Rebeca Luiza Ribeiro dos Santos morreu após passar por atendimento na UPA de Rio Claro (Foto: Arquivo pessoal) |
Foi enterrada nesta quinta-feira (8), em Rio Claro (SP), a menina Rebeca Luiza Ribeiro dos Santos, de 1 ano e 10 meses, que morreu na noite de quarta-feira (7) após ser atendida e liberada duas vezes no mesmo dia, na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Avenida 29.
A mãe da criança registrou um boletim de ocorrência, porque considera que houve negligência e erro médico. A Secretaria da Saúde informou que foram adotados os procedimentos médicos adequados para o quadro da criança.
Atendimentos em UPA
Em entrevista ao G1, a avó de Rebeca, Alderite Gomes da Silva, contou que a menina foi atendida pela pela primeira vez na UPA em 26 de fevereiro com tosse e febre. A médica de plantão receitou um xarope que a menina começou a tomar, mas a tosse ia e voltava.
A criança se preparava para passar por uma consulta na Unicamp, em Campinas (SP), na sexta-feira (8) para apurar algumas manchas que poderiam ter relação com problemas cardíacos. Ela tinha passado por exames para serem levados para o atendimento.
Na quarta-feira, a tosse piorou e Rebeca começou a ter ânsia de vômito. A mãe Iara Ribeiro dos Santos foi novamente à UPA no período da manhã e a criança foi atendida por outra médica que estava de plantão no dia.
A médica pediu um exame de raio-X e disse que estava tudo normal, mas ressaltou que medicação receitada para Rebeca não era a adequada. Ela então deu a receita de outro xarope e um remédio para conter o vômito, liberando a criança para voltar para casa.
Ao chegar em casa, a menina não quis almoçar e começou a vomitar e apresentar dificuldade para respirar, gemendo de dor.
Por volta das 19h, a mãe e a avó voltaram com a criança até a UPA. "Tinha uns cinco ou seis pacientes na fila, mas quando eles viram o estado da minha neta, deixaram ela passar na frente e ela foi direto ser atendida", contou Alderite.
"Uns 20 minutos depois a Iara voltou com a menina dizendo que ela tinha passado por uma inalação e a médica disse que ela estava bem e que eles mandaram embora. Mas a menina estava muito pior, já saiu agonizando lá de dentro, gemendo e gritando. Nós não íamos sair de lá porque ela ia morrer no caminho e comecei a fotografar tudo no hospital", disse a avó.
Segundo Alderite, Iara ficou com Rebeca no colo das 20h às 22h40 sem que fosse atendida. "A revolta foi tão grande que mobilizou todo mundo que estava dentro do hospital para ela ser atendida", contou a avó.
"Todo mundo passava e ninguém atendia a menina, aí nesse intervalo uma mulher chegou perto dela e disse 'essa menina está morrendo'. Quando escutaram que ela estava morrendo, um enfermeiro pegou a menina dos braços da Iara e entrou com ela", relatou.
Foram feitas tentativas de reanimação e, cerca de 40 minutos depois, a médica que fez os dois atendimentos voltou dizendo que a criança havia morrido após uma parada cardiorrespiratória.
Boletim de ocorrência
A avó contou que a família foi até a delegacia para registrar o boletim de ocorrência, mas não foi feita autópsia do corpo.
Agora, ela diz que irá lutar para que essa situação não se repita. "A gente tem o medicamento, a gente tem a receita, a gente tem chapa, tem foto da menina agonizando nos braços da mãe".
"Eu vou lutar até o fim para isso não acontecer com mais crianças. O que tiver no alcance da gente, eu vou fazer, eu não vou descansar", afirmou a avó.
Prefeitura se manifesta
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Rio Claro informou que foram adotados todos os procedimentos adequados ao quadro de saúde da criança. "Todos os esforços foram feitos, mas a má formação cardíaca da criança foi elemento dificultador aos procedimentos médicos", disse no comunicado.
Duas morte em três meses
Em dezembro, Manuelly Caroline Borges Fávaro , de 1 ano e 5 meses também morreu após passar por uma sequência de atendimentos médicos em Rio Claro. Os pais falaram que houve negligência médica. O caso é investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e pela Fundação Municipal de Saúde.
Durante mais de uma semana, pai e mãe levaram a menina a vários atendimentos nas UPAs e a uma consulta particular com tosse, respiração ofegante, vômitos e palidez.
A primeira consulta foi na UPA da 29. Segundo eles, o pediatra diagnosticou problemas de garganta e receitou expectorantes, antiinflamatórios, inalação por quatro dias e liberou a menina, que não melhorou.
Os pais foram à UPA do Cervezão no dia seguinte e médico passou antibióticos, mas o atendimento foi com um clínico geral porque não havia pediatra no local.
Preocupados, os pais marcaram uma consulta com um médico particular. Ele confirmou o diagnóstico e manteve a medicação. Sem melhora no quadro, a família levou a menina novamente à UPA do Cervezão, quando um exame de raio-X constatou pneumonia .
Logo que começou a tomar a medicação, a menina teve uma melhora, mas no quarto dia o quadro se agravou. A família levou a criança mais uma vez à UPA da Avenida 29, onde ela foi atendida pelo primeiro pediatra que a consultou e que disse que ela tinha um problema de garganta.
Mesmo com atendimento, Manuelly teve uma parada cardíaca e morreu em 10 de dezembro. Na cópia do atestado de óbito consta problemas cardíacos, insuficiência respiratória e pneumonia extensa.
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