sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Renais crônicos que não tinham água e comida são removidos de hospital

Defensoria Pública afirma que se providências não forem tomadas até o fim do mês, saída é pedir intervenção no município


Defensora pública Mariza Fátima Gonçalves durante vistoria ao setor de hemodiálise do Hospital da Vida 

O caos na saúde pública de Dourados, a 233 km de Campo Grande, se agrava a cada dia. Oito dos 17 pacientes renais crônicos do setor de nefrologia do Hospital da Vida foram transferidos após intervenção da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul porque não recebiam o devido atendimento. Eles permaneciam no local há mais de um dia aguardando diagnóstico. Nesse tempo, não receberam alimentos e água.

De acordo com a assessoria da Defensoria Pública, a transferência foi solicitada administrativamente por se tratarem de casos urgentes e de média e alta complexidade.

A medida foi tomada após a defensora pública Mariza Fátima Gonçalves, representantes do Ministério Público Estadual, Defensoria Pública da União, OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e vereadores constatarem “o estado caótico a qual se encontrava a unidade de saúde”, em uma visita no dia 8 deste mês.

Mais uma vez a ameaça de intervenção no município vem à tona. Nesta semana, o Campo Grande News mostrou que a medida já está sendo analisada por vários órgãos como último recurso para tentar garantir atendimento a pacientes de 33 municípios da região.

Sem água e comida – Através da assessoria, a defensora pública afirmou ter constatado na vistoria que os pacientes estavam há mais de um dia aguardando diagnóstico, sem ingerir água ou alimentos e sem nenhuma informação do hospital. Também foram encontrados pacientes que relataram dores há pelo menos três horas e sem medicamentos.

A defensora relata que um dos assistidos foi levado ao hospital às 17h30 do dia da visita pelo Corpo de Bombeiros com fratura na coluna e trauma no abdômen, mas até 21h ainda não tinha recebido medicamentos ou tratamento.

A situação, definida pela defensora como “caótica”, se instalou devido à dívida milionária do hospital, o que levou à falta de pagamento de fornecedores.

“Serviços essenciais, como exames em área verde, amarela e vermelha, estão sendo suspensos. Também faltam médicos, insumos básicos e ainda existem atrasos de pagamento e escalonamento de salário de profissionais, o que provoca péssimas condições do serviço oferecido à população”, afirma a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul.

Mariza Fátima Gonçalves disse que além das transferências, foram feitos outros sete atendimentos de pacientes em situações precárias ou mal assistidos no hospital. “Eles receberam orientações jurídicas e foram aconselhados a irem até a sede da Defensoria para outras providências”, informou. Mariza atua em auxílio à coordenadora da 4ª Regional de Dourados, defensora pública Inês Batisti Dantas Vieira.

Intervenção – Na segunda-feira (12), Mariza Fátima Gonçalves participou de reunião com integrantes do Judiciário, OAB, vereadores e representantes das secretarias de Saúde do Estado e de Dourados, na 4ª Subseção da OAB.

A reunião foi para saber quais medidas a Secretaria de Saúde do município já adotou para amenizar a “situação caótica” da saúde pública de Dourados, especificamente no Hospital da Vida, após as denúncias de várias irregularidades e intervenção na Funsaud (Fundação de Serviços de Saúde de Dourados), órgão que administra o hospital e a UPA (Unidade de Pronto Atendimento).

Segundo a Defensoria Pública, após ampla discussão ficou decidido que será feita a revisão das pactuações entre Hospital da Vida, Hospital Universitário, Hospital Evangélico e Hospital Cassems.

Também foi dado o prazo de até o fim deste mês para que a situação seja resolvida antes que medidas judiciais sejam tomadas, como por exemplo, a intervenção do Estado no município. “Foi pedido, ainda, mais clareza e rapidez na prestação de contas, por meio do portal da transferência”, afirma a Defensoria.

A secretária de Saúde de Dourados Berenice Machado de Souza foi procurada nesta manhã, mas não se manifestou sobre o caso.

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