terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

'Levaram um pedaço de mim. Mataram meu filho', diz pai de jovem morto após suposta negligência médica

Amigos e familiares do jovem Alifer Gabriel fizeram protesto neste domingo (25). Rapaz morreu após ser atropelado em janeiro e liberado pela Santa Casa

Amigos e familiares protestaram após morte de jovem em São Carlos

Amigos e familiares do jovem Alifer Gabriel Bassani realizaram uma passeata neste domingo (25) como forma de protesto pela morte do rapaz de 18 anos. Os participantes se reuníram a partir das 10h em frente ao Mercado Municipal e caminharam até a Santa Casa em forma de protesto. A família alega que o rapaz foi vítima de negligência médica na Santa Casa. Na ocasião, o jovem foi atendido e liberado após um acidente no qual havia sido atropelado por um carro no Antenor Garcia. Alguns dias depois, o jovem deu entrada no hospital novamente, onde veio a falecer.  

Segundo o metalúrgico Marcial Bassan da Silva, pai de Alifer, o rapaz voltava da casa da namorada quando sofreu o acidente em 28 de janeiro. "Meu filho sofreu um acidente gravíssimo. O carro pegou ele vindo da casa da namorada, bateu nele enquanto andava de bicicleta. Aí ele ficou cinco dias na UTI porque quebrou a coluna, fizeram cirurgia nele, bem feita, graças a Deus. Depois disso ele já foi pro quarto e teve alta precoce. Não era para ter mandado embora, mas por causa de infecção e essas coisas mandaram ele de volta pra casa. Um dia depois, ele continuava reclamando de febre. Chamei o Samu e levaram ele para a Santa Casa. Estava com infecção de urina, braço quebrado, clavícula machucada e o pior de tudo, deixaram com a dor de cabeça e não fizeram nada. Tudo isso durou 15 dias. Um descaso muito grande, depois que internou a segunda vez, ele ficou três dias lá dentro, dormi com ele, fiquei lá o tempo todo e não vi médico. Vi meu filho se desfalecendo, andando para trás, não tinha melhora. Foi aí que procurei o enfermeiro e perguntei o que estava acontecendo. Chamaram outro médico e ele me disse "a partir de agora eu vou cuidar do seu filho, mas o que acontecer daqui pra frente eu não me responsabilizo". Descobriram todos esses problemas com meu filho depois de darem alta. Ele se queixando de dor de cabeça e não viram que o menino estava com a cabeça quebrada", afirmou.

De acordo com o pai, foram feitos diversos questionamentos à Santa Casa durante o atendimento ao filho, cuja morte foi constatada como um infarto pela equipe médica. "Falaram que a dor de cabeça era normal por causa do acidente. Questionei como isso era normal, se já haviam liberado ele até a nossa casa todo quebrado, sem ver nada. O ombro dele estava deslocado, até fundo. É impossível um médico não ver uma coisa dessa. Você acha que é normal? Pedimos um neurologista para ver essa dor de cabeça. Ele faleceu e o médico não viu. Falaram que ele infartou e morreu. Na verdade, ele estava com um trinco no crânio, deu hemorragia e ele não aguentou. Não queriam que fizesse a autópsia dele. Disseram que não precisava, falaram que foi infarto e pronto. Pedimos autópsia e o rapaz do IML abriu ele inteiro. Coluna estava perfeita, pulmão estava machucado mas estava recuperando. Ele disse que não achou nada que levasse à morte. Não morreu por causa do coração", falou.

A mãe de Alifer, Eliana Aparecida de Oliveira, de 40 anos, também desconfia do atendimento prestado ao jovem. "Os órgãos dele, o que tinha dentro dele, não era causa de morte. O pior foi a cabeça. O que mais machuca a gente é que a Santa Casa tem todo o equipamento. Tem tudo. Tinha um homem que estava passando por atendimento quando fomos atendidos, e ele fez tudo o que precisava. Pegou um profissional que tem amor à vida, porque zelou por ele. Meu filho não, acho que era tempo de Carnaval e eles queriam dançar. Sabe Deus o que aconteceu lá. Deixaram meu filho abandonado. 12 de fevereiro, meio dia, ele faleceu. Ficaram pelo menos 45 minutos tentando ressuscitar ele, mas não era o coração, ia fazer o que? Podia ficar o dia inteiro que não ia trazer ele de volta, não foi o coração", contou.  

Indignação

O pai do jovem conta que a família já está tomando as providências cabíveis para representar legalmente contra o hospital e os responsáveis pelo acidente. "Já entramos com advogado e isso está em andamento. Estou tentando pedir a prisão do cara que atropelou meu filho e fugiu. Está solto. Eu conheço ele porque é morador da mesma região. Vou fazer o possível e o impossível. Ele se apresentou depois com o advogado, agora está solto na rua fazendo churrasquinho, na boa. É um criminoso, não podia ter ficado lá e socorrido? Deixou meu filho jogado lá. Fugiu do local. Chegaram a me dizer, inclusive, que nem era ele ao volante, mas isso nós estamos tentando descobrir. Deixamos a papelada com a advogada e vamos entrar com um processo contra os médicos. Vamos fazer uma avaliação para ver quem foram os responsáveis. Sei que não vai trazer meu filho de volta, mas vou lutar pela justiça, quero justiça. Não quero que ninguém morra igual a ele. Era para ele estar vivo. Antes dele falecer, ele estava feliz, estava bem, e olha o que aconteceu. Negligência médica. Quando entrei na Santa Casa com ele, depois que ele se acidentou, me disseram que ele tinha sido esfaqueado porque tinha um corte no ombro. Esfaqueado? Com a coluna quebrada? Depois que [o médico] viu que foi atropelado mesmo, mas só porque não foi o filho dele", relatou.

"Eu quero Justiça. Foi negligência médica e fizemos essa passeata para pedir Justiça. Eu sei que meu filho não vai voltar, mas tem o filho dos outros. Pode acontecer de um dia cair lá dentro e fazerem igual ao meu moleque", pontuou Marcial da Silva.

Eliana também espera que casos como o de Alifer não se tornem comuns. "Que essa passeata sirva para que os médicos se conscientizem. O que aconteceu com nosso filho, que não aconteça com outros jovens porque a gente vê muita negligência que aconteceu com outras famílias também. Eles precisam entender que quem está ali é um ser humano. Eles são estudados para cuidar, ouvir os pais e familiares que entram ali e cuidar dos seus pacientes com mais amor e mais carinho", afirmou.

Emocionado, o pai lamentou a morte do filho e relatou as saudades que sente do jovem. "Levaram um pedaço de mim. Não tem o que falar, não tem explicação. Ele era tudo para mim, tudo. Eu chego em casa e é aquele vazio, esperando ele chegar. Todo dia, meia noite, uma hora da manhã, ele vinha da casa da namorada e vinha no meu quarto. 'Pai, não deixaram nada para eu comer? Dá um dinheiro para eu comprar um lanche'. Não escuto mais o portão bater. Fico esperando, mas ele não aparece. Por que? Porque mataram meu filho, mataram ele", finalizou.

Na ocasião, a Santa Casa de São Carlos afirmou que entrou em contato com a família do jovem e se colocou à disposição para quaisquer esclarecimentos a respeito do atendimento médico realizado durante a internação do paciente. O homem acusado de atropelar o rapaz prestou depoimento e foi liberado pelas autoridades.   

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