Em levantamento do CFM (Conselho Federal de Medicina) com neurologistas do SUS (Sistema Único de Saúde) de todo o país, cerca de 57% dos médicos afirmam não contar, no serviço público, com mecanismos para triagem e identificação imediata de pacientes que sofreram AVC (acidente vascular cerebral). Não há também, segundo 32%, acesso à tomografia em até 15 minutos.
Hideraldo Cabeça, da câmara técnica de neurologia e neurocirurgia do CFM, diz que a tomografia e a triagem são importantes para diferenciação entre um AVC isquêmico -com interrupção do fluxo sanguíneo, quadro mais comum- e AVC hemorrágico -quando há rompimento dos vasos sanguíneos. Sem essa identificação precisa, não há como aplicar o tratamento apropriado.
“Dependemos do tempo para realizar o atendimento até 4h após o AVC. Quanto mais tempo se demora, menor a chance do indivíduo se recuperar e mais pacientes ficam com sequelas”, diz. Cerca de 53% dos médicos na pesquisa afirmam não contar com medicamentos trombolíticos, que promovem a desobstrução das artérias, para o tratamento imediato dos pacientes. “Mais de 50% dessa população de médicos dizem que não era possível fazer o básico”, diz Cabeça.
Contudo, segundo Daniel Ciampi, neurologista do Hospital das Clínicas e professor da USP, os problemas vão além de chegar rápido ao hospital -dificuldade presente em todo o mundo. “Uma coisa é a identificação do tipo de derrame. A população geral saber que alguém está tendo um AVC é outro problema”, diz Ciampi.
Os sinais de um AVC são falta de resposta e fraqueza repentina de um lado só do corpo, boca torta e dificuldades de fala. Ciampi também diz que o treinamento para clínicos gerais e emergencistas reconhecerem e saberem tratar um AVC é importante, tendo em visa que seria impossível haver neurologistas de plantão em todos os lugares.
“Em hospitais-escolas não falta remédio. Mas não sei se em um hospital pequeno vai ter trombolítico e médico treinado para fazer trombólise [ruptura do trombo que causou o AVC].” Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2012, os AVCs provocaram mais de 6 milhões de mortes no mundo. A condição também é uma das principais responsáveis por incapacitação de pessoas. Obesidade, diabetes, colesterol alto, hipertensão, estresse, sedentarismo e, em mulheres com enxaqueca, o uso de pílula anticoncepcional podem ser fatores de risco.
Segundo Cabeça, os dados obtidos na pesquisa serão encaminhados ao Ministério da Saúde. Procurado pela reportagem da Agência Folha, o Ministério da Saúde não se manifestou até o fechamento desta edição.
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