quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Médica se torna referência ao cuidar de crianças com câncer em Campinas

A médica Silvia Brandalise aumentou os índices de cura da leucemina infantil e o Centro Boldrini, em Campinas, é hoje referência para todo o Brasil.
 
Dra. Silvia Brandalise
 
Na segunda reportagem da série sobre médicos que dão exemplo de amor à profissão, você vai conhecer a história de uma pediatra que criou um hospital para tratar crianças com câncer. A médica Silvia Brandalise contribuiu também para aumentar os índices de cura da leucemina infantil e o Centro Boldrini, em Campinas, no interior de São Paulo, é hoje referência para todo o Brasil.
 
Não há quem fique indiferente ao ver os pequenos guerreiros numa batalha tão dura.
Mas a pediatra fechava os olhos. "Na enfermaria onde eu era chefe, 50 leitos, eu sabia a história de todas as crianças, eu visitava todas as crianças, mas as de câncer eu pulava. A gente se poupa do sofrimento", diz Silvia.
 
Não adiantou fugir do destino. Quando o André, sobrinho de uma amiga, teve leucemia aos 5 anos de idade, a doutora Silvia enxergou a verdadeira vocação. “Um dia entrei chorando, pedi para ela me tratar, que a gente confiava nelal”, conta André.
 
“Ele chorou e ele falava 'Tia pelo amor de Deus cuida de mim!' Mas eu falei eu não posso, eu não sei", relembra Silvia.
 
Começo difícil

 A pediatra mergulhou no universo da oncologia. Em 1978 pediu demissão do hospital onde trabalhava para alugar uma casa e criar uma clínica de tratamento do câncer infantil.
 
“Eu saio de uma chefia de enfermaria com secretária, máquina elétrica etc... E tenho que ir para um lugar onde eu tinha que varrer chão, eu tinha que limpar pia, tinha que pegar veia, não tinha cadeira, não tinha mesa, não tinha nada", conta
 
Como a procura era grande, a clínica foi para uma casa maior.  Mas faltava lugar para internar os pacientes. “E nessas coisas eu resolvi levar para minha casa, porque sempre cabe mais um. Aí as crianças ficavam eu tive um que ficou quase 4 meses na minha casa”, conta Silvia.
         
Investimento de US$ 1,5 milhão

 Era o embrião de algo muito maior. Na década de 1980, a doutora Silvia ganhou um terreno e um investimento de US$ 1,5 do Instituto Bosch para construir o hospital Boldrini de Campinas, hoje uma referência no país para o tratamento de câncer infantil e doenças do sangue.
 
Quando trabalhava num hospital de Campinas, a doutora Silvia se impressionou com um paciente internado com câncer. Deprimido, ele se queixava muito de ficar num quarto frio, sem janelas e sem espaço para  acompanhante. A mãe dele dormia no chão. Por isso quando projetou o hospital Boldrini, a médica queria um lugar arejado, colorido, com ambientes alegres, que ajudasse no tratamento. Ela conseguiu isso e deixou um legado ainda maior.
 
São 9.000 crianças atendidas por ano. Muitas pela própria presidente do hospital.
Hospital virou referência científica

 A medicação aplicada, os procedimentos de atendimento e o acompanhamento do paciente são descritos em relatórios que depois passam pela análise de um grupo de estudos científicos coordenado pela doutora Silvia Brandalise. Esse trabalho que começou lá, hoje envolve outros 24 hospitais do país.
 
Essa monitoria e padronização salvaram vidas. No caso da leucemia em crianças de 4 a 6 anos, apenas 5% dos pacientes sobreviviam na década de 1970. Na década de 1980, esse índice saltou para 50% e para 70% de sobrevida na década de 1990. Nos dias atuais, a chance de cura chega a 80%.
 
"Não são as curadas que me impulsionam o trabalho, são aquelas que eu não consigo curar", diz Silvia. A cada dia um novo desafio. Oito meses de investigação para descobrir a doença rara no sangue do Gustavo que tinha desmaios frequentes.

“Até chegar a conclusão final dele, ela só dizia desde o início que era raro e que ela ia investigar até o final. E ela conseguiu. Graças a Deus ela foi um anjinho na vida dele”, conta a mãe do menino, Tuany Martins.
 
“Eu tenho uma necessidade visceral de compreender o que eu estou fazendo, e para compreender eu sou obrigada a estudar. Sou obrigada a perguntar pra quem sabe mais do que eu em determinadas áreas da medicina”, diz Silvia.
 
A médica não tira férias há 30 anos. Vive para o trabalho e a família. Dois dos 4 filhos fizeram medicina. Também tem 8 netos. E um agregado, o André, o primeiro paciente de leucemia.
 

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