José Carlos Dorsa respondia a 10 denúncias cíveis ou criminais decorrentes da Sangue Frio. (Foto: André Bittar/Arquivo) |
Alvo de dez ações judiciais decorrentes da Operação Sangue Frio, entre denúncias cíveis e criminais, o médico José Carlos Dorsa Vieira Pontes, 51, vivia a expectativa de que, dentro de um mês, conseguiria provar sua inocência em um dos processos sobre fraudes em contratações e desvios de recursos no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian. A informação é do advogado Fabrizio Tadeu Severo dos Santos, amigo de Dorsa desde 2002 e que, desde 2012, defendia o médico das acusações relacionadas à “Máfia do Câncer”.
Santos explicou que, agora, aguarda a emissão da certidão de óbito do médico para comunicar à Justiça sobre a morte de Dorsa–ocorrida por volta das 20h de domingo em uma casa de massagem e sauna no Centro de Campo Grande.
Dorsa teria passado mal e sofrido uma convulsão,sendo encontrado no segundo andar do estabelecimento deitado de bruços. Há suspeita de que ele tenha sofrido um ataque cardíaco, porém, a causa da morte só será confirmada em exames que ficarão prontos dentro de 30 dias.
A morte, ainda segundo o advogado, pegou a família de surpresa porque Dorsa estava “no auge da saúde”. “Ele estava atendendo de domingo a domingo”, informou Santos. Consternados, familiares optaram por não falar com a imprensa.
Currículo e acusações – Fabrizio Santos retratou José Carlos Dorsa como “um dos melhores cirurgiões do Brasil”. “Era um homem correto e um profissional brilhante, que foi condenado injustamente. Foi um dos melhores diretores do Hospital Universitário, trazendo melhorias para o prédio e a estrutura do HU”, destacou o advogado.
Os elogios à postura profissional condizem com o currículo do médico. Graduado em 1989 em Medicina pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), instituição na qual viria a ser professor no futuro e é responsável pelo hospital que, mais tarde, viria a administrar, Dorsa era especialista em Cardiologia Clínica e cirurgia, mestre em Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular pela Fundação Cardiovascular São Francisco de Assis –onde também tinha doutorado nesta última área– e tinha ainda especializações pela USP (Universidade de São Paulo) e Sociedade Brasileira de Cardiologia.
O currículo ainda indica um profissional interessado em aperfeiçoamentos, com dezenas de participações e organização em congressos e eventos da área médica e formações complementares.
O brilhantismo, porém, acabou ofuscado pelas acusações advindas da Sangue Frio, na qual Dorsa era suspeito de participar de fraudes na contratação de empresas que prestaram serviços diversos ao HU –de exames ao fornecimento de equipamentos e, até mesmo, refeições. O MPF (Ministério Público Federal) apontou nas acusações que, valendo-se do cargo de diretor do HU, Dorsa agiu para direcionar contratações que não seriam de fato vantajosas para o hospital.
Como resultado, o médico chegou a ter bens bloqueados pela Justiça Federal –responsável em julgar as denúncias sobre o caso. Em paralelo, o médico chegou a alegar em dezembro de 2017 enfrentar dificuldades financeiras em outra ação, mas na esfera estadual, na qual discutia pagamento de honorários em perícia e pedia o parcelamento em três vezes.
O corpo de José Carlos Dorsa está sendo velado no cemitério Parque das Primaveras, em cerimônia restrita à família e amigos. O sepultamento acontecerá no mesmo local, estando previsto para as 16h30.
Fraude – Dorsa também teve sua imagem atingida por denúncia feita pelo MPF, também a partir de provas levantadas na Sangue Frio, envolvendo a morte de uma paciente, em 21 de junho de 2012, decorrente de uma cirurgia cardíaca. Ele foi acusado por falsidade ideológica e uso de documentos falsos para omitirem procedimentos feitos na operação de Maria Domingues Lopes Dias, 65.
No episódio, a paciente morreu em decorrência da perfuração no ventrículo esquerdo, levando parentes a suspeitarem de erro médico. Dorsa e o cardiologista João Jackson declararam em documentos oficiais que a morte se deu por “causa diversa”.
Contudo, interceptações telefônicas feitas durante a Sangue Frio, em 2013, mostraram os médicos combinando o que diriam em relação a um dos procedimentos que não deram certo. Eles também são investigados pelo Conselho Regional de Medicina por emissão de laudo médico fraudulento para embasar suas defesas.
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