Hospital do Tricentenário, em Olinda
Por pouco, o tão sonhado nascimento do primeiro filho da diarista Ana Paula Silva de Souza, de 37 anos, não terminou em tragédia. Isso porque, denuncia ela, houve violência obstétrica durante o parto, feito no Hospital do Tricentenário, no Bairro Novo, em Olinda, Região Metropolitana do Recife (RMR).
O pequeno Ariel precisou levar cinco pontos na orelha, que foi cortada, além de ter sofrido vários machucados pelo corpo. Ariel atualmente passa bem, mas os cuidados do pós-parto precisaram ser redobrados. Quase duas semanas após o nascimento, Ana Paula ainda tem dores, principalmente ao ir ao banheiro. A diarista agora cobra justiça e a punição do médico responsável e apela para que outras mães que tenham passado por situações parecidas no Hospital do Tricentenário possam denunciar.
Durante o parto, o médico - cujo nome a diarista não sabe informar - chegou a cortar a vagina de Ana Paula com uma tesoura para forçar a entrada do fórceps, instrumento usado para auxiliar a retirada do feto do útero da mãe. A técnica é utilizada quando a contração natural não é suficiente para o parto.
Ana Paula deu entrada no hospital em 24 de setembro e concluiu o trabalho de parto por volta das 10h do dia seguinte. “Quando eu cheguei no hospital, vieram me olhar, deram um toque, disseram que eu estava com dilatação e mandaram aguardar numa cadeira, foi quando começou o tormento”, relembra Ana Paula, que afirma não ter condições para ter tido um parto normal e por isso optou pela cesárea.
Depois de muito tempo, acrescenta a mãe, uma enfermeira do hospital apareceu e começou a induzir o parto dando remédio a ela. Ana então passou a sentir ainda mais dor e ficou nessa angústia até o amanhecer. “Gritei por ajuda e nada de ninguém aparecer. No outro dia, veio uma enfermeira e me olhou, deu um toque e falou com o médico, que levou para outra sala, querendo colocar os ferros em mim. Então começou a sessão de tortura”, acrescenta.
Ana diz ainda que perdeu muito sangue e seguiu gritando de dor. “Ele [o médico] disse que ia dar uma anestesia em mim, mas não deu. Depois pegou uma tesoura e me cortou na vagina, nesse corte o sangue começou a escorrer. Eu dei um grito desesperada”, conta a mãe.
Em um momento, lembra Ana Paula, o médico chegou a cair no chão pela força empregada no manuseio do fórceps. “Quando ele rasgou a minha vagina, ele puxou com tanta força que escorregou no meu sangue e caiu. Fiquei desesperada achando que ele tinha matado o meu filho, puxado a cabeça do meu filho”, completa.
Em seguida, a equipe médica trocou Ana Paula de sala, onde ela recebeu uma anestesia raqui. “Quando deram a anestesia, meu filho passou nem cinco minutos e saiu finalmente”, diz a diarista. Após passar dois dias no Tricentenário, a mãe foi transferida para o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro dos Coelhos, área central do Recife.
“[No Imip] o médico examinou e disse que não precisava de cirurgia, mas passou outro medicamento e hoje ele tá bem melhor”, destaca a diarista. Ana relata ainda que o hospital errou o sexo do bebê e a sua idade na declaração de nascido vivo, o que a impossibilita de tirar a certidão de nascimento.
“Eu poderia ter morrido, eu e meu filho. Vamos fazer justiça porque a gente merece. Merecemos um parto maravilhoso. Eu vou contar ao meu filho o que sobre o parto?”, cobra Ana Paula.
Inquérito policial e sindicância
Um Boletim de Ocorrência (BO) sobre o ocorrido foi registrado na Delegacia de Rio Doce, também em Olinda. O recém-nascido e a mãe passaram por perícias traumatológicas, que constam no BO emitido.
A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso. Segundo a corporação, o delegado de Rio Doce, Osias Tiburcio, segue com os trâmites necessários. A ocorrência foi registrada na última segunda-feira (5).
O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) instaurou sindicância “ex-offício” (por conta própria) para apurar o fato. “A partir de então, a sindicância corre em sigilo processual, para não comprometer a investigação, e segue o que estabelece o Código de Processo Ético Profissional”, diz o órgão.
O que diz o Hospital do Tricentenário
Em nota oficial enviada à reportagem, o Hospital do Tricentenário informou que a evolução do parto de Ana Paula “ocorreu de forma positiva” e alegou que “pequenos riscos” durante parto por fórceps são previstos com pequenas lesões na cabeça do bebê, onde o aparelho é encaixado.
“Mesmo com dilatação completa e encaixe adequado do bebê, foi necessária a indicação do parto por fórceps. Ainda assim, o procedimento não foi suficiente, visto que no decorrer da evolução clínica, apresentou uma desproporção céfalo pélvica, sendo indicado, posteriormente, o parto cesáreo, do qual ocorreu com sucesso, sem prejuízos às saúdes da puérpera e do recém-nascido”, diz a unidade de saúde.
O hospital ainda diz que o parto por fórceps é acompanhado por uma episiotomia - incisão na região do períneo para ampliar o canal de parto. “Como consta em prontuário, mãe e bebê tiveram alta médica em boas condições e sem agravos à saúde. O Hospital do Tricentenário fica à disposição dos familiares para possíveis esclarecimentos”, finaliza o texto do Tricentenário.
Confira a nota do hospital na íntegra:
Em resposta à denúncia, o prontuário médico mostra que a paciente Ana Paula Silva de Souza deu entrada no nosso serviço no dia 24 de setembro de 2020, em trabalho de parto. A evolução do mesmo ocorreu de forma positiva, tendo a paciente atingido 10 centímetros de dilatação. Porém, mesmo com dilatação completa e encaixe adequado do bebê, foi necessária a indicação do parto por fórceps. Ainda assim, o procedimento não foi suficiente, visto que no decorrer da evolução clínica, apresentou uma desproporção céfalo pélvica, sendo indicado, posteriormente, o parto cesáreo, do qual ocorreu com sucesso, sem prejuízos às saúdes da puérpera e do recém nascido.
O parto por fórceps geralmente já é acompanhado por uma episiotomia, para facilitar o procedimento. A indicação do procedimento é segura e mais indicado que uma cesárea de emergência, em casos de evoluções normais, como foi o caso da paciente em questão. Alguns pequenos riscos são previstos, mas de forma temporária, sem a necessidade de tratamento, como pequenas lesões na região da cabeça do bebê, onde o aparelho é encaixado. Como consta em prontuário, mãe e bebê tiveram alta médica em boas condições e sem agravos à saúde. O Hospital do Tricentenário fica à disposição dos familiares para possíveis esclarecimentos.
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