sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Elas ficaram com sequelas após cirurgia plástica: "Autoestima péssima".

 

A médica Elisa Schechtman ficou com sequelas após cirurgias plásticas no rosto

Duas modelos falaram publicamente nos últimos dias sobre as sequelas que tiveram após procedimentos estéticos mal sucedidos: enquanto participava do reality "A Fazenda 13" (Record TV), Liziane Gutierrez apontou falta de sensibilidade após passar por uma harmonização facial em 2018. Já a canadense Linda Evangelista contou no Instagram estar "brutalmente desfigurada" após procedimento de criolipólise há mais de cinco anos.

A cirurgiã-plástica Elisa Schechtman e a vendedora Carol Nonato sabem bem as consequências de uma cirurgia mal executada: enquanto a médica carioca faz fonoaudiologia para tentar reduzir as sequelas de um avanço de queixo e rinoplastia em 2010, a paulistana embarga a voz ao mostrar a barriga toda deformada e roxa após lipoescultura e mastopexia - cirurgia que eleva o seio - com prótese, no início deste ano. A Universa, especialistas ensinam a escolher bons profissionais e como tentar reparar um dano.

Aos 15 anos, Elisa, hoje com 44, relatou à mãe que se incomodava com o nariz grande e, com a autorização dela, fez uma plástica. Ela conta que, além de não ter gostado do novo nariz, acordou com uma prótese no queixo, que o aumentou. Mas somente aos 33 anos procurou um médico-cirurgião de um renomado hospital em São Paulo para reparar tudo. A situação piorou.

"Saí da cirurgia com a sensação de que ele quebrou meu queixo na marreta, porque o osso ficou estilhaçado. A mandíbula também estava fraturada. Uma tomografia mostrou fratura óssea por dentro da boca. Quando voltei nele para reparar, tive o freio da língua cortado sem minha autorização e saí do hospital com o osso quebrado não solucionado, além de vários cortes na gengiva", Elisa relata.

"Fiquei com o queixo enorme e desalinhado. Ainda sinto toda a borda da mandíbula por dentro da boca. E ficou por isso mesmo. A equipe do médico minimizou o problema, disse que minha fala estava charmosa e que o osso iria absorver sozinho."

Mais duas cirurgias que não repararam o dano

Elisa precisou passar por mais duas cirurgias para tentar reparar os problemas que teve


EIisa diz que ficou cinco anos tentando encontrar outro médico que consertasse a cirurgia, e conseguiu achar apenas dois profissionais que aceitaram porque eram conhecidos dela. Mas eles não conseguiram amenizar sua dor.

"Uma conseguiu tirar um pedaço do osso quebrado, mas o pós-operatório foi muito ruim. Fiquei com dificuldade para falar e ainda continuo sentindo muito desconforto na boca. Em 2019 fiz a última cirurgia, mas um músculo da laringe se soltou e prejudicou, inclusive, a respiração. Ainda tive a tuba auditiva quebrada e fiquei com disfagia, que é dificuldade de engolir."

Elisa fala que gastou mais de R$ 100 mil com essas tentativas de reparo e pediu, há dois anos, para o médico pagar parte dos danos, ou ao menos o tratamento com fonoaudióloga que custa R$ 400 por semana, mas ele se recusou. Ela não procurou a Justiça.

Hoje, diz que não pensa em passar por outro procedimento cirúrgico.

Hoje Elisa está decidida a não mais operar

"Esteticamente está muito ruim. Atrapalhou até na minha comunicação com meus filhos, de 3 e 5 anos, porque não conseguia nem brincar que ficava com falta de ar. Também me afastei do trabalho por um tempo por depressão. Minha autoestima é péssima, mas esse queixo vai ficar assim mesmo. Já me conformei."

"Tive sangramento e médico cobrou até por transfusão".

Após ter a primeira filha, em 2009, Carol Nonato, 37, fez sua primeira lipoaspiração e ficou satisfeita com o resultado. Tanto que em 2012 pediu para o mesmo cirurgião retocar a lipo e colocar silicone nos seios.

Após ter mais dois filhos, quis passar pela terceira lipoescultura e mastopexia, que eleva o seio, mas o cirurgião com quem realizou os outros procedimentos, nas suas palavras, ficou muito caro. Só o seio ficaria em R$ 30 mil. Resolveu então fazer com um outro profissional que operou uma amiga.

O procedimento ocorreu em 25 de janeiro deste ano, em um hospital privado de São Paulo. Ela fala que entrou na sala de cirurgia às 8h30 e foi para o quarto somente às 22h.

"Acordei com oxigênio, pálida. Somente no dia seguinte o cirurgião disse que tive um pequeno sangramento e que eu precisaria de transfusão de sangue, mas me cobrou R$ 6 mil por duas bolsas. Recusei, claro, até porque sou doadora de sangue e nunca vi isso. Ele então me deu alta, e não fez a transfusão."

Carol relata que o valor da sua hemoglobina estava a 6.6, quando o normal para uma mulher seria entre 12 e 16. Passando muito mal, foi levada para um hospital público, e teve um choque hipovolêmico, que é a significativa redução do volume intravascular. Recebeu quatro bolsas de sangue, teve os pontos abertos, pegou bactéria hospitalar e a pele da barriga necrosou. Ela processa o profissional por erro médico e danos morais, e pede na Justiça R$ 100 mil de indenização.

"Eu acho que ele 'lipou' mais do que o necessário. Agora só posso fazer tratamento com laser para tentar reduzir as manchas."

"Só sei que ele acabou com meu corpo. Fiquei um pouco traumatizada porque fiz para melhorar minha autoestima e fiquei pior. Não posso mais pôr um biquíni. E tenho vergonha de ficar pelada na frente do meu marido."

O processo corre em segredo de Justiça e Carol prefere não citar o nome do profissional.

Ajuda psicológica é importante antes mesmo da cirurgia.

Psicólogas ouvidas por Universa orientam pacientes que vão passar por cirurgia a buscar uma ajuda médica para lidar com as mudanças. Elaine Di Sarno, especialista em terapia cognitiva comportamental pela USP (Universidade de São Paulo), indica, inclusive, uma preparação antes mesmo do procedimento.

"Quando você tem uma expectativa muito alta e aquilo acaba não acontecendo, a frustração é muito grande. Se você não tiver preparo, pode deprimir profundamente porque há um luto daquilo que era saudável e se tornou, por exemplo, uma barriga deformada. Às vezes, as cicatrizes são muito mais dolorosas e profundas", ela explica.

Elaine acrescenta que o momento pós-cirúrgico é delicado, independentemente do resultado, e pode gerar dor e desconforto. "A pessoa fica mais vulnerável e fragilizada, podendo acarretar uma ansiedade e até mesmo transtorno depressivo."

A psiquiatra Danielle Admoni corrobora. "A pessoa acha que vai resolver a vida depois que fizer a cirurgia, como arrumar namorada ou emprego, e fica tudo em cima da cirurgia. A gente sabe que não é assim que funciona. Então, bons profissionais sempre colocam a realidade para a paciente."

"É preciso saber quando é erro ou complicação"

Elisa e Carol verificaram a inscrição de ambos os profissionais no CFM (Conselho Federal de Medicina), além de terem buscado o resultado de seus procedimentos em outras pacientes. Mas o que se vê hoje é a busca por médicos que têm mais seguidores nas redes sociais, ou fazem grandes promoções, em detrimento de uma verificação mais apurada de seu histórico.

Para não cair em roubada, o presidente da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), Dênis Calazans, ensina que o primeiro passo é verificar se o nome do profissional consta no quadro de membros da entidade, disponível no site. É importante ainda saber se o médico possui o RQE, que é o registro de qualificação de especialista.

Ele lembra, porém, que a entidade não fiscaliza o exercício médico, e sim os Conselhos Regionais de Medicina. E lista outros caminhos para achar um bom profissional: "É preciso checar se realmente o profissional tem o título de especialista e analisar se ele faz propagandas de antes e depois do procedimento, ou promete resultados, pois tudo isso é terminantemente proibido pelo Conselho Federal de Medicina. Em nosso site, trazemos uma série de perguntas que o paciente deve fazer para o médico. Em caso de dúvidas, consulte outro especialista."

Médico-perito no Imesc (Instituto de Medicina Social e Criminologia do Estado de São Paulo), o cirurgião Alexandre Kataoka endossa: "Estamos pegando muita complicação como cegueira e necrose, a maioria por causa de preenchedores, feitos por pessoas que não são especialistas. Eu pego uma média de 30 casos de possíveis de erros nessa parte estética por mês. Minha orientação é atentar para o fato de todo profissional ter que saber tratar qualquer complicação do procedimento que faz."

"É preciso ter senso crítico"

O paciente que ficar insatisfeito com o resultado de uma cirurgia precisa buscar a opinião de outro médico para verificar se houve complicação no procedimento, o que pode acontecer, ou erro médico, conforme explica Kataoka: "Achando que foi erro, a pessoa pode entrar em três esferas: a ética, que é procurar o CRM; a criminal, que é fazer um boletim de ocorrência na delegacia; e a cível, para tentar reparar os danos na Justiça, e aí uma perícia médica vai ou não constatar que houve erro."

Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em 2020 entraram 36.619 processos por erro médico nos tribunais do país, ante 31.039 em 2019 e 23.869 no ano anterior. Ou seja: um aumento de 23% em dois anos. Não é possível, porém, verificar quantos desses processos referem-se a cirurgias plásticas.

Presidente da SBCP-SP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - São Paulo) Felipe Coutinho pede ainda que se desconfie mais dos profissionais: "É preciso ter senso crítico. Não adianta querer que os órgãos fiscalizadores estejam presentes 24h por dia em todos os lugares se está na cara que a pessoa está numa roubada, como fazer algum procedimento numa casa, e não na clínica."






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