sábado, 9 de outubro de 2021

MPF-SP investiga Conselho Federal de Medicina por suspeita de apoiar tratamento ineficaz contra Covid

 

Ministério Público Federal abriu investigação contra CFM porque órgão teria sido conivente com uso do 'kit Covid', conjunto de remédios, como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, que não têm comprovação científica de que possam prevenir ou combater a doença.


Conselho Federal de Medicina

Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo abriu neste mês inquérito para investigar a conduta do Conselho Federal de Medicina (CFM) por suspeita de apoiar o chamado 'tratamento precoce', com medicamentos ineficazes contra a Covid. O 'kit Covid' é um conjunto de remédios, como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, que não têm comprovação científica de que possam prevenir ou combater a doença.

A notícia foi publicada inicialmente pelo jornal O Globo, nesta sexta-feira (8). A reportagem confirmou a informação com a assessoria de imprensa do MPF-SP.

Procurado, o CFM informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "até o momento, o Conselho Federal de Medicina (CFM) não recebeu qualquer comunicação oficial sobre o assunto. Caso seja acionado, oferecerá todas as informações pertinentes."

O inquérito civil foi aberto após representação feita pelo cardiologista do Instituto do Coração (Incor) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Bruno Caramelli. O documento informa que houve omissão do Conselho Federal de Medicina em manifestar, publicamente, um claro posicionamento científico contra a disseminação da existência de um suposto 'tratamento precoce' eficaz contra a Covid-19.

Segundo a representação, a omissão do CFM configura infringência das competências previstas no artigo 10 do regimento do próprio Conselho — que prevêem a definição do ato médico e a expedição de resoluções normatizadoras e fiscalizadoras do exercício profissional dos médicos.

Nota Técnica orienta sobre a ampliação do acesso a Hidroxicloroquina, Cloroquina e Azitromicina por pessoas acometidas de infecção por Covid-19.

Um trecho do documento destaca que "a ausência de posicionamento firme do Conselho Federal de Medicina, ao se quedar silente e não repudiar a recomendação do 'tratamento precoce' sem evidências científicas, com a utilização medicamentosa da hidroxicloroquina para a Covid, configura patente afronta ao código de ética médica. Que o Conselho Federal de Medicina tem o dever legal de preservar".

Junto com a representação, foi anexado um abaixo assinado organizado por Caramelli — até a última publicação desta reportagem contava com mais de 63 mil assinaturas — que informa que o Conselho Federal de Medicina deve condenar o 'tratamento precoce' para Covid-19.

O professor da USP acredita que o uso de medicamentos ineficazes contra a Covid pode representar um desvio de foco e um relaxamento nas medidas protetivas, como a vacina e a desaglomeração. "O tempo e o conhecimento nos mostraram que o tal tratamento precoce não tem comprovação de eficácia e pode fazer mal", afirma Caramelli no documento.

Em entrevista nesta sexta à Globonews, Caramelli afirmou que o problema é o CFM não se posicionar claramente contra essa prática.

"Tem que desaconselhar o uso, tem que proibir. No momento em que o CFM se abstém de fazer um comentário sobre o assunto, está corroborando com o erro médico", diz o cardiologista. "No momento em que o CFM não pune essa atitude, ele não está defendendo a autonomia médica, está defendendo o erro das instituições".

Segundo Caramelli, ele diz que "não está indo contra o CFM, e sim contra a diretoria do CFM".

De acordo com publicação no diário eletrônico do MPF da Portaria que instaura o inquérito civil público, "os documentos e informações coligidos até o momento confirmam a premente necessidade de acompanhamento do Ministério Público Federal, visando a proteção da saúde pública". A publicação também informa que, na representação entregue ao órgão, "há notícia da ocorrência de possíveis ilícitos".

O Conselho Federal de Medicina já é alvo de uma ação civil por danos morais coletivos da Defensoria Pública da União. O órgão acusa o CFM de indicar medicamentos ineficazes para pacientes com coronavírus. E cobra uma indenização de R$ 60 milhões.

Além disso, nesta quarta-feira (6) o presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Luiz de Brito Ribeiro, foi incluído na lista de investigados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid em Brasília. Segundo o relator Renan Calheiros (MDB), Mauro foi omisso e apoiou o "negacionismo [à ciência], pela maneira como deu suporte à prescrição de remédios ineficazes e os defendeu publicamente".

Por meio de nota, o presidente do CFM defendeu novamente suas "convicções em favor da autonomia do médico e do paciente, princípio milenar hipocrático que é pilar da prática da medicina, o qual deve ser defendido - hoje e sempre - sob qualquer circunstância". Em outras palavras, o Conselho Federal de Medicina entende que a prescrição de remédios cabe ao médico e da concordância ou não do paciente.






Nenhum comentário:

Postar um comentário