RIO - "O que era festa agora é luto", dizia a faixa que Carla, a mãe de Gabriele Tobias Leão, de 18 anos, levava durante o enterro de sua filha no Cemitério de Inhaúma na tarde desta quarta-feira. Cerca de 150 pessoas comparecem no velório da adolescente que morreu após a complicação de um parto que fez na Maternidade Municipal Carmela Dutra no último domingo. Entre muita dor, parentes e amigos da jovem — sendo a maioria adolescentes e crianças — estiveram presentes com cartazes de cartolina e grandes faixas de pano pedindo por justiça para a jovem.
Depois do enterro, a família cogitava fazer outro protesto na frente da maternidade do Méier para cobrar da Prefeitura as explicações sobre em que circunstâncias a jovem morreu. Porém, um dos familiares passou mal e o ato foi feito no próprio cemitério. Prima de Gabriele, Michele Tobias Rosa, de 31 anos, que organizou o enterro e o protesto, disse que sua prima deu entrada no hospital do Méier na sexta-feira após entrar em trabalho de parto. Ela teve o bebê no sábado à noite, por cesariana e, no dia seguinte, começou a reclamar de fortes dores. De lá, ela foi transferida para o Hospital Salgado Filho, no mesmo bairro, onde fez cirurgia às pressas para a retirada do útero.
— O exame estava OK, ela não tinha nada, mas depois viram que tinha uma alteração no sangue dela e mandaram ela par o Salgado Filho. Às 3h da manhã, operaram às pressas por causa da cesariana que deu complicação, dizendo que iam retirar o útero. Nisso, ela não aguentou — disse Michele sobre a prima que foi transferida para o Hospital Maternidade Fernando Magalhães, em São Cristóvão, onde morreu.
De acordo com a prima, Gabriele chegou a ter o sofrimento achincalhado por uma das funcionárias do hospital:
— Ela entrou lá, bem, brincando, sorrindo. Depois da cirurgia, ela começou a reclamar de dor e uma mulher falou que era frescura dela. Depois disso, ela só chorava. A gente acha que foi negligência médica. Se se comprovar mesmo, a gente vai processar a Prefeitura. A minha prima deixou duas crianças e tinha um futuro pela frente.
Gabriele morava com a família em Cavalcante, na Zona Norte do Rio. O bebê, que nasceu no sábado e sobreviveu, é um menino, sendo o segundo filho de Gabriele, que já tinha uma menina de dois anos. As crianças deverão ser criadas pelos avós, já que o pai delas também morreu há cerca de cinco meses.
Veja a nota da Secretaria Municipal de Saúde na íntegra
“A Secretaria Municipal de Saúde lamenta que Gabriele não tenha resistido, se solidariza com a família e informa que, como em todo óbito materno, o caso será apurado para identificar o motivo.
A equipe da Maternidade Fernando Magalhães, onde a paciente faleceu,*já entregou pedido à delegacia local para que o corpo de Gabriele seja removido para o Instituto Médico Legal (IML) para realização de necropsia, conforme solicitado pela família. A medida é necessária porque o IML só recebe corpos de pessoas que foram vítimas de morte violenta ou suspeita.
Gabriele foi submetida a um parto cesáreo na Maternidade Carmela Dutra na noite de sábado, que foi realizado sem qualquer lesão provocada pelo ato cirúrgico. No entanto, a paciente abriu um quadro infeccioso muito rápido e precisou ter seu útero removido, cirurgia realizada no Hospital Salgado Filho.
A cirurgia foi para tentar salvar a vida da paciente, o que, infelizmente, apesar de todos os esforços da equipe médica, não foi possível.
Após a cirurgia, Gabriele permaneceu com quadro muito grave e foi transferida para leito de terapia intensiva na Maternidade Fernando Magalhães, mas não resistiu devido à gravidade do caso.
A direção das maternidades Carmela Dutra e Fernando Magalhães seguem à disposição dos familiares para esclarecer qualquer dúvida em relação ao atendimento. Todos os detalhes estão disponíveis para a família também no prontuário da paciente, que pode ser requisitado a qualquer momento no setor de documentação médica do hospital.
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