Paciente foi considerado morto em Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá.
Vídeo mostra o paciente respirando em necrotério da capital.
Relatório feito a mão por médica mostra que paciente voltou de necrotério após uma hora (Foto: Joilson Ventura da Silva/Arquivo pessoal) |
O vídeo gravado por um rapaz que passava no corredor próximo ao
necrotério do Pronto-Socorro mostra que Vitalino Ventura da Silva, de 58
anos, estava em uma maca, coberto por lençóis e respirava. “Empacotaram
meu pai vivo. Isso é um absurdo!”, diz a filha Janaína Maria Ventura da
Silva. Ele foi considerado morto por quase uma hora na noite da última
sexta-feira (17) após duas paradas cardiorespiratórias. O paciente está
internado no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC) desde a última quarta-feira (15), quando chegou sentindo falta de ar.
Além de não ter explicação, os filhos de Vitalino não tiveram acesso ao
atestado de óbito, conseguiram apenas a imagem de um relatório escrito à
mão pela médica. Às 23h da noite, ela descreveu a morte. “Parada
cardíaca, opto por não reanimar devido à gravidade do caso e à falta de
prognóstico. À meia-noite, ela relatou que o “paciente retorna do
necrotério apresentando movimentos respiratórios espontâneos”.
Vitalino respira com a ajuda de um aparelho na traqueia e não fala,
pois há um ano teve câncer na laringe, que foi retirado. Como foi
considerado morto, foi enviado para o necrotério sem os aparelhos
respiratórios, com algodão tapando as narinas e com gazes na saída da
traqueia.
Seu filho, Joilson Ventura da Silva, foi até comunicado da morte por
telefone, mas quando chegou ao Pronto-Socorro, uma hora depois para
providenciar o velório, viu que seu pai estava vivo e de volta à sala
vermelha, onde ficam internados pacientes em estado grave. Ele não
entendeu por que havia recebido a ligação e somente após conversar com
outras pessoas no hospital, às 3h da madrugada, teve acesso ao vídeo do
pai feito no necrotério.
“O rapaz que viu ele lá [no necrotério] disse que ele estava lá há um
tempo ali e daí chamou a equipe médica para retirar ele de lá. Não temos
nem uma explicação dessa doutora ainda, temos o relatório que ela fez,
mas os médicos não falam nada e queremos uma resposta”, comenta Joilson.
A suspeita da filha é de que não foi dada a assistência ideal ao pai e
de que não houve nem a tentativa de reanimá-lo após as paradas
cardíacas. “Quando visitamos ele, o coração dele estava batendo.
Esperaram toda a família visitar e foram tirando os aparelhos dele e o
batimento cardíaco foi só caindo”, reclama Janaína.
Uma acompanhante de outro paciente no mesmo setor, que não quis se
identificar, disse que viu a movimentação entre os funcionários, do
envio de Vitalino até o retorno do necrotério. Segundo ela, quando
trouxeram o paciente do necrotério, pediram para que ela se retirasse da
sala e vários médicos e enfermeiros se reuniram ali.
“Chegou uma senhora com a documentação, passou para o enfermeiro-chefe e
disse assim 'A hora que a família chegar, eu vou mandar eles aqui para
cima e você se vira com eles'”, lembra.
De acordo com ele, os médicos dizem que o paciente não pode ser
transferido porque corre o risco de que algo pior aconteça. “Mas para
quem ficou quase uma hora no necrotério tido como morto e depois estava
vivo, como não pode ter uma transferência para fazer exame? Ocorra o que
ocorrer, pelo menos tentamos fazer algo”, afirma Carlos Manoel.
O Pronto-Socorro forneceu um encaminhamento para que a família possa
recorrer à defensoria pública para conseguir uma vaga na UTI.
A administração do Pronto Socorro encaminhou a equipe de reportagem
para o departamento jurídico, que somente abre na segunda-feira (20), em
horário comercial. Quando a médica que carimbou o relatório foi
procurada, foi informado que ela havia saído para almoçar e a reportagem
ainda não conseguiu entrar em contato com ela.
O enfermeiro que teria preparado o corpo e o levado para o necrotério não atendeu o telefone.
A secretária-adjunta de Planejamento e Operações da Secretaria
Municipal de Saúde, Iracema Queiroz, informou que considera o fato uma
falha inadmissível e que a partir desta segunda-feira serão tomadas as
providências cabíveis para o caso.
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