Paciente de 71 anos foi atendida na UPA do bairro Sabaúna, em Itanhaém. Prefeitura afirma que abriu sindicância para apurar os fatos contra a servidora.
Médica de Itanhaém, no litoral de SP, receitou 'kit Covid' para idosa mesmo sem resultado do exame
Uma idosa de 71 anos, que prefere não se identificar, denunciou o atendimento de uma médica na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Itanhaém, no litoral de São Paulo, que receitou o 'kit Covid' para ela mesmo sem o resultado do teste da doença. Ao g1, a paciente contou que, além dos medicamentos sem comprovação de eficácia, a médica também disse que a CoronaVac é a "pior de todas as vacinas" contra o vírus.
Os sintomas gripais iniciaram na última quarta-feira (19), segundo a idosa. Ela conta que tomou um remédio para dor e febre que tinha em casa e foi dormir. "No outro dia, amanheci pior, fui no postinho, mas a médica falou que não podia fazer o teste, porque não tinha feito 24 horas. Aí, passou remédio de dor e febre e vitamina C".
Sem apresentar melhora e com febre, a idosa procurou atendimento na UPA no bairro Sabaúna, na segunda-feira. "Cheguei lá mais ou menos 13h30, e saí por volta das 19h. Passei primeiro com uma médica, que disse que eu já poderia fazer o teste e me encaminhou para o exame. Quando voltei, já tinha mudado o plantão para essa outra médica. Aí, as pessoas começaram a reclamar que ela é antivacina e passa o 'kit Covid' para todo mundo. Já fiquei assustada".
De acordo com a paciente, durante a consulta, a médica falou que não adiantava nada esperar o resultado, que era melhor já medicar logo, e prescreveu os remédios sem informar nada sobre os medicamentos. "Ela não perguntou nada, só foi escrevendo. Eu falei que meu filho fez cirurgia, e que estava preocupada, porque não poderia passar para ele. Ela falou que é bobagem, e que não aconselhava ninguém a esperar o resultado do exame, e que [o vírus] está no ar".
Sem saber que a médica havia receitado o 'kit Covid', a idosa ainda foi questionada por ela sobre qual imunizante teria tomado. "Eu falei que tomei as três doses de CoronaVac, e ela falou que essa era a pior de todas, que estava dando pneumonia nas pessoas".
Na sequência, a idosa pegou a receita, foi até uma farmácia, e o atendente perguntou se ela ia querer mesmo comprar o 'kit Covid'. "Ele explicou que a médica passou cloroquina, e eu falei que não queria. Por sorte, o farmacêutico foi honesto".
"Eu acho que é uma violação, desrespeito. Se ela é contra a vacina, se ela é negacionista, não tem esse direito de ficar passando esse 'kit Covid' para as pessoas", finaliza.
Posicionamentos
Em nota, a Secretaria de Saúde de Itanhaém afirmou que recebeu denúncias e realizou a abertura de uma sindicância para apurar os fatos contra a servidora, que é concursada e já possui outra sindicância contra ela em andamento.
Ainda de acordo com a prefeitura, após a abertura desta nova apuração, os fatos narrados serão encaminhados para investigação de possíveis responsabilidades, além de envio para a comissão de ética. A administração salientou que estarão resguardados o amplo direito de defesa e contraditório da servidora.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) também se posicionou sobre o caso. Confira a nota na íntegra:
"O Cremesp esclarece que, dentro de suas atribuições institucionais, e de acordo com as normas legais, cumpre seu dever de acolher, apurar e julgar quaisquer infrações éticas cometidas por médicos, no exercício da profissão, quando formalmente acionado, o que não ocorreu até o presente momento.
Quando uma denúncia chega ao conselho, é instaurada uma sindicância para avaliar se existem indícios de infração ética. Por exemplo, podem ser analisados prontuários, solicitação de pareceres de câmaras técnicas de especialistas médicos, ouvir as partes e testemunhas, ou ainda pedir manifestações escritas, dentre outros meios de apuração.
Posteriormente, poderá ser instaurado um Processo Ético-Profissional (PEP). Nele, são ouvidas as partes e ainda apurados os fatos com instrumentos similares ao da fase de sindicância [oitivas, pareceres técnicos, análise de prontuário, manifestações escritas, etc...], porém, de forma mais aprofundada. Após a apuração, é determinada uma data para julgamento feito por pares médicos de conselheiros eleitos.
Uma denúncia pode ser feita pessoalmente na sede do conselho ou nas delegacias regionais, e ainda pelos Correios. Não são aceitas denúncias anônimas".
O g1 também entrou em contato com o Conselho Federal de Medicina (CFM), mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário