segunda-feira, 29 de maio de 2017

Família de doméstica vai processar o HC após morte

Dominique Torquato/AAN
Osvaldo Spíndola, com as filhas, no enterro da mulher Marlene: morte após ter
 dores no peito,  procurar HC e ter de ir a centro de saúde
 
Dor e comoção marcaram neste sábado (27) de manhã o enterro da doméstica Marlene de Lourdes Nunes Spíndola, de 49 anos, que morreu na manhã da sexta-feira no Centro de Saúde Costa e Silva, após buscar atendimento no Pronto Socorro do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que estava fechado.
 
A família alega negligência e diz que vai processar o hospital. “Se a Unicamp não tivesse negado atendimento, tinha salvado uma vida. Ela estava mal, mas com os aparelhos avançados da Unicamp teria salvado a vida da Marlene. Éramos muito amigas. Nos falávamos todos os dias. Não sei o que será daqui adiante”, disse a cunhada Fátima Spíndola, de 59 anos.
 
Desde a tarde da última quinta-feira, o pronto-socorro adulto do HC suspendeu o atendimento para a triagem de novos pacientes em função da superlotação dos setores de emergência. A família da paciente diz que ela chegou a falar com profissionais do local, com forte dor no peito, e não foi atendida. O atendimento foi reaberto neste sábado à tarde.
 
A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa da unidade no começo da tarde de ontem, mas não houve retorno. No dia anterior, o HC informou apenas que seis pacientes passaram pela triagem do pronto-socorro, sendo que um ficou internado e cinco foram encaminhados para outras unidades. A unidade alegou que nenhuma mulher com dor no peito tinha passado por procedimento no local.
 
Marlene morava no bairro Santa Genebra e começou a passar mal pela manhã. Com dores fortes no peito, ela pediu para o marido, o vigilante Osvaldo Spíndola Filho, de 67 anos, levá-la até o HC, onde já era costume buscar atendimento para o casal.
 
“Como cerca de dez dias antes eu tinha buscado atendimento no HC e tinham me negado, eu falei para irmos no posto de saúde do bairro, mas ela disse que queria a Unicamp, pois a dor era muito forte”, contou o vigilante.
 
Segundo ele, a doméstica chegou a passar pela recepção do PS, mas uma funcionária a orientou seguir até um contêiner de triagem, que fica a cerca de dez metros da recepção. No local, disse Osvaldo, uma enfermeira afirmou que não tinha vagas e deu as costas para ele. Outra enfermeira atendia uma pessoa, e quando terminou apenas lhe entregou um encaminhamento para o PS Municipal da Vila Padre Anchieta, sem examinar a doméstica. “Nem olharam a pressão dela. Ela estava tão mal que não aguentava ficar em pé. Como o PS do Padre Anchieta ficava longe, e a gente corria risco de pegar trânsito na Rodovia D. Pedro devido ao horário de pico, falei que a levaria no posto de saúde do nosso bairro e ela aceitou”, relatou Osvaldo.
 
Marlene desmaiou quando chegou na porta da unidade de saúde do bairro, ao sair do carro. Os funcionários a levaram para dentro e tentaram reanimá-la. Eles chamaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas Marlene não resistiu. A doméstica morreu no próprio posto de saúde, de parada cardíaca. “O pessoal fez de tudo, mas já era tarde demais. Eu sei que nada a trará de volta, mas vamos processar o HC para que isso não aconteça com outra família”, disse Fátima.
 
Capacidade
 
No dia em que suspendeu o atendimento, o HC informou que a capacidade de atendimento do PS havia extrapolado os 28 leitos oficiais da unidade. De acordo com a administração do hospital na ocasião, dos 122 ventiladores mecânicos, 118 estavam em operação. Pelo mesmo motivo de superlotação, o HC já havia fechado o pronto-socorro adulto em 2003 e 2009. Houve ainda restrição ao atendimento por duas vezes em 2014. O hospital é considerado referência no atendimento médico da região e 70% dos seus pacientes residem em Campinas.
 

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