sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Mãe relata que efeito da anestesia passou durante a cesárea: “Queria gritar muito alto, mas, cerrava os dentes para suportar a dor”

 

Cláudia Raquel Nunes Policarpo, 32, conta que o parto de seu segundo filho, Dante, foi muito traumático. "Já estava sentindo pressão no peito, vontade de vomitar, achava que ia desmaiar", diz em entrevista exclusiva à CRESCER


Claudia com seu bebê 

O nascimento de um filho é um momento muito especial. No entanto, nem sempre tudo sai como planejado. No caso da analista comercial Cláudia Raquel Nunes Policarpo, 32, seu parto foi marcado por um trauma que ela nunca irá esquecer. Em entrevista à CRESCER, a profissional relata que durante a cesárea de seu segundo filho, o efeito da anestesia passou e ela sentiu uma dor insuportável. 

O parto aconteceu no dia 14 de julho do ano passado, no Hospital Vera Cruz de Campinas (SP). A  analista comercial, que mora em Indaiatuba (SP), se dirigiu a cidade vizinha para ter o seu segundo filho, o pequeno Dante, hoje com 5 meses. Ela, que também é mãe do Lorenzo 5 anos, conta que seu último parto foi totalmente diferente do primeiro e causou impacto significativo em sua saúde mental. Confira seu depoimento. 

Descobrir a gestação foi um momento realizador, pois nós planejamos nosso segundo filho. No começo de 2021, decidimos ter mais um bebê e, como tive diabete gestacional na gravidez do meu primeiro filho, optei por fazer exames e ver se era o melhor momento para realizar nosso sonho. Feitos os exames, descobri ser diabética tipo 2, entrei com medicação para controlar as taxas e mudei a alimentação. A médica me pediu para perder 10 quilos e repetir os exames. Quando passou 4 ou 5 meses, acho que consegui perder peso e as minhas taxas estavam regulares, então, tive a autorização para tentar, e, na primeira tentativa, o teste positivo já veio.

Durante a gestação, não tive complicação, em um quadro de diabete em que a alimentação é restrita e o uso de insulina foi incluído desde a descoberta da gestação, engordei entre 9 e 10 quilos até o dia do parto, todos os exames e ultrassons ficaram dentro do planejado.

Parto traumático


Quando estava com 38 semanas e alguns dias, fui para outra cidade [Campinas (SP)] para ter meu filho em um hospital mais equipado para qualquer intercorrência. Fui porque precisava me sentir segura e o médico também para executar o trabalho dele. Ao chegar ao hospital, fiz a internação e o pagamento do parto (médico, anestesista e pediatra). 

Logo depois da minha internação, a fotógrafa chegou e ficamos no quarto esperando os próximos passos. A enfermeira chegou e fez o acesso na minha mão para as medicações que eu iria receber. Eles me levaram para a sala de cirurgia e meu marido [André Felipe Ferrari] e a fotógrafa nos acompanharam durante este percurso, porém, na sala de cirurgia, meu marido não foi autorizado entrar de imediato. Entramos eu e a fotógrafa apenas! As pessoas foram chegando e se apresentando e a sala foi enchendo, lembro que estavam o médico, a auxiliar, uma enfermeira e dois anestesistas. Cheguei deitada e me mantive até eles me pedirem para sentar para iniciar o processo anestésico

Como já tive outra cesárea, lembrava mais ou menos como funcionava, então, eles foram falando: "Cláudia, você vai sentir um geladinho que vamos começar a esterilizar o local... você vai sentir uma picadinha, que é a anestesia local... agora você não pode se mexer e curve seus ombros para frente para esticar a coluna.

Durante este diálogo, estava atendendo a todas as solicitações e ouvindo a conversa descontraída das outras pessoas na sala, pois o nome do meu filho é Dante, “meio diferente", e eles estavam conversando sobre isso. Como eram dois anestesistas, tinha um de cada lado da maca, e eu ouvia que o da esquerda estava instruindo o que estava na direita a como fazer o procedimento. Logo depois da primeira aplicação, um deles falou: ‘Cláudia, você vai sentir outra picada’. E, prontamente, a enfermeira que estava lá perguntou se queria que eu segurasse a mão dela e eu disse que sim! O papo foi reduzindo, pediram para a fotógrafa sair da sala e eu continuava sentada com a coluna esticada, e eles atrás de mim fazendo sei lá o que, porque a essa altura do campeonado a região já estava dormente.

