criança pelo parto normal e só decidiram pela cesariana 19 horas depois, quando foi tarde demais / Foto: reprodução: "Balanço Geral"

Uma mãe cujo bebê morreu durante o trabalho de parto acusa o Hospital Geral de Carapicuíba de negligência. De acordo com ela, após sofrer muito esperando pelo parto normal, a equipe médica só decidiu pela cesariana cerca de 19 horas depois de ela dar entrada na unidade.
 
De acordo com reportagem do “Balanço Geral”, da Record TV (assista aqui), ela teria chegado no hospital às 10h. Às 18h, teriam começado as contrações, mas os médicos não conseguiam acesso ao bebê para retirá-lo da barriga.

“Elas [as enfermeiras] falavam que eu estava com frescura, que eu não colocava força. Passei uma hora num chuveiro quente, abaixava, levantava”, relatou a mãe.

A decisão pela cesariana só teria acontecido quase 19 horas depois de ela dar entrada na maternidade, quando os batimentos cardíacos do bebê já estavam fracos. Minutos depois, veio a notícia de que Matheus já havia nascido sem sinal de vida.

Segundo o “Balanço Geral”, o prontuário médico relata que ela deu entrada com perda de liquido e a morte do bebê teria acontecido por conta de uma parada cardiorrespiratória. O hospital afirmou apenas que a decisão sobre a melhor conduta, se parto normal ou cesária, é tomada mediante avaliação de equipe médica responsável.
 

Médico dança 'Despacito' com grávida em trabalho de parto em hospital no Espírito Santo



Um médico dançou o hit "Despacito", do cantor porto-riquenho Luis Fonsi, ao lado uma grávida em trabalho de parto e a doula, no Hospital Dia e Maternidade Unimed, em Vitória (ES).
 
O vídeo da dança foi publicado pelo médico Fernando Guedes da Cunha na sua página no Facebook e rendeu mais de 30 mil visualizações.
 
Cunha escreveu que tinha prometido dançar com a paciente durante o trabalho de parto.
 
"Promessa cumprida!", escreveu o médico.
 
Mais de 300 pessoas elogiaram a atitude do médico nos comentários na página onde foi postado o vídeo na rede social. Uma mulher escreveu que não se cansa ver o vídeo. "É muito amor pela profissão. Eu não teria nem sequer um pouquinho de medo de entregar minha vida e meu filho (a) nas mãos dele", postou.
 
Outro internauta marcou uma doula e um médico dizendo que lembrou deles e que gostaria de vê-los dançando. O médico respondeu que seria bem difícil, pois não sabe dançar.
 
Cunha incentivou o colega de profissão dizendo "mando o passo a passo para você treinar".
 

Criança morre em Acorizal por falta de médico


Reprodução

Menina de 3 anos e 11 meses passa mal e morre em Acorizal (62 km de Cuiabá) neste final de  semana. O pai acusa equipe de plantonistas da unidade de saúde de negligência e diz que se os profissionais tivessem feito atendimento digno poderiam ter salvo a filha.
 
A família, muito abalada, se despediu de Kauane Vitória Santos Brito, na tarde desta segunda-feira (7). O velório ocorreu na casa da família e o enterro ocorreu por volta das 16h no cemitério da cidade.
 
O pai da menina, o autônomo Januário Cipriano da Silva Brito, 45, popularmente conhecido por Gaio, está revoltado, pois a menina, segundo ele, sempre foi saudável e de repente começou a ter febre e vômito. A mãe correu para a unidade de saúde e lá afirma que foi mal atendida por 3 funcionárias que estavam de plantão naquele dia.
 
“Quando ela chegou não tinha ninguém na recepção do postinho. Estavam todas no fundo. Minha mulher perguntou por que não tinha ninguém ali e a funcionária começou a discutir com ela ao invés de atender a minha filha. Disse que se fosse para UPA, em Cuiabá, ia ter que esperar muito mais para ser atendida”, conta o pai .
 
