sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Família contesta laudo de covid-19 na morte de bebê de 2 meses

 

Pais dizem que viram filho agonizando até a morte no corredor do Pronto-Socorro e alegam negligência médica



No boletim epidemiológico divulgado nesta terça-feira (2), a SES (Secretaria de Estado de Saúde) indicou que o bebê de 2 meses, que morreu no dia 25 de julho, em Corumbá, foi vítima de covid-19. Porém, a família da criança contesta o laudo e denuncia o Pronto-Socorro da cidade por negligência. 

Wallyson Jorge Brandão, 28 anos, e a esposa Evelyn Amorim de Arruda, 29 anos, pais do pequeno Ravy Luiz de Arruda Aldama, de dois meses, estão indignados com o diagnóstico e denunciam que o filho morreu à espera de atendimento médico no corredor do Pronto-Socorro.

Evelyn afirma que viu o filho agonizando até a morte. Ela primeiramente divulgou o caso nas redes sociais e, agora, a família contesta o atestado de 'causa morte' emitido pelo hospital.

Wallyson informou ao TopMídiaNews que o médico que assinou o atestado de óbito do filho não deu atendimento a Ravy, e sequer estava lá na hora dos fatos. 

Segundo o pai da criança, primeiramente o hospital indicou que o filho morreu por problemas cardiorrespiratórios por suposta cardiopatia congênita, mas depois disse que era covid-19. Wallyson não acredita no documento. 

Os pais pedem justiça e prometem abrir processo contra o hospital e contra o Estado. O caso também já foi denunciado ao Ministério Público.

“Depois que divulgamos o fato nas redes sociais, que o hospital entrou em contato. Agora, dizem que é covid. Não acreditamos nessa história de covid, pois a enfermeira que fez o teste lá no dia disse que tinha dado negativo. Agora, estão falando que foi covid. Não queremos dinheiro, nada. O que queremos é justiça e que o culpado se responsabilize.”

O caso

Segundo o pai da criança, o filho morreu numa segunda-feira, dia 25 de julho, após a família procurar duas vezes o posto de saúde, e uma vez o Pronto-Socorro. Foram três idas às unidades sem respostas até a morte. 

Ravy apresentava tosse, e segundo o pai da criança, ele foi levado no dia 28  de junho e 12 de julho a Unidade Básica de Saúde Padre Ernesto Sassida. Mas que o médico sequer examinou, ou passou medicamento ao bebê.

“Duas vezes a gente foi procurar atendimento no posto do bairro, e o médico [nome omitido] sequer tirou ele do carrinho. A minha esposa disse para ele ouvir o peito, e mesmo assim o médico não passou nenhum medicamento.”

Ele diz que a primeira vez que Ravy teve um medicamento recomendado por  médico foi numa quinta-feira, quatro dias antes da morte, quando a família esteve no Pronto-Socorro e recebeu antialérgico e antibiótico. 

Conforme o pai, o médico local disse que Ravy estava bem, apesar de apresentar mancha no pulmão. A família foi liberada e voltou para a casa, onde passou o final de semana. Na segunda-feira, dia 25 de julho, Ravy passou mal, e começou a ficar roxo e sem ar.

Em desespero, Evelyn saiu com o filho nos braços à procura de socorro de vizinhos, que levaram até o quartel do Corpo de Bombeiros. Lá, os militares socorreram a criança, que foi levada às pressas para o Pronto-Socorro.

Segundo Evelyn, o filho chegou na troca de plantão e, mesmo estando em estado grave, houve descaso no atendimento. "Os profissionais não foram rápidos", diz a mãe.

O pai, Wallyson, afirma que recebeu ligação sobre o filho e foi até o quartel. 

“Os militares disseram que podia ser uma pneumonia grave. E eu estava com ele e minha esposa. Depois, já no Hospital, os médicos não queriam deixar minha esposa na sala de emergência. O médico que estava de plantão só olhava para ele e não quis atender.”

