sábado, 3 de março de 2018

Sexta vítima de médico suspeito de abusos sexuais denuncia profissional à polícia

Leia depoimento entregue à Delegacia da Mulher. Traumatologista é esperado para dar depoimento

Sexta vítima de médico suspeito de abusos sexuais denuncia profissional à polícia. Foto: Gabriel Melo/ DP

A Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Mulher confirmou que já são seis as vítimas a denunciarem o ortopedista e traumatologista da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife, Kid Nélio Souza de Melo, 35, por estupro. Na tarde de ontem, mais uma paciente procurou a polícia para relatar abusos cometidos por ele. Além das acusações de violência sexual, Kid responde a dois processos na Justiça por erro médico. Ele já foi suspenso das atividades pela Secretaria Estadual de Saúde. O suspeito deve prestar depoimento, mas ainda não há previsão para a ouvida.

A sexta vítima chegou à Delegacia da Mulher, no bairro de Santo Amaro, por volta das 14h30 de ontem. Ela contou que foi à UPA da Imbiribeira por volta das 8h40 do dia 29 de novembro do ano passado. Buscou atendimento por conta de uma torção no pé. A vítima disse que o médico alisou sua perna e apalpou sua nádega e seu seio. 

“Ele pediu para que eu ficasse de costas para ele. Em pé, me segurava pelo peito. Fui ficando cada vez mais nervosa e comecei a me tremer”, escreveu ela em uma carta levada à delegacia (leia depoimento completo nesta página). A mulher, que não quis revelar seu nome ou idade, e declinou de ser fotografada até mesmo de costas, viveu momentos de horror na companhia do especialista em seu consultório na UPA.

O médico, que se formou em 2009, foi denunciado por outras cinco pacientes que dizem ter sido abusadas por ele. Uma vítima de 18 anos, que fez a primeira denúncia, procurou atendimento no setor de traumatologia da UPA da Imbiribeira por volta das 9h do dia 21 de fevereiro deste ano, após sofrer um acidente em casa. Ela disse que Kid Nélio chegou a ejacular durante os abusos.

Ontem, pelas redes sociais, outros ex-pacientes, que não procuraram a polícia, comentaram a conduta do suspeito no consultório. “Quando fui ser consultada, ele me tratou muito mal. Fui indicada por outro médico, mas graças a Deus não fiz a minha cirurgia com ele”, relatou uma internauta. “Achei que não fosse ver esse homem nunca mais na minha vida. Tive a sorte de escapar. Agora você vai pagar. Que a justiça seja feita”, escreveu outra mulher. “Tive a infelicidade de cair num ambulatório de traumatologia com esse sujeito. Péssimo profissional, além de muito antiético”, postou um internauta. 

Além da UPA da Imbiribeira, o médico atende em um consultório de um hospital particular do Recife e em uma rede hospitalar de um plano de saúde. As acusações contra ele estão sendo investigadas pela delegada Ana Elisa Sobreira, que foi designada pela gestora do Departamento da Mulher da Polícia Civil de Pernambuco, Gleide Ângelo. O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) abriu sindicância interna para investigar o caso, e o trabalho pode culminar com a cassação do registro.

Com relação aos processos por erro médico, o primeiro tramita na 31ª Vara Civil da Capital e foi distribuído em maio de 2016. Diz respeito a uma denúncia de um policial que passou por uma cirurgia no punho direito e precisou ter o procedimento refeito por outro profissional. O segundo, que chegou ao Poder Judiciário em outubro do mesmo ano, tem como vítima uma mulher. A ação corre na 31ª Vara Cível da Capital.

Em carta à polícia, paciente detalha sessão de abusos

Leia o depoimento entregue à Delegacia da Mulher pela sexta vítima do médico, que afirma ter sofrido violência em 29 de novembro de 2017
“Cheguei à UPA da Imbiribeira por volta das 8h40. Preenchi a ficha e aguardei ser chamada. Foi quando apareceram na tela o número da sala e o meu nome. Eu tinha torcido o pé um dia antes. Quando entrei na sala, ele (o médico Kid Nélio) perguntou o que aconteceu e eu o informei. O mesmo pediu para eu colocar meu pé em cima da perna dele. Não vi necessidade, mas coloquei, achando que seria esse o procedimento. 

Após eu colocar o pé (na perna do médico), ele ficou alisando meu pé e subindo (com a mão) pela perna. Eu dizia que era apenas o pé, que minha perna estava normal. Em seguida, ele me encaminhou para fazer um raio x e disse que, assim que saísse o resultado, eu voltaria para a sala. Após ter feito o exame, voltei para a sala dele. O mesmo sentou-se na cadeira que seria para o paciente e ficou fechando a porta. Sentado na cadeira, impedia a entrada de outros na sala (a cadeira foi usada pelo médico para bloquear a entrada, segundo a vítima). 

O mesmo pediu para que eu ficasse em pé na frente dele. Ele colocou as mãos no meu quadril e me aproximou um pouco mais dele. Pedia para que eu tentasse ficar de ponta de pé e eu informava que não conseguia. Ele falava ‘eu estou lhe segurando, você não vai cair’ e continuava segurando no meu quadril, com parte da mão sobre a minha bunda. 

Eu achei muito estranho. Fiquei nervosa com a situação, e o mesmo insistia que eu fizesse novamente o exercício. Logo em seguida, ele pediu para que eu ficasse de costas para ele. Em pé, ele me segurava pelo peito. Fui ficando cada vez mais nervosa e comecei a me tremer. Eu informava a ele que não conseguia ficar de ponta de pé. Já estava suando de nervosa e ele pedindo para que eu continuasse. Ele estava se esfregando em mim por trás e falando ao meu ouvido. 

Isso continuou por um período entre cinco e sete minutos. Foi quando eu disse que não aguentava mais, que meu pé doía muito. Pedi para ele passar um remédio para que eu tomasse. O mesmo me soltou. Eu fiquei próxima da maca.

Ele pegou o raio x e disse apenas que o tendão estava inflamado. Me encaminhou para a sala de medicação. Quando cheguei à sala, nervosa, perguntei qual o remédio que iria tomar e ela (uma enfermeira) disse que seria dipirona injetável. Eu disse que não ia tomar e pedi minha alta. A enfermeira disse que eu teria que voltar para o médico para informá-lo. Bati na porta da sala dele e nem entrei. Pedi minha alta e disse que queria ir embora. Ele me deu uma requisição com o medicamento para comprar e perguntou se eu estava bem. Eu disse que sim e saí pulando daquele lugar. Tudo aconteceu no dia 29/11/2017. Saí da UPA por volta das 10h20.”

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