domingo, 25 de outubro de 2020

Mais uma vítima denuncia ginecologista por abuso sexual em Suzano; médico fez parte de serviço de apoio a mulheres violentadas

 

Médico atuava em Suzano, mas atendimento a vítimas de violência foi em Pernambuco. Há boletins de ocorrência contra o ginecologista nos dois estados.


Mulheres denunciam médico por abuso sexual em Suzano


Depois da prisão de um ginecologista, suspeito de abusar sexualmente das pacientes, no começo de outubro em Suzano, outras mulheres passaram a procurar a polícia para fazer a mesma denúncia.

O ginecologista e obstetra José Adagmar Pereira de Moraes foi preso no dia 5 de outubro. Denúncias apontam que ele cometia os crimes dentro do consultório. A defesa do médico informou ao G1 que não irá se pronunciar.

Há denúncias contra o profissional em São Paulo e também em Pernambuco, onde o ginelocologista fazia parte do serviço de apoio à mulher vítima de violência Wilma Lessa, da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco. José Adagmar começou a trabalhar na unidade em 2017.

Em janeiro de 2019, o médico deixou de comparecer ao expediente no projeto sem comunicar à direção. A Secretaria de Saúde de Pernambuco informou que atualmente, está em andamento um processo administrativo contra o servidor por abandono de cargo.

Nesse período que o médico deixou o Estado de Pernambuco, ele veio para São Paulo. José Adagmar fez então um novo cadastro no Conselho Regional de Medicina (CRM). O procedimento é comum, já que cada região tem a sua unidade.

Moraes conseguiu então entrar para a lista de conveniados de um plano de saúde, tanto que em Suzano atendia no prédio do convênio.

Vítimas procuraram a Delegacia da Mulher de Suzano


O ginecologista também tinha pacientes na capital e seguia uma rotina aparentemente normal. Mas no começo de outubro uma mulher procurou a delegacia e fez uma denúncia contra ele. De lá para cá, novas vítimas apareceram.

Só em Suzano, até agora pelo menos três mulheres registraram boletim de ocorrência. Todas elas disseram à polícia que foram abusadas sexualmente durante as consultas. Os depoimentos são bem parecidos.

“Ele pediu para eu tirar toda a roupa para ele me examinar. Achei estranho porque das outras vezes não tinha sido assim. No meu outro ginecologista, que eu passava, nenhuma consulta tinha sido assim. Eu perguntei várias vezes pra ele: mas é toda a roupa? E ele: toda a roupa. E eu até quando estava saindo do banheiro, né? Eu vi que tinha uns aventais lá, quando eu voltei pra pegar, eu não tinha saído da porta, ele falou: pode vir assim mesmo”, contou a assistente administrativa de 21 anos, que prefere não se identificar.

A vítima disse ainda que o médico fez perguntas e afirmações constrangedoras. “Ele perguntou: você notou que você ficou excitada, quando eu fiz o exame em você? Dai eu respondi que não. Fiquei olhando sem entender nada. Daí ele falou: parece que você tem um desvio de sexualidade.”

Médico ginecologista José Adagmar Pereira de Moraes preso em Suzano 
por suspeita de estupro


Abalada e bastante confusa, a jovem só procurou a polícia depois da exibição da reportagem sobre a prisão do médico no Diário TV. Ela reconheceu o suspeito e decidiu se unir a outras mulheres que também afirmam que foram vítimas de José Adagmar.

Na época uma jovem, de 19 anos, também falou com o Diário TV sobre a conduta do médico. "Ele falou que o meu problema era psicológico e aí foi que ele fez umas perguntas íntimas e falou que o meu tratamento de primeiro seria ter relações sexuais com outros homens. Foi quando ele começou a sugerir que eu tirasse roupa, ficar nua na frente dele e tocou as minhas partes íntimas, falou para eu deitar na maca, colocou o avental e colocou a mão dentro da minha vagina. Perguntou se estava confortável. Ficou massageando e falando se eu estava sentindo prazer. E eu dizia toda hora que eu estava desconfortável e ele continuava."

A Delegacia da Mulher de Suzano descobriu que já existiam outros boletins de ocorrência contra o suspeito. Não só no Estado de São Paulo mas também em Pernambuco onde ele começou a carreira.

Em um boletim de ocorrência registrado em São Paulo, em agosto desse ano, a vítima de 23 anos disse à polícia que durante a consulta o médico fez uma série de perguntas maliciosas do tipo: e se eu te pedir pra tirar a roupa, aqui na minha frente, como você ficaria? Entre outras indagações que deixaram a paciente constrangida. Na hora do exame de toque pediu para realizar o procedimento sem luvas e ainda pediu para a paciente se tocar. O suspeito também teria repetido várias vezes a frase, o que acontece aqui, fica aqui.

Em um outro boletim de ocorrência, também registrado depois da prisão do médico, a vítima diz que durante a consulta ele perguntou se a mulher o via como homem ou como médico.

A assistente administrativa de 21 anos faz terapia e além do trauma carrega a culpa de não ter denunciado o médico logo depois da consulta no dia 3 de agosto desse ano.

“Eu primeiro me senti muito culpada por ter percebido que vieram outras depois de mim. Eu me senti muito mal, por elas terem vindo depois, sabe? E daí não teve jeito, eu falei: eu tenho que ir para pelo menos ajudar a manter ele preso, agora, né? Mas eu me senti muito culpada por não ter ido antes.”


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