sábado, 16 de outubro de 2021

“Implorei para não darem cloroquina”, diz filha de paciente morta da Prevent

 Filha de idosa que morreu após tomar medicamentos do “kit covid” acusa a Prevent Senior de negligência médica e homicídio



Elvira Lo Bianco tinha 86 anos quando foi internada em um hospital da Prevent Senior, em São Paulo, em novembro de 2020. A idosa precisou passar por uma cirurgia depois de quebrar o joelho. Em casa, começou a passar mal, com diarreia, e teve que voltar à unidade hospitalar. Segundo sua filha, havia suspeita de Covid-19, mas dois testes de PCR deram negativo para a doença, e a idosa recebeu alta mesmo estando debilitada. Dois dias depois morreu, em casa, com pneumonia.

“Eu pedi para não darem alta para a minha mãe, ela não estava bem. Mesmo assim, deram. A impressão que eu tenho é que eles queriam esvaziar um leito”, afirma Adriana Lo Bianco.

A família denuncia a Prevent Senior por negligência médica. A advogada Heloina Paiva vai pedir que a operadora de saúde seja investigada por homicídio.

A idosa tinha problemas cardíacos, e os exames feitos no hospital apontavam que os pulmões estavam comprometidos. Mesmo sem os testes apontarem infecção pelo coronavírus, dona Elvira recebeu medicamentos do “kit covid”, sem eficácia comprovada contra a doença.

A filha conta que implorou para que não fosse dado hidroxicloroquina para a mãe, já que ela tinha cardiopatia.

Documentos obtidos pela CNN com exclusividade mostram a prescrição médica. Não havia indicação de cloroquina, porém a receita indicava tamiflu, azitromicina e ivermectina, remédios que fazem parte do kit sem eficácia contar a Covid-19.

A filha da paciente conta que ao questionar o motivo da medicação, já que a mãe não estava com coronavírus, ouviu de médicos que era para um tratamento preventivo.

Na época da internação, os remédios que ela ingeriu não estavam descartados pela Organização Mundial da Saúde. Mas, por não serem eficazes contra o problema de saúde da idosa, podem ter comprometido o tratamento, segundo a advogada da família.

No atestado de óbito, a causa da morte é pneumonia. Para a médica cardiologista Ludhmila Hajjar, os remédios prescritos não são eficientes contra uma infecção pulmonar, e uma idosa de 86 anos com comprometimento no pulmão não deveria ter sido liberada.

“Esse chamado ‘kit covid’, com ivermectina, azitromicina e cloroquina, é um tratamento inadequado com Covid ou sem Covid”, afirma a médica.

Em nota, a Prevent Senior afirmou que não pode divulgar o prontuário da paciente, mas que dona Elvira foi internada com suspeita de Covid e que não recebeu hidroxicloroquina no hospital.

Força-tarefa


O Ministério Público de São Paulo vai ouvir o depoimento da filha da idosa. A denúncia se junta a uma série de relatos envolvendo a Prevent Senior. Uma força-tarefa está colhendo depoimentos de familiares de pacientes da operadora de saúde, que morreram após tomar medicações do kit.

Os promotores vão pedir perícias técnicas para determinar a causa dessas mortes. Everton Zanella, promotor que está à frente da força-tarefa, afirmou que médicos e diretores da empresa poderão ser investigados por homicídio.

Nesta semana, deve ser concluída a análise de documentos que foram enviados pela CPI da Pandemia. Em seguida, o Ministério Público vai começar a ouvir o depoimento de médicos.




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