A mãe da menina, a dona de casa Edirce dos Santos, 32, que já estava nervosa por conta da filha, ficou indignada e levou a menina de volta para casa. O pai então ofereceu para a criança paracetamol que comprou em uma farmácia. A menina conseguiu dormir, mas acordava de tempos em tempos vomitando e com diarreia. Durante a madrugada o quadro se agravou.
 
“Ela não conseguia comer nada, só beber água e mesmo assim vomitava tudo. Fiquei desesperado, pedi para amigos para me levarem para Cuiabá, mas não consegui a carona”, revela. Pela manhã os pais voltaram na unidade de saúde onde outra equipe já havia assumido o plantão.
 
Diante da gravidade da situação, a ambulância do posto foi acionada para transferir a criança para Cuiabá, mas no caminho a criança morreu. A enfermeira que atendeu o caso ainda ligou para a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da Capital que foi se encontrar com a ambulância perto do Distrito da Guia, mas não teve tempo de fazer mais nada, pois a menina já estava morta.
 
O relatório médico do Serviço de Verificação de Óbito aponta que a causa da morte foi desidratação e gastroenterite aguda (infecção que atinge o sistema gastrointestinal ocasionando sinais e sintomas do aparelho como as diarreias, cólicas intestinais e vômitos).
 
“Acredito que se ela tivesse recebido soro nas primeiras horas que tinha vomitado não teria ficado tão desidratada e morrido”, avalia.
 
Outro lado  
A Secretaria de Comunicação (Secom) de Acorizal diz desconhecer negligência por parte dos servidores. Admite que não há médicos plantonistas no Posto da Saúde da Família aos finais de semana, como em nenhum PSF, por isso os casos mais graves são encaminhados para Cuiabá.
 
Diz ainda que a equipe plantonista, formada por uma enfermeira padrão, uma técnica de enfermagem e uma atendente, recebeu a mãe e a menina, procedeu com o atendimento e passou medicação para cortar a febre, mas a mãe da criança se negou a receber a medicação.
 
Explica que no dia seguinte a criança não apresentou melhora e foi acionda para fazer atendimento na casa da avó. A ambulância da unidade de saúde foi usada para fazer o translado até uma unidade de saúde de Cuiabá. O que não chegou a ser concluído, já que a menina morreu no meio do caminho.
 
Leia nota encaminhada ao Gazeta Digital na íntegra

A Secretaria de Saúde de Acorizal, desconhece a acusação de negligência no atendimento de saúde prestado a menor Kauane Santos Brito. Consta no livro de registros de atendimentos da unidade que a os pais deram entrada com a criança no pronto atendimento as 16h45 de sábado (5). Consta que a criança passou por pré-consulta com a técnica em enfermagem Euzely de Jesus, que aferiu a temperatura da criança que estava em 39,8 C, encaminhando a mesma em seguida para a sala de medicação onde estava a enfermeira chefe Celina Maria de Jesus, que realiza atendimento a outros dois pacientes, e atendeu em seguida a criança. Após examinar a mesma e seguir para o preparo da medicação, a mãe da criança se levantou, retirando a menor da maca e recusou a medicação, dizendo que iria por conta própria para Cuiabá.
 
A enfermeira chefe, conta que ainda insistiu com a mãe para que permanecesse na unidade dada a febre alta que a criança estava, mas a mesma saiu e a medicação que já estava sendo preparada teve que ser descartada. Todo ocorrido foi presenciado pelos outros pacientes e por uma acompanhante que assinou o livro de registro de atendimentos da unidade onde foi relatado o ocorrido.
 
A equipe realizou o que prevê o protocolo de urgência e emergência que é aferir a temperatura e pressão arterial ( no caso de adultos), estabilizar o paciente para só então conduzi-lo a Cuiabá. No entanto os pais da menor Kauane recusaram o atendimento e retiraram a criança da unidade.
 