O parto foi iniciado e meu marido e a fotógrafa foram autorizados a entrar na sala. Não sei há quanto tempo eu já estava deitada, mas fui começando a sentir um queimor, como se minha pele estivesse sendo queimada, comecei a sentir a região que o médico estava com a mão, e perguntei: ‘"doutor, está tudo bem?’ Eu tô começando a sentir dor. E ele falava que era a sensação, mas que não era para eu sentir dor, e eu me calei e essa dor foi aumentando. Já estava sentindo pressão no peito, vontade de vomitar, achava que ia desmaiar em alguns momentos, e comecei a relatar a região em que ele estava me tocando, como por exemplo: “Eu estou sentindo sua mão dentro da minha barriga perto do umbigo, eu estou sentindo a moça esticar a minha barriga do lado esquerdo”. A dor foi aumentando, e meu filho nem tinha nascido ainda. O médico foi pedindo calma, dizendo que já estava terminando, senti o meu filho se empurrando contra o lado do corte, vindo para o lado de cima do meu corpo, e a pressão foi aumentando.

Queria gritar muito alto, porém, eu cerrava os dentes e apertava para suportar a dor, porque na minha cabeça só passavam coisas ruins. Que se eu gritasse ia deixar o médico nervoso  e ele poderia esquecer uma gaze dentro de mim, por querer terminar rápido. Eu achava que iria morrer. Com isso, fui apertando os dentes e a mão do meu marido.

Os anestesistas estavam inquietos atrás de mim, não paravam de se movimentar, teve um momento que aplicaram alguma coisa no meu acesso, mas não fez diferença alguma. A dor continuava a mesma. Nesse ponto, já estava com a sensação de que estavam esfregando um corte, como quando uma pessoa cai de moto e tem que lavar o local para tirar a sujeira da rua. Fui costurada com muita dor!  Durante esse período, ninguém falava nada na sala, me trocaram de maca (na minha cabeça eles iriam me derrubar) me levaram para o quarto e eu continuava com muita dor.

Vi que anoiteceu e vieram trocar meu soro com mais medicação, quando comecei a tomar o soro, dormi (acho que me medicaram para isso) e em menos de uma hora, acordei sem dor, sem ardência, sem queimor.

Após o parto, o médico passou no meu quarto como rotina. Eu perguntei o que tinha acontecido, e ele perguntou se eu estava bem, se eu estava com dor, se eu tinha sido medicada, porém, não falava sobre o ocorrido. Eu estava fragilizada e me deixava levar pelo que ele falava e não voltava ao assunto. Senti muita dor de cabeça nas horas seguintes e depois assim que o efeito da medicação passava, voltava a sentir dor de cabeça. Com isso durante a tarde, veio uma outra anestesista e pediu para eu relatar o ocorrido, falei tudo e ela disse que não era para ser da anestesia, porque normalmente dá cefaleia quatro dias depois, mas trocou minha medicação, que quando passava o efeito doía do mesmo jeito. Cheguei a ter confusão mental na tarde desse dia.

Na segunda noite, o anestesista que aplicou em mim foi no meu quarto, abriu a porta, porém, não passou dela. Ficou lá de pé segurando o trinco, estava sem uniforme e mochila nas costas. As luzes estavam baixas, mas eu o reconheci. Ele perguntou se eu estava bem e eu disse que sim, mas que estava com dor de cabeça, que só passava com a medicação. Perguntei o que tinha acontecido de errado. Ele disse que nada, falou: ‘não aconteceu nada de errado, qualquer coisa que precisar é só chamar as enfermeiras’. Deu boa noite e foi embora.

Eu tenho certeza que teve [erro médico]. Durante o banho no hospital ainda, meu marido me ajudou e ele disse que tinham seis furos nas minhas costas, de agulha... Seis furos, acredita? Ali, tive certeza que foi um livramento de Deus eu estar andando e viva.

Estou pensando sim em tomar uma medida legal. Eu estava de licença, vivendo para o meu bebê e relatei para os parentes mais próximos sobre esse trauma. Com o retorno ao meu trabalho, estou criando mais coragem para entrar nessa briga.

Tenho uma rede de apoio incrível, minha mãe e meu marido estiveram comigo o tempo todo me auxiliando no trato do novo bebê e psicologicamente. Mas, desenvolvi um medo que não tinha. Eu engordei muito no pós-parto. Descontei na comida tudo que estava dentro de mim. Hoje retornando a “sociedade” estou colocando minha vida no lugar.

Procurado pela CRESCER, o Hospital Vera Cruz, de Campinas, disse que ainda não tem um posicionamento oficial e aguarda uma averiguação interna.






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