terça-feira, 26 de outubro de 2021

Família de mulher que morreu após o parto denuncia negligência médica da Maternidade Nossa Senhora de Fátima, em Maceió

 

Mayara Sthefany, 25 anos, faleceu após parto normal por rompimento do colo do útero e hemorragia. Viúvo contou que esposa tinha indicação de cesárea porque o bebê estava em sofrimento dentro da barriga.


Ultrassonografia em que foi descoberto o sexo do terceiro filho do casal

Um grave problema de saúde pública conhecido como mortalidade materna fez mais uma vítima e impactou a vida de toda uma família. Dessa vez, a tragédia, que é evitável em 92% dos casos, ocorreu em uma família do município de Marechal Deodoro, em Alagoas. A auxiliar de cozinha Mayara Sthefany da Costa Nascimento, 25 anos, morreu após o parto do terceiro filho.

O bebê Weverton Hazael Costa Marques está intubado na UTI de um hospital em Maceió. O marido da vítima e pai do bebê, o mecânico José Wellison dos Santos Marques, 25 anos, foi à polícia para denunciar negligência da Maternidade Nossa Senhora de Fátima, onde a mulher foi atendida.

Marques disse que a esposa deu entrada no hospital na segunda-feira (18) com indicação de cesárea, mas foi mandada para casa. Eles tentaram atendimento na Maternidade Nossa Senhora da Guia e também foram liberados. O parto normal foi realizado na noite de quarta-feira (20) na Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima, em Maceió.

A mãe teve rompimento do colo do útero e hemorragia e foi intubada após o parto. O bebê também foi intubado. Ele aspirou o líquido amniótico, que contém mecônio (fezes). A mãe foi transferida e morreu no no dia seguinte, na Maternidade Escola Santa Mônica.

A 10ª Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID10) define mortalidade materna como “a morte de uma mulher, ocorrida durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez, devido a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não devido a causas acidentais ou incidentais”.

"Nós temos mais dois filhos, uma menininha de 7 anos e um garoto de 10 anos, por isso nós já tínhamos decidido que essa seria a última gestação, de não ter mais filhos e corremos para que minha esposa fizesse também cirurgia para não ter mais filhos. Nós fomos para uma pré-consulta antes do parto em Pilar na segunda-feira (18/10). Nessa pré-consulta a médica viu que o meu bebê estava em sofrimento, de ladinho e laçado, por isso ela deu encaminhamento para uma maternidade. Coloquei minha esposa no carro e demos entrada em Maceió na Maternidade Nossa Senhora de Fátima, mas ela foi manda para casa porque disseram que estava tudo bem com o bebê, que ela ainda aguentaria mais três dias", contou.

Orientados pelo hospital, Mayara e o esposo voltaram para casa. "Ela estava sangrando muito ainda. Levei ela para a Maternidade Nossa Senhora da Guia, no Poço, e lá também disseram que não tinha nada de errado com o bebê e mandaram voltar para casa".

"Na manhã do dia 20, minha esposa estava teve muitas contrações. A bolsa estourou em casa e por volta das 8h demos entrada na Nossa Senhora de Fátima. Dessa vez minha tia ficou como acompanhante dela. Ela só foi para a sala de cirurgia por volta das 21h, porque 11h da manhã o hospital deu refeição a ela e depois disseram que cesárea só poderia ser feita em jejum. Meu bebê não aguentou o sofrimento e nasceu normal. Rompeu o colo do útero da minha esposa, que teve hemorragia e foi intubada. Meu bebê ingeriu mecônio. Ela foi transferida para a Santa Mônica e morreu por volta das 11h do dia 20. Enterrei minha esposa na sexta-feira. Meu filho está intubado em estado grave".

José Wellison contou que a família está indignada porque a esposa era saudável, a gravidez não era de risco e havia indicação médica de cesariana, que não foi seguida pelo hospital. "Minha esposa era super saudável, tinha 25 anos como eu. A gestação foi super tranquila. Ela estava bem feliz com a gravidez, bem ansiosa pela chegada do nosso filho. Queremos Justiça. Queremos que o caso venha a público, que outras famílias não passem por isso. Não desejo a nenhuma família o que a minha está passando. Minha esposa sofreu muito, meu bebê sofreu muito".

Viúvo e pai de três crianças, o mecânico denunciou à polícia as condições do atendimento hospitalar que resultaram na morte da esposa e situação grave de saúde do filho caçula. Ele também já solicitou aos hospitais cópias dos prontuários médicos e disse que vai levar o caso ao Conselho Regional de Medicina de Alagoas (Cremal).

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, de 1996 a 2018, foram registrados 38.919 óbitos maternos no SIM, sendo que aproximadamente 67% decorreram de causas obstétricas diretas, ou seja, complicações obstétricas durante gravidez, parto ou puerpério devido à intervenções, omissões, tratamento incorreto ou a uma cadeia de eventos resultantes de qualquer dessas causas.

Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informou que a avaliação preliminar da Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima constatou que todos os protocolos de atendimento foram seguidos (confira nota na íntegra abaixo).

A direção da Maternidade Nossa Senhora de Fátima esclarece que, como em todos os casos em que ocorra óbito materno ou fetal, uma equipe especializada de profissionais da instituição averigua detalhadamente os acontecimentos de modo técnico-científico. Na avaliação preliminar, observou-se que todos os protocolos de vigilância e assistência materno-fetal preconizados pelo Ministério da Saúde foram seguidos durante o atendimento da paciente Mayara Sthefanny da Costa Nascimento.

Também por meio de nota, a Santa Casa de Maceió, responsável pela Maternidade Nossa Senhora da Guia, informou que não tem informações sobre o caso, nem a confirmação de que a gestante deu entrada no local.

A direção médica da Maternidade Escola Santa Mônica informou que Mayara Sthefanny recebeu a assistência devida na UTI materna da unidade e que, em virtude da obrigatoriedade de sigilo médico, se encontra impedida de difundir informações sobre sobre o caso, tendo os esclarecimentos sido prestados à família da paciente.

Mayara Sthefany durante a terceira gravidez; ela morreu após parto realizado na Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima, em Maceió

Casal José Wellison e Mayara Sthefany; ela morreu após parto na Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima, em Maceió

Atestado de óbito de Mayara Sthefany, que morreu após parto realizado na Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima, em Maceió

Ultrassom do terceiro filho do casal; mulher morreu após parto na Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima, em Maceió









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