Conforme relato dos funcionários presentes no momento o pai da criança estava bastante exaltado na recepção da unidade de saúde e até proferiu palavras agressivas aos mesmos.
 
No dia seguinte, domingo (6) a equipe que estava pegando plantão foi acionada as 8h20 da manhã para realizar um atendimento fora da unidade. Foi relatado que se tratava de uma criança de 4 anos que estava vomitando e com diarreia. Ao chegar no local a equipe encontrou a criança desacordada, desidratada no colo da tia. A mesma foi atendida, recebeu oxigênio e a enfermeira tentou reanimar a criança com massagens, mas a menor não reagiu. A equipe partiu para Cuiabá com a criança e foi feito então o contato com o SAMU que encontrou com a ambulância no trajeto. Os paramédicos do SAMU tentaram por diversas vezes reanimar a crianças mas a mesma não resistiu e foi a óbito. O médico do Serviço Móvel foi quem informou ao pai da criança sobre o óbito.
 

Médicos e pacientes querem revisão no tratamento da hipertensão pulmonar




Médicos e pacientes portadores da hipertensão pulmonar pedem a revisão do protocolo nacional de tratamento da doença. Classificada como rara, a hipertensão pulmonar é grave, sem cura e acomete em torno de 60 mil pessoas no Brasil e 25 milhões no mundo.
 
Segundo especialistas, uma das formas mais eficazes de tratamento da doença é o uso combinado de diferentes medicamentos. No entanto, o protocolo vigente no país, editado pelo Ministério da Saúde em 2014, dá ao paciente o direito de usar apenas um medicamento por vez, impedindo a realização da chamada terapia combinada e a adoção de opções terapêuticas mais eficazes.
 
Em audiência pública realizada nesta terça-feira, 8, na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, médicos e familiares de pacientes argumentaram que a proibição restringe as possibilidades de sobrevivência dos pacientes.
 
“Não é possível tratar o problema com medicação exclusiva (...). A revisão do protocolo é essencial para o bom cuidado dos nossos pacientes”, disse Verônica Amado, pneumologista da Universidade de Brasília e integrante da Comissão de Circulação Pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
 
Segundo a pneumologista, no protocolo também não consta um dos tipos de hipertensão pulmonar que apresenta melhor chance de cura, a tromboembólica crônica. O documento ainda exige que o tratamento só tenha início se o paciente se submeter a um teste de esforço, uma caminhada de seis minutos, procedimento que não encontra respaldo nas pesquisas acerca do tema, conforme explicou a médica.
 
A presidente da Associação Brasileira de Amigos e Familiares de Portadores de Hipertensão Pulmonar (Abraf), Paula Menezes, destacou também que o protocolo brasileiro indica o uso de quatro medicamentos e nem todos estão disponíveis para comercialização no país. Por outro lado, existem 14 medicamentos voltados para tratamento específico da hipertensão pulmonar, alguns deles já aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas que o paciente só tem acesso gratuito se recorrer à justiça.
 
Paula argumenta que o protocolo, da forma como está, não atende às necessidades dos pacientes e os condena a um tratamento sem sucesso. “O fato de termos um protocolo nacional sem dúvida é um avanço. Mas esse protocolo passou a ser objeto de temor tanto dos médicos quanto dos pacientes. (…) O paciente de uma doença crônica e rara que precisa de mais de um medicamento para sobreviver está condenado a morte com o protocolo em vigor”, declarou.
 
Segundo Paula, a judicialização tem sido o único meio de sobrevivência dos pacientes. Para compensar a falta de assistência pública, a Abraf busca melhorias neste cenário e luta por avanços no tratamento e cuidado dos pacientes. O grupo foi criado depois que a mãe de Paula foi diagnosticada com hipertensão pulmonar já na fase avançada da doença.
 
