sábado, 1 de maio de 2021

Mulher morre horas após dar à luz em maternidade no dia da reabertura para o SUS e família denuncia negligência, em Timbaúba

 

Amanda tinha 23 anos e, com 40 semanas, foi a primeira paciente a dar à luz na Maternidade Doutor Tito Ferraz após a reabertura para partos da rede municipal. Polícia Civil investiga o caso como 'morte a esclarecer'.


Mulher de 23 anos morre logo depois de dar à luz a uma menina


Uma mulher morreu horas após dar à luz uma menina, na Maternidade Doutor Tito Ferraz, que fica no Hospital Memorial Doutor João Ferreira Lima, em Timbaúba, na Zona da Mata (veja vídeo acima). O parto foi o primeiro feito por meio da rede pública, na unidade, em cinco anos - antes da reabertura, as gestantes que utilizavam o Sistema Único de Saúde (SUS) precisavam ser transferidas para o Recife.

A família da vendedora Amanda Lorraine Gonçalves de Lima acredita que houve negligência e denunciou que, por seis horas, a paciente ficou sem atendimento médico, até sofrer convulsões. A Polícia Civil está investigando o caso como "morte a esclarecer".

A prefeitura de Timbaúba disse, em nota, que, para entender e analisar o que aconteceu, a "maternidade parou o atendimento na quinta-feira (29) e nesta sexta-feira (30), devendo retomar no sábado (1º) (veja mais abaixo).

Amanda Lorraine, de 23 anos, morreu horas após dar à luz em maternidade de Timbaúba


A Maternidade Doutor Tito Ferraz é particular e foi inaugurada há cerca de 50 anos. Por causa de um convênio com a prefeitura, o local passou a fazer partos para a rede pública, mas, há cerca de cinco anos, parou de atender pacientes do SUS. Na quarta-feira, houve a reinauguração da parceria.

Amanda tinha 23 anos e estava com 40 semanas de gestação. A cesariana começou por volta das 8h40 da quarta-feira (28) e, cerca de uma hora depois, Amanda saiu da cirurgia, amamentou a bebê normalmente e foi transferida para um quarto.

Segundo a família, mãe e filha, chamada Júlia, passavam bem após o parto e não tinham nenhuma comorbidade.

"Ela estava normal, feliz, contente como sempre foi. Quando entrou no quarto, ela disse 'mainha, meus braços estão formigando'. Eu disse 'menina, tu estás é com as pernas dormentes, por causa da anestesia'. Ficou naquela moleza, uma agonia. A enfermeira dizia que podia ser queda de pressão, nem pegar o bebê para mamar ela conseguia", afirmou a mãe de Amanda, Ivanilda Ferreira da Silva.

Amanda Lorraine morreu na quarta-feira (28), em Timbaúba

Amanda, segundo a família, foi medicada com analgésicos e tomou soro. A mãe dela disse que, em momento algum, depois de sair da cirurgia, a jovem foi atendida por um médico. A única assistência que teve foi do corpo de enfermagem.

"Nada passava. Isso começou às 18h e ela ficou assim até meia-noite, porque não tinha médico. A maternidade também não tem UTI. Foi ficando pálida, roxa, mudando de cor, uma agonia. Eu chamei ela para tomar um banho e ela disse que não tinha condições. Ela pediu para se sentar, mas não conseguia levantar. Quando botou o pé no chão, começou a ter convulsões", afirmou a mãe da jovem.

Amanda foi, então, transferida para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Timbaúba. No local, logo após a chegada, a família foi informada da morte da jovem. Já a filha dela, Júlia, passa bem.

A prefeitura divulgou uma nota nas redes sociais em que lamentou profundamente a morte da jovem e afirmou que aguarda conclusão de laudo do Serviço de Verificação de Óbito e do Instituto de Medicina Legal (IML).

"As outras cinco mães [que deram à luz na maternidade] já tiveram alta e estão em casa", afirmou a gestão.

Responsabilização


O advogado Gilderson Correia, que acompanha a família, afirmou que pretende abrir uma ação de responsabilização civil sobre o caso.

"É muito claro que houve uma responsabilização objetiva, que independe de culpa ou dolo. Ela estava estável, fez pré-natal no posto de saúde da cidade, não tinha, aparentemente, nenhum problema de saúde. Foi, inclusive, o segundo filho dela. A maternidade estava inoperante há cinco anos por diversos motivos e o novo prefeito reabriu e colocou as vidas das pessoas em risco. Queremos que isso não aconteça com mais ninguém", afirmou o advogado.

Resposta


G1 questionou à prefeitura de Timbaúba sobre a falta de médicos, denunciada pela família, e o município disse, em nota, que está investigando junto ao hospital "se houve algum tipo de falha na prestação do serviço contratado" e que está aguardando a conclusão dos laudos periciais para saber a causa da morte.

A prefeitura explicou, ainda, que contratou o Instituto Memorial João Ferreira Lima para prestar serviços médicos de realização de partos "em favor dos timbaubenses, uma vez que o hospital é referência há décadas na cidade" e que "nessa área médica, inclusive, realiza partos particulares diariamente".

"Informamos também que a mãe realizou todo o pré-natal, o qual concluiu que a gravidez não era de risco, tendo em vista que, nos casos de gravidez de risco, fazemos o encaminhamento para maternidades de referência do estado".

A nota afirma, ainda, que todos que fazem parte da gestão estão "extremamente tristes com a perda da mãe e prestando toda atenção necessária à família".




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