sábado, 20 de agosto de 2022

Tetraplégico tem AVC e família denuncia negligência em atendimento no DF

 Segundo denúncias, rede pública apresenta falhas no acolhimento de pacientes e falta de acomodações adequadas para os acompanhantes


Familiares de pacientes que procuraram socorro médico na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião e no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) denunciam casos de negligencia médica e falha no atendimento. Segundo parentes, a situação coloca a vida deles em risco.

Por voltas das 5h de sábado (13/8), Valmir Barbosa de Araújo (foto em destaque), de 53 anos, passou mal. Familiares levaram ele para a UPA de São Sebastião, mas só conseguiram atendimento às 8h.

Familiares de Valmir Barbosa de Araújo denunciam negligência e descaso na UPA de São Sebastiao e no Hran Material cedido ao Metrópoles


Valmir é tetraplégico desde 1993. “Ele estava paralisado de um lado, com a boca torta, falando embolado, confuso e tinha tido uma convulsão. Ele nunca teve uma convulsão na vida. Só desmaio, pela condição da tetraplegia”, contou a autônoma Sara Oliveira de Araújo Borges, 30, filha do paciente.

Para a família, faltou atenção no acolhimento dele. “Os médicos passaram exames de sangue, urina e fizeram um eletrocardiograma. Falaram para ele ir para a sala de medicação. Nem olharam ele. Perguntaram apenas o que ele estava sentindo”, detalhou Sara.

De acordo com o relato dos familiares, Valmir ficou tomando soro com dois fracos de vitamina. Os profissionais da UPA teriam dito que ele estava desidratado e estaria com anemina. “Falaram que não tinha nada nos exames, nenhuma alteração”, relatou. Às 14h, o paciente recebeu alta.

Em casa, o estado de saúde de Valmir voltou a piorar. “À noite, às 21h, ele estava muito ruim”, lembrou Sara. A família levou o paciente novamente à UPA, com a ajuda de uma ambulância do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF).

Sinais de AVC

“A médica que chegou para tratar ele atendeu e falou bem assim: olha, o seu pai está com as características do AVC [Acidente Vascular Cerebral]. E não tem como tratar ele. Nós não temos nenhuma ferramenta para tratar ele. E não tem previsão de ambulância”, pontuou Sara.

Por conta própria, a família buscou socorro Hospital Regional do Paranoá. “Não quiseram atender o meu pai. Falaram que não tinha maca, não tinha médico. Para não perder tempo, fomos para o Hospital de Base. Falaram que tinha que ter uma ordem médica para receber meu pai. Não quiseram atender”, relembrou.

Na madrugada de segunda-feira (15/8), a família conseguiu internar Valmir no Hran. “O parecer o médico foi o seguinte: ele está com derrame. Não sabemos o grau derrame. Vamos fazer exames e internar ele. Colocaram ele em um corredor, porque estava tudo lotado”, revelou.

Descaso

A muito custo, a família conseguiu uma cama no pronto-socorro e os exames foram feitos. “Porém, não passa médico. Ninguém sabe falar o que ele tem. Ou seja, meu pai continua sendo tratado com descaso no Hran”, denunciou. Segundo Sara, o quadro de Valmir piorou na manhã desta quinta-feira (18/8).

Acompanhantes não têm locais adequadas para observar os pacientes. Faltam cadeiras. Há poucas disponíveis e algumas estão quebradas, sem encosto, sem pés.

“Houve negligência médica na UPA. Foi total negligência. Foi omissão de socorro. E a UPA tem que se responsabilizar. Por que? Se o quadro do meu pai piorou foi por falta de socorro da UPA. Qualquer pessoa treinada, técnico de enfermagem, socorrista consegue identificar um AVC”, assinalou.

Dramas

O drama de Valmir não é um caso isolado no Hran, na noite de quarta-feira (17/8). O Metrópoles recebeu relatos e fotos de outros pacientes. Dona Maria de Loures Araújo Dantas também sofreu uma AVC e estava acompanhada pelo filho Adeilton. “O quadro da minha mãe só agrava. O acompanhamento é zero. Está ficando ruim. Estou pedindo socorro”, contou.

Joselma está acompanhando o pai que sofreu uma queda. “É um descaso o banheiro não ter papel higiênico. Estou com pressão alta e não tem aparelho para aferir minha pressão”, completou. Há relatos de falta de sabão também nos lavabos.

Maria Ivonilde dos Santos está há mais de 30 dias no hospital aguardando para fazer uma tomografia computadorizada com contraste.

Outro lado

Metrópoles entrou em contato com Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF), responsável pela UPA de São Sebastião. De acordo com a instituição, Valmir foi classificado e prontamente atendido pelo médico.

“No exame clínico, não foram observadas alterações neurológicas. Foram realizados também outros exames disponíveis na unidade, inclusive laboratoriais, e prescritas medicações sintomáticas, conforme prescrição médica”, completou o Iges-DF.

Conforme a versão do instituto, o paciente foi reavaliado e os familiares foram orientados sobre o quadro clínico atual e, no caso de qualquer alteração, retornar imediatamente à UPA de São Sebastião.

Hran

Segundo a Secretaria de Saúde, a direção do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) negou as denúncias de falta de atendimento para Valmir.

“Os relatos de falta de atendimento para paciente o V.B.A não procedem. O homem foi atendido e avaliado pelas equipes de neurologia e cardiologia da unidade. Ainda segundo a direção, a família foi orientada sobre todo o planejamento terapêutico do paciente”, afirmou a direção.

De acordo com a pasta, no começo da tarde de quinta-feira (18/8), Valmir aguardava realização de uma tomografia. Enquanto esperava, seguia recebendo toda a assistência necessária pela equipe de saúde do Hran.

A pasta não comentou sobre as queixas dos demais pacientes.







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