O pai e mãe afirmam que inicialmente a equipe médica achou se tratar de um engasgamento com leite, e que a esposa teve de repetir que não havia amamentado Ravy por diversas vezes. Além disso, Walllyson conta que Ravy não recebeu atendimento médico imediato, e que foi apenas colocado em um cilindro de oxigênio com máscara  de adulto, que não se encaixava no rosto do bebê.

“Minha esposa implorou, e disse: ‘pode atender meu filho? Ele está morrendo? Aí o rapaz disse que tinha de preencher a papelada, pois se não, meu filho não ia sair dali. Eles fizeram um monte de furo no bracinho dele, colocaram máscara que não era do tamanho dele.”

Guarda foi acionada

Wallyson afirma que entrou em desespero ao ver o filho morrendo na sua frente, e a esposa que fez um escândalo no hospital, que acionou a Guarda Municipal.

“Ele começou a perder o ar de novo, e nisso encaminharam ele pro raio-X e deixaram ele no corredor. Como que uma criança em estado grave não tem preferencia?”.

Eles indicam que foram ignorados pelo atendimento desumanizado. A família afirma que somente depois que Ravy já estava morto, foi que a equipe de médicos deu atenção ao atendimento. “Imploramos e não tinha pediatra. Pedi e implorei a todas as enfermeiras, e uma [nome omitido] disse que ele chorava porque era bebê. Ele estava agonizando e a gente entrou em desespero.”

“Chegaram os guardas com cassetete para tirar a gente dali. Meu filho estava praticamente sem vida, e um médico que nem estava de plantão, o doutor Manoel João, que é conhecido da família, foi ali. Fez o possível, intubou meu filho, e tentou de tudo. Ele faleceu às 20h10”, disse o pai indignado.

O que diz a Prefeitura de Corumbá?

Foi solicitado nota retorno a assessoria de comunicação de Corumbá, que  manifestou condolências a família e esclareceu sobre o atendimento. Os nomes da equipe, citados pela família, foram omitidos por se tratar de caso ainda em investigação.

Veja a nota na íntegra:

Inicialmente, a Administração municipal manifesta à família e amigos os mais sinceros sentimentos de solidariedade e pêsames pela sentida perda. Por determinação do prefeito Marcelo Iunes, o caso está sendo apurado e, se necessário, será aberta uma sindicância para apurar o ocorrido. 

A Secretaria Municipal de Saúde esclarece que no último dia 25, uma criança foi levada pelos pais ao SAMU. Ao chegar no local, ela foi prontamente atendida, pelo médico e pela enfermeira de plantão, a mesma estava engasgada e cianótica (com a pele arroxeada). A equipe realizou manobra de desengasgo, ofertou oxigênio e foi transportada em uma ambulância  de Suporte Avançado para o Pronto Socorro. 

Às 18h45, ao chegar no PS, a mesma foi imediatamente encaminhada para a Sala de Emergência, apresentando cansaço, dispineia e saturando 92 em ventilação ambiente. Foi utilizado oxigênio em máscara infantil, realizado exame de Raio-X (momento no qual foi feito o registro fotográfico que circula na internet), coletado RT-PCR para Covid-19, no qual o resultado foi POSITIVO, e acesso venoso para medicação. Às 19 horas foi inserida no sistema do Núcleo de Regulação Hospitalar a solicitação de vaga para internação pediátrica.

Às 19h35, ainda em atendimento, a criança teve uma parada cardiorrespiratória e foi entubada. A equipe tentou reanimá-la inúmeras vezes, sendo que 4 médicos prestaram assistência, porém sem sucesso, infelizmente. O óbito foi constatado às 20h10, por insuficiência respiratória, choque e cardiopatia cardiogênica.

Ressalta-se que a criança esteve o tempo todo sendo assistida pela equipe médica e de enfermagem, e que todos os protocolos foram seguidos. A criança esteve a todo momento acompanhada pela mãe.




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