A Delegacia de Homicídios da Polícia Civil vai instaurar um inquérito para apurar a morte de uma gestante e da filha dela na Maternidade Mater Dei, no Centro de Curitiba. A família da gestante registrou um boletim de ocorrência e denuncia que erros do hospital levaram à morte da mãe e do bebê.
Sandrione Ribeiro Serbelo morava em Tunas do Paraná, na Grande Curitiba, e estava na 42ª semana de gestação de Kemily, sua terceira filha. A gestante, de 37 anos, foi encaminhada de um hospital do município para a maternidade da capital e deu entrada na instituição na noite da última quinta-feira (18).
A paciente relatou aos médicos que nas duas gestações anteriores o parto precisou ser induzido, o que não foi feito desta vez. A gestante teria ido outras duas vezes na maternidade, mas os médicos teriam dito que o parto seria normal e que não havia necessidade de indução ou de uma cesariana.
Na sexta-feira (19), Sandrione ainda não tinha dilatação suficiente para ter a criança e avisou o hospital pelo menos cinco vezes de que o parto teria que ser induzido. Quando médicos resolveram induzir o parto constataram que o bebê tinha morrido. “Viu, eu falei que já tinha passado a hora do bebê nascer”, lamentou Sandrione ao marido Noel Galvão.
Desespero
O sofrimento de toda a família não terminou ali. Após a constatação da morte de Kemily os médicos informaram que o protocolo da maternidade determinava que o feto só poderia ser removido 48 horas após o falecimento.
A mãe seguiu internada na companhia da cunhada e do marido. Eles denunciam que enfermeiros da maternidade que estavam de plantão confirmaram que não havia profissionais suficientes na instituição. De acordo com a família, entre sexta e sábado Sandrione seguiu recebendo as medicações para a indução do parto. No entanto, os médicos em nenhum momento teriam checado os sinais vitais dela.
Sandrione começou a se sentir mal e, no começo da noite de sábado (20), teve uma convulsão. A equipe médica teria demorado a prestar socorro e a paciente não resistiu.
Investigação
O Conselho Regional de Medicina do Paraná informou que vai instaurar uma sindicância para investigar o caso. Na Polícia Civil, a Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Decrisa) é responsável pelo inquérito que vai apurar eventual erro médico ou falha do hospital.
Familiares, médicos e demais profissionais da saúde que tiveram contato direto com Sandrione serão ouvidos. A polícia disse ainda que vai solicitar o prontuário médico e o laudo do Instituto Médico Legal (IML), além de outros procedimentos que forem necessários para o esclarecimento dos fatos.
"Assim que as diligências preliminares estiverem prontas, todo o material será encaminhado para análise da Promotoria de Saúde Pública do Ministério Público do Paraná (MP-PR)", informou a Polícia Civil, em nota.
O que diz a maternidade
A Maternidade Mater Dei se manifestou sobre o caso por meio de nota. Confira o texto na íntegra:
A Maternidade Mater Dei, por meio de sua assessoria de imprensa, esclarece que a paciente S. R.S, 37 anos, em período final de gestação, deu entrada na instituição no dia 18 de maio às 21h42, encaminhada da cidade de Tunas do Paraná, com possível Restrição de Crescimento intra-útero do seu concepto, que mesmo em observação constante, o quadro clínico evoluiu para óbito fetal intra-útero, antes que entrasse efetivamente em trabalho de parto.
Seguindo indicação de Literatura Médica e Protocolos Obstétricos, considerando qual procedimento traria menos riscos à vida da mãe e melhor recuperação pós-parto, a paciente S. R.S, que já havia passado por três partos normais anteriores, foi submetida à indução do trabalho de parto normal. Em todo o período de dilatação teve o acompanhamento constante dos profissionais de saúde da maternidade e de familiar, com boa evolução, níveis tensionais normais, sem intercorrências.
Entretanto, no período do parto, apresentou quadro convulsivo e, de imediato, após o nascimento do natimorto, teve parada cárdio-respiratória. Infelizmente, apesar de todo o esforço da equipe médica e de enfermagem, com tentativas frustradas de reanimação e de medidas recomendadas para o caso, a mesma evoluiu com óbito, às 22h45 do dia 20/5/17, com causa básica indeterminada.
A paciente S. R.S foi encaminhada para o IML (Instituto Médico Legal) para a apuração da causa real do acontecido. A Maternidade Mater Dei reforça que não mediu esforços para salvaguardar a vida da mãe e do bebê e lamenta as tristes perdas e coloca-se à disposição da família para quaisquer esclarecimentos.
A Mater Dei, maternidade que mais faz partos pelo SUS no Paraná, é integrante dos programas Mãe Curitibana e Mãe Paranaense, seguindo protocolos recomendados por estes programas e referendados pelo Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. A Maternidade está entre as Instituições do programa com menores taxas de mortalidade infantil nos últimos anos.
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