quinta-feira, 14 de setembro de 2017

CRM mantém registro de médico anos após morte de jovem em cirurgia

Foto: Reprodução

O cirurgião plástico Sérgio Evangelista, responsável pela cirurgia de implante de silicone que ocasionou a morte de Viviane Souza Romeiro Lauterer, de 25 anos, em 2014, foi julgado pelo Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso, e apesar de ter infrações reconhecidas, foi decidido que ele sofrerá apenas uma repreensão de censura pública. A irmã de Viviane, Lauryani Leuterer, disse que entrará com recurso no Conselho Federal de Medicina.
 
Em 2014, Viviane fez uma mamoplastia de aumento dos seios na clínica de Sérgio em Sorriso (a 398 km de Cuiabá). Dias após a cirurgia ela passou mal, teve falta de ar e acabou falecendo. Lauryani fez uma denúncia ainda em 2014, mas o caso só foi julgado pelo CRM no último mês de agosto, em Cuiabá. O Conselho reconheceu que Sérgio incorreu várias infrações dentro do Código de Ética Médica, porém, com oito votos a sete, a pena dada foi de censura pública, quando a falha do médico é divulgada.

“Como houve conhecimento destas infrações, o nosso recurso vai ser com relação à pena dele. Porque ele recebeu uma censura pública, mas eu estou batalhando pela perda do registro. E foram sete conselheiros que votaram pela censura pública e outros sete que votaram pela suspensão das atividades dele, e o voto que desempatou foi o do presidente, pela censura pública, ele também é cirurgião plástico”, disse Lauryani.

Um inquérito criminal também foi aberto, mas aguardava a decisão do CRM para dar andamento.

“De alguma forma essa decisão aqui no CRM já vai dar um impulsionamento no inquérito policial, porque tem uma apuração pelo crime de homicídio que estava aguardando essa decisão do CRM. Estava parado, mas agora ele continua a tramitar, pra culminar em uma denúncia no Ministério Público”, afirmou a irmã da vítima.

Lauryani também disse que não busca indenização em dinheiro, quer apenas a cassação do registro de Sérgio, e que ele responda criminalmente pela morte da irmã.

“A parte indenizatória a gente não interpôs não, foi algo que a gente não tinha um interesse, porque não estamos atrás de dinheiro. Apesar de ele ter falado que pagou indenização para minha família, isso nunca aconteceu”.

Segundo Lauryani, o médico tentou jogar a culpa pela morte de Viviane em diversas pessoas, como enfermeiras a quem delegava tarefas que seriam exclusivas a médicos, e inclusive nela.

“Ele falou que ela tinha problema cardíaco, mas ela não tinha, ela era uma atleta, praticava esportes, eu até apresentei exames. Depois ele jogou a culpa nas enfermeiras, porque lá as técnicas em enfermagem às vezes tomavam atribuições que não cabia a elas. Jogou a culpa em mim, disse que eu dormi no momento em que minha irmã foi pra casa. Mas ele é quem foi negligente. No pré-operatório ele só fez o pedido de exame de gravidez, nenhum outro. Então foram uma série de erros dele que culminaram na morte dela, ela morreu no mês em que ia fazer aniversário”.

Outro lado

O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso informou ao Olhar Direto que o processo tramita em caráter sigiloso. A direção do Hospital Cândido Portinari, onde funciona a clínica de Sérgio, enviou uma nota à imprensa dizendo que riscos em procedimentos médicos existem e são de conhecimento do paciente e do médico. A direção também negou a existência de outros casos de imperícia, imprudência ou negligencia.

Leia a nota na íntegra:

NOTA DE ESCLARECIMENTO PARA IMPRENSA
 

            O Hospital Cândido Portinari em respeito a imprensa, amigos e pacientes informa que referente a sessão de julgamento ocorrida na data de ontem em Cuiabá –MT, seguindo os termos do artigo 1° do Código de Processo ético-Profissional os processos tramitam em caráter sigiloso dentro dos Conselhos de Medicina. Assim, somente após o transito em julgado da decisão é que a pena deve ser aplicada ao profissional médico.
 
Os riscos existem, sendo de conhecimento do médico e paciente, mas ninguém deseja que complicações ocorram. Por isso investimos tanto em segurança ao paciente e profilaxias, seguimos rigorosamente todas as exigências vigentes na área da saúde.
O Hospital Cândido Portinari nega veemente que haja outros casos de imperícia, imprudência ou negligencia julgados ou em julgamento.

Sorriso, 23 de agosto de 2017.

A direção
 

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