Segundo o Conselho de Secretários Municipais de Saúde de SP, 43 medicamentos estão em falta no estado.
Hospitais públicos de São Paulo adiam cirurgias por falta de medicamentos
Nos piores momentos da pandemia, tratamentos e cirurgias de outras doenças ficaram para depois, mas o depois chegou e toda a demanda represada não está cabendo na rede pública.
A cabeleireira Aureny de Almeida dos Santos tem uma hérnia na virilha e fez os exames pré-operatórios em dezembro de 2020. “A médica falou: ‘Você aguarda porque agora, no momento, a gente não está fazendo cirurgia nenhuma por causa da Covid’, que tinha voltado, né?”, relembra.
A cirurgia dela está marcada para dezembro deste ano. Terão sido dois anos de espera.
Além do excesso de procura, outro problema está dificultando a retomada do atendimento normal. Segundo o Cosems - Conselho de Secretários Municipais de Saúde do estado de São Paulo -, faltam medicamentos em hospitais que atendem pelo SUS, e isso também está atrasando cirurgias e tratamentos.
Na lista do Cosems, 43 medicamentos estão em falta no estado. Entre eles, antibióticos como a clindamicina e a piperacilina sódica; analgésicos e antiinflamatórios, por exemplo: dipirona, cetoprofeno e dexametasona; um anestésico, a bupivacaína; e até soro fisiológico.
“As principais cirurgias eletivas que acabam sendo adiadas são as cirurgias gerais, que são as hérnias, as pedras nas vesículas, cirurgias urológicas - cálculo renal, conhecida como pedra no rim -, e também as cirurgias de varizes. A cirurgia do câncer a gente sempre trata como procedimento eletivo prioritário, mas em algumas regiões do estado de São Paulo, sabemos que temos uma fila de espera aumentada; acima de 60 dias também para a realização de procedimentos oncológicos", explica Tiago Teixeira, diretor do Cosems-SP.
Em São Paulo, segundo o governo, cerca de 600 mil pacientes estão aguardando para fazer cirurgias. Na fabricação de medicamentos no Brasil, 60% dos princípios ativos são importados da China e da Índia.
O diretor do Cosems diz que, por causa da pandemia, a produção desses dois países diminuiu e que essa dependência da matéria-prima importada é o problema: “Como o Ministério da Saúde coordena a política nacional de insumos, dentre eles dos medicamentos, cabe ao Ministério da Saúde estabelecer novas parcerias, para que a gente possa ter o mercado nacional suprido dessa necessidade desses medicamentos".
O sindicato que representa a indústria farmacêutica diz que a importação de matéria-prima diminuiu, mas nega que a falta de remédios seja generalizada, e diz que as fábricas estão no limite da capacidade.
“Neste momento é impossível fazer um estoque de segurança, tanto nos hospitais públicos como nos hospitais privados. Se houver um pedido único grande de um único hospital , fatalmente, não terá para fornecer para todos. A nossa indústria é uma indústria que não aumenta a sua produção do dia para a noite”, afirma o presidente executivo do Sindusfarma, Nelson Mussolini.
A autônoma Raimunda Sena Amorim tem um problema no fígado. Primeiro, tinha que fazer uma tomografia, mas faltava um medicamento, o contraste. Depois, faltou o anestésico.
“O médico disse que minha cirurgia ainda não tinha sido feita porque estava faltando anestesia no hospital, que a cota que tinha era mínima, só para pacientes que chegassem muito urgentes; paciente esfaqueado, baleado. Eu estou sem esperança por tudo que eu passei lá”, conta.
A Secretaria de Saúde do estado de São Paulo declarou que vai encaminhar Dona Aureny para um serviço de referência, e que a Dona Raimunda deve realizar a cirurgia nas próximas semanas.
O Ministério da Saúde afirmou que trabalha com a Anvisa, os conselhos municipais e estaduais de Saúde e representantes das indústrias farmacêuticas para articular ações emergenciais em relação ao desabastecimento dos medicamentos.
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