sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Polícia aponta negligência e indicia pai e médico de UBS por morte de menina de 2 anos em Macapá

 

Criança ficou quase 10 dias em casa com sintomas e médico não ofereceu o tratamento adequado, aponta inquérito.


Criança foi atendida horas antes da morte na UBS Congós

O pai e um médico da Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Congós, na Zona Sul de Macapá, foram indiciados pela morte de uma menina de 2 anos, ocorrida em 4 de agosto. A investigação da Polícia Civil apontou que a criança deu entrada na unidade debilitada e com indícios de infecção, mas não teria recebido o tratamento de saúde correto.

O inquérito da Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca) apontou negligência tanto do pai, que manteve a menina em casa por vários dias com sintomas, quanto do médico, que não teria oferecido o tratamento adequado.

Os dois vão responder pelo crime de homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. Antes de ser levada para a UBS, Tamires da Silva passou cerca de 10 dias na residência do pai, de 46 anos, que possuía a guarda compartilhada da menor.

"Pela ausência e pela omissão do pai de levar essa criança com esses sintomas, eu entendi que ele foi responsável pela causa da morte, responsável pelo homicídio culposo da filha", apontou Ronaldo Entringe, delegado que liderou a investigação.

Pai e médico de UBS são indiciados por morte de menina de 2 anos em Macapá

Os relatos apontaram que a menina estava muito fraca e com lesões e manchas pelo corpo. O pai alegou que ela teria caído da escada. A mãe da criança foi buscá-la na casa do acusado e constatou a situação de saúde da menor.

Em seguida, procurou atendimento médico na UBS Congós. O delegado disse ainda que a criança não recebeu o atendimento correto e mesmo muito debilitada foi mandada para casa. Em depoimento, o médico e a defesa dele permaneceram em silêncio. O G1 não conseguiu localizar o pai.

"A mãe quando foi buscar a criança, de imediato levou a menina na UBS do Congós e lá foi atendida por um médico que apenas receitou o medicamento via oral. Após, ela a levou para casa, por volta do meio-dia. Quando chegou a noite a criança já estava quase falecendo", relatou.

A mãe chegou a utilizar os remédios receitados pelo médico, entretanto, não houve melhora e ela resolveu levar a criança em outra unidade de saúde, segundo a polícia.

A menina chegou em estado grave na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Sul, na noite de 4 de agosto. Os médicos tentaram reanimá-la, mas sem sucesso.

Ao analisar o estado da criança, um dos plantonistas da unidade disse em depoimento à polícia que o quadro da menina sugeria "uma infecção bacteriana específica", que teria ocasionado as lesões na boca e na pele.

Médicos da UPA da Zona Sul tentaram reanimar Tamires, mas ela faleceu na Unidade de Saúde

O profissional da saúde da UPA não descartou a hipótese da queda da escada, mas enfatizou à polícia que pode ter sido motivada pelo estado de fraqueza em que ela se encontrava.

Em depoimento, completou que a vítima apresentava indícios da Síndrome da Pele Escaldada, que aponta um estado avançado de infecção bacteriana.

O laudo pericial apontou que a causa da morte foi um choque hemorrágico por lesão no coração, em decorrência da tentativa de reanimação da menina, que já estava com o corpo fragilizado, informou a Dercca.

Após a conclusão do inquérito, o pai e o médico da UBS Congós foram indiciados na terça-feira (24) por homicídio culposo. O caso foi encaminhado à Justiça.

Sobre o atendimento inicial na UBS, a prefeitura de Macapá, responsável pela unidade de saúde, informou que tomou conhecimento do fato, que o caso está sob averiguação e posteriormente irá se manifestar sobre o assunto.







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