Grupo autointitulado 'Doutores da Verdade', que conta com a participação de Clarissa Tércio (PSC), é alvo do Conselho de Medicina. Ministério Público pediu esclarecimentos à entidade.
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| 'Doutores da Verdade' realizam caravanas para consultar pessoas com sintomas de Covid-19 em comunidades do Recife |
O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) está investigando a conduta de médicos que participam do programa “Doutores de Verdade”, que promove tratamento e administração de remédios contra a Covid-19 em comunidades carentes do Recife.
Segundo o conselho, apuração da conduta dos profissionais de saúde, em parceria com uma deputada estadual, é regida pelo Código de Processo Ético (CPEP), estabelecido pelo Conselho Federal de Medicina.
Os “Doutores de Verdade” realizam caravanas em bairros da periferia do Recife e informam, pelas redes sociais, onde serão realizados os atendimentos. Pneumologista, dermatologista e enfermeiros contam com o apoio da deputada estadual Clarissa Tércio (PSC), de 34 anos, que financia parte das ações e divulga pela internet as atividades do grupo.
A atividade também provocou a reação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). A Promotoria de Defesa da Saúde solicitou, na terça-feira (12), que o Cremepe informe que atitude tomou diante da denúncia de distribuição de medicamentos nas caravanas, conhecidas também como “consultórios itinerantes”.
Segundo o Cremepe, todas as investigações serão realizadas sob sigilo “para não atrapalhar as apurações”. O MPPE informou que a entidade de classe terá um prazo para informar como estão as investigações.
Por meio de nota, a promotoria de Justiça da Saúde da Capital informou que “que recebeu uma notícia de fato sobre a atuação de um grupo denominado 'Doutores de Verdade'. A promotoria disse, ainda, que “oficiou o Cremepe para saber que providências o órgão tomou em relação ao fato”.
Entre as ações do grupo "Doutores de Verdade" está a prescrição e distribuição de hidroxicloroquina, que não teve resultados comprovados contra a Covid-19 por estudos científicos. Pesquisas internacionais publicadas nas últimas semanas não encontraram relação entre medicamento e redução da mortalidade por Covid-19.
Na terça (12), o ministro da Saúde, Nelson Teich, escreveu em sua conta no Twitter que a cloroquina apresenta efeitos colaterais e que a prescrição deve ser feita em comum acordo entre paciente e médico. Um dos principais efeitos colaterais do remédio são complicações cardíacas (veja vídeo acima).
Secretário
Durante coletiva transmitida pela internet, nesta quarta, o secretário estadual de Saúde, André Longo, falou sobre a distribuição de hidroxidocloroquina em alguns locais do estado.
"A gente lamenta muito que algumas pessoas tenham passado a distribuir hidroxicloroquina em alguns lugares inadequados. Acho que isso já está sendo alvo de investigação do Conselho Regional de Medicina [Cremepe], porque tinha a participação, infelizmente, de alguns profissionais de saúde, inclusive médicos", afirmou.
Para longo o programa "precisa ser melhor avaliado". Segundo ele, "é preciso ter as mínimas condições de segurança na utilização de medicamentos como este".
Atendimentos
Na segunda-feira (11), a caravana do “Doutores de Verdade” esteve em Casa Amarela, na Zona Norte do Recife. Segundo a chefe de gabinete da deputada Clarissa Tércio, Elaine Maciel, cerca de 150 pessoas foram atendidas.
De acordo com a assessora parlamentar, a ideia de fazer as caravanas surgiu no início da pandemia, quando a deputada decidiu que “ajudaria as comunidades".
"Em abril, ela doou parte do salário para compra dos medicamentos, inclusive a cloroquina. A gente tinha o interesse e os médicos precisavam de apoio. Assim foram feitas as pontes para o projeto", comentou Elaine Maciel.
Nas redes sociais, Clarisse posta fotos e textos para defender o medicamento e as atividades com o grupo de médicos.
Mais reação
Além da investigação aberta pelo Cremepe e do pedido feito pelo MPPE, houve outras reações contra as atividades do grupo "Doutores de Verdade".
A advogada Dani Portela informou que protocolou, na terça (12), uma denúncia no MPPE, na ouvidoria do Cremepe e na comissão de saúde da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), pedindo que fosse investigada a caravana e a relação com a deputada estadual Clarissa Tércio com a promoção do uso do remédio.
De acordo com Portela, "essa divulgação precisa ser investigada pelos órgãos competentes, para averiguar se as condutas se encaixam nas diretrizes da Organização Mundial da Saúde".
Para a advogada, "a divulgação feita por médicos e por uma pessoa pública, sem que a eficácia do remédio tenha sido confirmada, pode dar uma falsa impressão de segurança, o que pode ser um risco para a população."
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