“Minha mãe foi diagnosticada com a doença em 2005, mas com a demora no diagnóstico e a falta de opções terapêuticas na época, ela faleceu em 2007. (…) Eu tinha 22 anos quanto eu tive que parar de trabalhar para cuidar da minha mãe, fiquei doente, meu pai teve um infarto. É impossível um cuidador de paciente crônico se manter são”, relatou Paula.
 
Diagnóstico
 
A hipertensão pulmonar é uma condição que pode estar associada a outras doenças, como cardiopatias congênitas ou retroviroses, entrou outras. Mas também pode ser do tipo idiopática, que não tem causa conhecida. Cada variação da hipertensão demanda uma abordagem diferente de tratamento.
 
De uma forma geral, a doença se caracteriza pelo aumento da pressão arterial no processo de circulação pulmonar, devido a uma constrição e diminuição do diâmetro dos vasos que irrigam os pulmões.
 
Os principais sintomas são: cansaço, tontura, inchaço, desmaio e dor torácica. Segundo a pneumologista Verônica, a investigação da doença é feita a partir de uma lista grande de exames, principalmente o cateterismo, mas o diagnóstico geralmente é tardio.
 
“São sintomas muito inespecíficos e o paciente tarda muito para ser diagnosticado e tratado. E aí, o que acontece? Existe uma doença grave por trás que está progredindo e que quanto mais precocemente tratada, melhor será”, alertou a pneumologista.
 
A prevalência da doença é de 15 casos por milhão de pessoas, principalmente entre mulheres. A idade média dos pacientes é 46 anos e, no caso do tipo idiopático, é de 39,8 anos. Atualmente, a sobrevida de pessoas diagnosticadas com HP é em média de três anos.
 
“São pacientes jovens, em fase reprodutiva, muito frequentemente com suas famílias em início de desenvolvimento (….) Essa doença é muito grave, que tem um prognóstico tão sombrio, tão ruim quanto boa parte dos cânceres. No entanto, o câncer assusta muito mais quando a gente fala, causa mais impacto e a possibilidade terapêutica parece mais ampla pra esses pacientes do que os da hipertensão pulmonar, que tem características tão importantes”, declarou a pneumologista.
 
Resposta tardia

A revisão do protocolo deve ser feita pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). O órgão é responsável por assessorar o Ministério da Saúde na decisão de incorporar, excluir ou alterar tecnologias em saúde disponibilizadas pelo SUS.
 
Segundo o diretor da comissão, Daniel Zanetti, qualquer mudança nos protocolos deve ser baseada em evidências científicas, que comprovem a eficácia e a segurança dos novos medicamentos, e em estudos de avaliação econômica, que relacionem o custo-benefício do tratamento sugerido.
 
Há ainda a necessidade de realização de consulta pública. A comissão, que é composta por especialistas de diferentes instituições, entre elas a Anvisa, tem o prazo de 180 dias, prorrogáveis por mais 90, para avaliar as sugestões de revisão do protocolo.
 
No caso do protocolo da hipertensão pulmonar, a enquete pública foi finalizada em outubro do ano passado e a previsão dada pelo Ministério da Saúde é de que a revisão teria início a partir de 2018. A pneumologista Verônica alertou que no prazo de um ano, cerca de 10% dos pacientes com hipertensão pulmonar morreram.
 
O representante da comissão explicou que o protocolo já está em fase de atualização e ressaltou que o processo é longo e complexo. “Hoje nós temos 70 protocolos sendo atualizados pela Conitec, o que demanda um tempo razoável, porque temos a necessidade de passar esses protocolos por metodologistas (…). É um processo longo, é necessário levantar todas as evidências pra verificar se, de fato, os medicamentos apontados dão segurança, mas ele [o protocolo] já está em fase de atualização”, explicou.
 
Integrantes da Comissão de Seguridade Social pediram que os especialistas façam um relatório apontando as falhas e erros técnicos do protocolo. A comissão deve encaminhar o documento como uma denúncia ao Ministério da Saúde e pedir a atualização imediata do protocolo.