quinta-feira, 10 de outubro de 2019

“Minha esposa morreu porque teve o abdômen e o intestino perfurados durante a cesárea e trataram como se fossem gases”, diz pai

Em entrevista exclusiva a CRESCER, o marido acusa o obstetra por erro médico e negligência. Entenda o caso


Valdnei e a mulher que morreu após a cesárea

O mecânico Valdinei Inocêncio Bonini, 34 anos, e sua esposa Angela Maria Moreira, 32, sempre planejaram ser pais e estavam ansiosos com a chegada de Arthur, primeiro filho do casal. Porém, o que era para ser um momento de extrema alegria, se tornou em tristeza. Segundo Valdinei, durante uma cesárea agendada no nono mês de gestação, sua esposa teve o abdômen e o intestino perfurados. Ela sofreu muito com dores e morreu, três dias após o nascimento do filho. De acordo com ele, além do erro médico, um dos grandes problemas foi a negligência do obstetra com o caso.

“Assim que ela foi para o quarto, após a cesárea realizada no Hospital Nossa Senhora da Saúde, em Santo Antônio da Platina (PR), minha esposa começou a reclamar de dor no lado esquerdo do abdômen, a barriga dela estava extremamente inchada. Entraram em contato com o obstetra dela e, pelo telefone, ele informou aos enfermeiros que tratavam-se de gases. Para ela andar que passava”, diz Valdinei. Angela passou dois dias no hospital sentindo muitas dores e tratando como se fossem gases. “Como ela também não estava urinando e não tinha feito fezes, os enfermeiros colocaram uma sonda para esvaziar a bexiga e disseram que iria “melhorar a dor””, diz ele que estuda para ser socorrista.

No dia que Arthur teve alta do pediatra para ir pra casa, Angela sentiu dores tão fortes que precisou ser medicada na veia. “Mas, mesmo assim, o obstetra dela seguiu com a alta médica, sem ter feito ao menos um raio-x ou uma tomografia do abdômen”, diz. Segundo Valdinei, ele questionou várias vezes o médico de que o tamanho da barriga e as dores que ela estava sentindo não eram normais, mas foi ignorado e ele, inclusive, deu alta para ela.

Angela exibe a barriga durante a gestação

A família ficou poucas horas em casa, pois Angela começou a ficar pálida de tanta dor e eles tiveram que correr para um pronto socorro. “Levamos para o Hospital de Caridade de São Vicente de Paulo, de Quatiguá (PR). A médica que atendeu disse que o abdômen dela estava estendido e o intestino obstruído. Fizeram uma lavagem, colocaram a bolsa de colostomia e liberaram para ir para casa novamente”, diz.

Só que como as dores não cessavam e, como ela já não aguentava mais, ligaram para o obstetra e foram para o Hospital Regional do Norte Pioneiro (PR), porque ele estava de plantão lá. “Só neste momento que foi feito o primeiro raio-x. Um outro médico informou que o abdômen e o intestino dela estavam perfurados e, por isso, o intestino obstruído e que ela precisava ser transferida urgente para fazer uma cirurgia de emergência”, diz Valdinei.

Angela foi transferida para o Hospital Nossa Senhora da Saúde (PR), que atende o seu convênio e onde foi realizada a cesárea, e passou por uma nova cirurgia. Lá, segundo Valdinei, o médico que realizou a cirurgia informou que o casa dela era bem grave porque ela também estava com sepse (infecção).

Valdinei com o filho Arthur

“Ele deixou eu vê-la e os batimentos cardíacos dela estava bem baixos e ela já bem rebaixada. Eu segurei na mão dela, rezei e pedi muito pra ela sobreviver para a gente criar nosso filho juntos. Sai de lá inconformado e fui direto para a capela do hospital, junto com a minha cunhada, para rezar. Pouco tempo depois chegou o obstetra para dar a notícia de que o estado de saúde dela se tornou crítico. “Antes mesmo dele informar do óbito, eu já disse que sabia, falei que ele havia matado a minha esposa e que o erro tinha sido dele. Que ele deu a vida ao meu filho, mas matou a minha mulher. Ele disse que depois a gente conversava, mas nunca mais entrou em contato, claro”, disse Valdinei. 

Agora, ele que é autônomo e está desempregado, está contando com a ajuda dos familiares para cuidar do pequeno Arthur. “Até agora eu não acredito. Ela entrou para fazer a cesárea toda alegre. Estava muito feliz com a chegada do Arthur e nós tínhamos muitos planos juntos. No hospital, ela me disse do desejo em ter agora uma menina, só que de parto normal, porque nunca mais se submeteria a uma cesárea porque estava sentindo dores horríveis. A nossa família foi destruída por um erro médico e negligência”, diz.

Entramos em contato com o SESA (Secretaria de Estado de Saúde do Paraná) e a assessora de imprensa Andressa Oliveira informou que a paciente passou em consulta com o seu obstetra no Hospital Regional do Norte Pioneiro, realizou exames de raio-x e foi transferida para o Hospital Nossa Senhora da Saúde.

Entramos em contato com o obstetra de Angela e, através do seu advogado Marcelo Marquardt, ele informou que: “a paciente teve todo o atendimento necessário e adequado, que acabou tendo uma evolução ruim e veio a óbito”. Marcelo informou ainda que por conta das normas do Conselho Regional de Medicina (CRM) ele não poderia expor e dar mais explicações sobre o caso.

Entramos também em contato com o Hospital Nossa Senhora da Saúde e Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, mas até o fechamento desta reportagem não obtivemos retorno.

Segundo Valdinei, ele vai encaminhar o caso para a delegacia de medicina da cidade, para posteriormente ser avaliada pela Comissão de Ética Médica e Conselho Regional de Medicina. “Nada vai trazer a minha esposa de volta, mas eu espero justiça e que ninguém passe mais por isso”, finaliza.

Valdinei e o filho Arthur 

Revista Crescer

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