A crise que se abate sobre a Unimed Norte Nordeste comprova o descaso da privatização da saúde, que não significa o pleno funcionamento para os usuários. Pelo menos desde 2017, representantes de hospitais e clínicas conveniadas reclamam de não repasse pelos serviços prestados. Até mesmo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) teria sido informada e a situação não mudou (veja aqui). Agora, em 2020, a operadora conseguiu piorar a situação: usuários não conseguem atendimento de urgência e emergência em todo o estado.
Dados da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (AHSEB) apontam que pelo menos 12 mil baianos estão desassistidos com a decadência da Unimed Norte Nordeste. São milhares de pessoas que pagam mensalmente para ter acesso à saúde suplementar e, simplesmente, batem com a cara na porta quando necessitam do serviço contratado. É trágico. E não existe uma solução de curto e médio prazo. No máximo uma migração para outro plano similar, cuja promessa de não reajuste é tão válida quanto a garantia que o atendimento aconteceria com o atual contrato.
Nesse contexto é preciso lembrar que planos de saúde funcionam – ou deveriam funcionar – como saúde suplementar, ou seja, como um complemento ao serviço público. O Sistema Único de Saúde (SUS) é claudicante, porém é um direito de todo brasileiro. Como não funciona como previsto na legislação, os brasileiros são então obrigados a contratar um serviço complementar. Aí surgem as operadoras de planos, como a Unimed Norte Nordeste. Que, mesmo questionada, prefere se abster de mais explicações para quem procura.
Acontece que, desde 1988 com a Constituição Cidadã, o SUS vem sendo dilapidado pelos governantes. Seja reduzindo a oferta de unidades conveniadas, na retirada de fontes de recursos ou até mesmo mantendo uma tabela inviável de procedimentos que tornam a prestação desses serviços praticamente impossível. É um problema histórico e cuja solução não é vislumbrada no curto, médio e longo prazo. O sistema então definha, enquanto planos de saúde exploram o usuário com falta de acesso aos itens contratados a preços exorbitantes.
A ANS, que deveria regular o sistema, diz acompanhar de perto a situação dos usuários não atendidos pelo plano de saúde. Não é o que relata quem demanda o uso do serviço. Urgências e emergências fechadas e consultas impossíveis de serem marcadas. Algo que acontece com a Unimed Norte Nordeste e, possivelmente, se repete com tantas outras operadoras de saúde espalhadas por todo o Brasil. A prática de contratar um plano para tentar evitar um sucateado SUS cai por terra e prova que privatizar a saúde não é uma solução: cria burocracia e muita despesa para enfrentar um problema. Enquanto isso, vamos aos montes bater a cara com a porta ao precisar de atendimento.
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